O que Elon Musk tem a ver com a tentativa de golpe na Bolívia?
Nesta quarta-feira, dia 26 de junho de 2024, um contingente de militares bolivianos, liderados pelo ex-comandante Juan José Zuñiga, mobilizaram uma tentativa de golpe na cidade de La Paz, capital da Bolívia, chegando a invadir o palácio presidencial.
Por Eduardo Weiss e Maria Letícia M.
O presidente boliviano, Luis Arce, havia destituído o Zuñiga após o ex-comandante ter proferido declarações ameaçando efetuar a prisão do presidente. O ex-comandante já havia ameaçado também o ex-presidente democraticamente eleito Evo Morales, conhecido como o primeiro presidente boliviano indígena e por se impor rigorosamente contra o imperialismo ocidental.
Circula um vídeo do presidente Arce confrontando bravamente as forças golpistas, ordenando-as a se retraírem. Segundo fontes locais, a mobilização de civis e representantes de movimentos sociais a favor do governo superou a presença de militares golpistas.
A tentativa de golpe de estado teve cerca de 4 horas de duração.
Muita gente acredita que as ambições golpistas estão enraizadas nos desejos e anseios de pressões ocidentais pelos recursos naturais bolivianos, sobretudo o lítio.
O LÍTIO BOLIVIANO
A Bolívia possui em seu território a maior concentração de lítio no planeta. Aproximadamente 23 milhões de toneladas encontram-se no sul do país. Segundo o portal Brasil de Fato, “Os Estados Unidos tentam controlar a produção de lítio do país para evitar a concorrência de China e Rússia na região.
Isso ficou ainda mais claro durante uma conferência da Câmara dos Representantes dos EUA em março de 2023. A chefe do Comando Sul, Laura Richardson, disse que o triângulo do lítio é tratado como uma questão de ‘segurança nacional sobre o nosso quintal dos fundos.'”
Embora não se possa fazer uma correlação formal, o minério é componente essencial na fabricação de baterias para carros elétricos como as vendidas pela empresa norte-americana Tesla, dirigida pelo empresário bilionário Elon Musk. Para sustentar a produção de baterias utilizadas por seus carros, a Tesla necessita quantidades massivas de lítio, especialmente agora com o surgimento de novos concorrentes produtores de carros elétricos, como a chinesa BYD. Vale a reflexão.
“NÓS DAMOS GOLPE EM QUEM A GENTE QUISER. LIDA COM ISSO.”
Um ano atrás, no dia 24 de julho de 2020, Elon Musk tuitou uma resposta a um comentário sobre suspeitas de intervenção antidemocrática realizada pelo governo estadunidense cobiçando os campos bolivianos de lítio: “Nós damos golpe em quem a gente quiser. Lida com isso.” O comentário foi subsequentemente apagado, porém prints da publicação circulam pela rede, agora X, empresa também comandada por Musk.
Em 2019, o presidente Luis Arce, logo após a sua eleição, disse em pronunciamento que o seu governo simboliza “o fim do golpe do lítio”.
Com o crescente interesse nos recursos naturais da Bolívia pelo capitalismo ocidental, ao que tudo indica a tentativa de golpe tem a ver, também, com a frustração dos Elon Musk´s da vida e seus lacaios locais pela aproximação ideológica e econômica do país sul-americano com a China.
A derrota das forças golpistas certamente só se somará às frustrações e demonstra o aumento das rachaduras nos fundamentos dos impérios colonialistas. Um viva à democracia!
Eduardo Weiss – Fotógrafo e Sociólogo.
Maria Letícia M. – Colunista da Revista Xapuri.