O Povo Indígena Panará teme o Covid 19

O Povo Indígena Panará teme o Covid 19

O Povo Indígena Panará teme o Covid 19

“O tempo em que todo morreu”. Após surto de gripe na década de 1970, Panará temem Covid-19

Esta notícia está associada ao Programa: Xingu
Quase cinco décadas após o contato oficial, quando a população de 450 pessoas foi reduzida a 79, os Panará se preocupam que o novo Coronavírus chegue ao seu território
“Se chegar aqui vai acabar com todos nós”, afirma Akã Panará, em áudio enviado da aldeia Nãnsepotiti, Indígena Panará (PA), ao se referir à pandemia da Covid-19. Quase cinco décadas após o contato oficial de seu povo, quando a população estimada entre 450 e 400 pessoas caiu para 79 por conta de surtos de gripe, os se preocupam que a possa se repetir.
Já são 14 mil casos do novo coronavírus confirmados no Pará, e 103 entre indígenas no Brasil, segundo levantamento da Articulação dos do Brasil (Apib). Em Guarantã do Norte, cidade referência para os Panará, já foi contabilizada uma e dois casos.

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Com a memória viva do “tuk pirê ha” ou “o tempo em que todo mundo morreu”, Akã, liderança histórica dos Panará que sobreviveu à doença na época do contato teme que o vírus chegue ao seu território: “Nós pegamos mas conseguimos sobreviver, nós já passamos pela doença. Poucas pessoas conseguiram sobreviver, mas estamos aqui até hoje. Essa doença apareceu de novo, estou muito preocupado”.

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Akã Panará em registro feito em 1994
Estimada entre 450 e 400 pessoas antes do contato em 1973, segundo o antropólogo Richard Heelas, a população caiu para indivíduos em 1975. A epidemia chegou com a BR-163, rodovia que começou a ser construída em 1971 como parte do Plano de Integração Nacional do Governo Militar, e cortou o território dos Panará ao meio.

“Nós estávamos em nossas matas e vivíamos bem e sadios até os não-indígenas aparecerem. De repente eles apareceram com sua estrada enorme, a BR-163, no meio da aldeia antiga Kwêpô”, diz um trecho do Protocolo de Consulta do povo Panará. A instalação das frentes de obras trouxe surtos de gripe e a valorização das terras, a atração de correntes migratórias e a especulação fundiária provocaram consequências trágicas para os indígenas.
“Os brancos chegaram. Todos os Panará morreram, lá nas casas novas. A tosse, catarro e dor de peito matou mesmo todo mundo. Morreu todo mundo, e os outros saíram… Minha mãe morreu, então, lá em Yopuyúpaw. Meu irmão e minha mãe morreram assim, lá nas casas novas. Os outros partiram e morreu todo mundo no caminho. Ficaram morrendo, e acabou. Não enterravam. Estavam fracos para enterrar os mortos. Estavam muito doentes e por isso não enterraram. Apodreceram todos no chão. Os urubus comeram todos no chão, pois não enterraram”, conta Akã, em depoimento ao antropólogo Stephan Schwartzman em 1991. [Conheça a história no livro “Panará: a volta dos índios gigantes”]
Em novembro de 1994, Teseya Panará e as mulheres Sàrkyarasà, Kyütakriti e Swakie, constituíram, um por um, a lista de Panará mortos por doenças epidêmicas entre 1973 e 1975. A lista contabiliza 176 indivíduos mortos na época.
“Uma lição essencial que precisa ser colocada é que grupos isolados continuam extremamente vulneráveis a esse tipo de epidemia. Medidas coerentes e fortes para proteger essas populações são fundamentais. O Akã não está inventando nada. Seu relato é a experiência amarga e trágica de seu povo. É importante divulgar e trazer atenção do poder público”, alerta Schwartzman.
Os Panará estão respeitando o isolamento social em suas aldeias, mas temem a aproximação do novo coronavírus. Em carta divulgada no último domingo (17), os Panará pedem que a impeça o translado de freteiros na Terra Indígena. “Nós estamos muito preocupados com a chegada de Covid-19 no nosso município de Guarantã do Norte”, diz o .
“Nós não tivemos medo, nós somos fortes, nós somos Panará”
Em 1975 os Panará foram levados ao Parque Indígena do Xingu, hoje conhecido como Território Indígena do Xingu (MT), onde viveram por 20 anos sem nunca deixar de lado o sonho de voltar para seu território tradicional. Finalmente, em 1996, a Terra Indígena Panará foi demarcada.
“Não nos acostumamos com o cerrado e sentíamos muita saudade da floresta e de nossas terras para cultivar. Por este motivo decidimos retornar ao nosso território”, dizem em seu Protocolo de Consulta. Parte de seu território tradicional, no entanto, havia sido “comido pelos não-indígenas” que construíram cidades como Guarantã do Norte, Matupá, Peixoto de Azevedo e Colíder, como os Panará puderam confirmar em uma série de sobrevoos.
“Todos nos disseram que iríamos morrer se voltássemos para nossas terras, que os pistoleiros, os fazendeiros, os garimpeiros e os madeireiros iriam nos matar. Nós não tivemos medo, nós somos fortes, nós somos Panará”, ressaltam no texto. Assim, os Panará passaram a lutar pela demarcação da região nordeste, onde ainda havia porções de floresta, que viria a se tornar a Terra Indígena Panará em 1996.

O processo de retomada do território caminhou junto com uma ação movida em 1994 contra a União por reposição territorial e perdas e danos aos indígenas. Em 2000, em decisão inédita, o Tribunal Regional Federal da 3ª Região deu ganho de causa aos Panará, condenando por unanimidade a União e a Funai a pagar uma indenização pelo trágico contato. Esta foi a primeira e única decisão do Judiciário brasileiro a reconhecer a responsabilidade do estado com relação à sua política para os índios.
Após o retorno, houve um expressivo crescimento demográfico. Em 1997, a população somava 178 pessoas, hoje são quase 600 vivendo em seis aldeias – Sõnkârãsãn, Kresãn, Sõnkwê, Nãnsêpotiti, Kôtikô e Kanaã. “Para cá nos mudamos, refizemos nossas roças redondas e retomamos nosso tamanho populacional anterior ao extermínio praticado pelos não-indígenas”, diz o texto.
Fonte: ISA


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UMA REVISTA PRA CHAMAR DE NOSSA

Era novembro de 2014. Primeiro fim de semana. Plena campanha da Dilma. Fim de tarde na RPPN dele, a Linda Serra dos Topázios. Jaime e eu começamos a conversar sobre a falta que fazia termos acesso a um veículo independente e democrático de informação.

Resolvemos fundar o nosso. Um espaço não comercial, de resistência. Mais um trabalho de militância, voluntário, por suposto. Jaime propôs um jornal; eu, uma revista. O nome eu escolhi (ele queria Bacurau). Dividimos as tarefas. A capa ficou com ele, a linha editorial também.

Correr atrás da grana ficou por minha conta. A paleta de cores, depois de larga prosa, Jaime fechou questão – “nossas cores vão ser o vermelho e o amarelo, porque revista tem que ter cor de luta, cor vibrante” (eu queria verde-floresta). Na paz, acabei enfiando um branco.

Fizemos a primeira edição da Xapuri lá mesmo, na Reserva, em uma noite. Optamos por centrar na pauta socioambiental. Nossa primeira capa foi sobre os povos indígenas isolados do Acre: ‘Isolados, Bravos, Livres: Um Brasil Indígena por Conhecer”. Depois de tudo pronto, Jaime inventou de fazer uma outra boneca, “porque toda revista tem que ter número zero”.

Dessa vez finquei pé, ficamos com a capa indígena. Voltei pra Brasília com a boneca praticamente pronta e com a missão de dar um jeito de imprimir. Nos dias seguintes, o Jaime veio pra Formosa, pra convencer minha irmã Lúcia a revisar a revista, “de grátis”. Com a primeira revista impressa, a próxima tarefa foi montar o Conselho Editorial.

Jaime fez questão de visitar, explicar o projeto e convidar pessoalmente cada conselheiro e cada conselheira (até a doença agravar, nos seus últimos meses de vida, nunca abriu mão dessa tarefa). Daqui rumamos pra Goiânia, para convidar o arqueólogo Altair Sales Barbosa, nosso primeiro conselheiro. “O mais sabido de nóis,” segundo o Jaime.

Trilhamos uma linda jornada. Em 80 meses, Jaime fez questão de decidir, mensalmente, o tema da capa e, quase sempre, escrever ele mesmo. Às vezes, ligava pra falar da ótima ideia que teve, às vezes sumia e, no dia certo, lá vinha o texto pronto, impecável.

Na sexta-feira, 9 de julho, quando preparávamos a Xapuri 81, pela primeira vez em sete anos, ele me pediu para cuidar de tudo. Foi uma conversa triste, ele estava agoniado com os rumos da doença e com a tragédia que o Brasil enfrentava. Não falamos em morte, mas eu sabia que era o fim.

Hoje, cá estamos nós, sem as capas do Jaime, sem as pautas do Jaime, sem o linguajar do Jaime, sem o jaimês da Xapuri, mas na labuta, firmes na resistência. Mês sim, mês sim de novo, como você sonhava, Jaiminho, carcamos porva e, enfim, chegamos à nossa edição número 100. E, depois da Xapuri 100, como era desejo seu, a gente segue esperneando.

Fica tranquilo, camarada, que por aqui tá tudo direitim.

Zezé Weiss

P.S. Você que nos lê pode fortalecer nossa Revista fazendo uma assinatura: www.xapuri.info/assine ou doando qualquer valor pelo PIX: contato@xapuri.info. Gratidão!

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