Sonho de Eder

O SONHO DE ÉDER, JOVEM DO POVO UMUTINA

O sonho de Éder, jovem do povo Umutina

No início do século XX os Umutina foram vítimas da do homem branco. Foram descritos e tidos pelos não índios como agressivos e violentos que impediam, pela força, a invasão de seu território tribal.

Apesar dos efeitos desagregadores advindos do contato, como a perda da língua nativa, de sua terra tradicional e das que causaram um grave decréscimo populacional, esse povo possui um forte sentido de étnica, reconhecendo-se como tradicionais moradores do alto Paraguai, envolvidos atualmente na recuperação de suas manifestações socioculturais tradicionais.

O vídeo retrata A de Eder, universitário e indígena umutina. O povo Umutina, dizimado pelos ataques e doenças decorrentes do contato, busca reconstruir sua . No entanto, a falta de alternativas de subsistência e a forte influência da religião evangélica trazem uma certa melancolia ao sonho de Eder.

O filme foi produzido através do “Amazônia Resiste”, da Agência Pública (apublica.org), com recursos da Climate and Land Use Alliance.tilhar este vídeo.

 

O SONHO DE EDER
Índios Umutina, Alto Paraguai, Mato Grosso. Foto: Harald Schultz, 1943/44/45

Os Umutina foram inicialmente denominados pelos não-índios de ‘Barbados’, devido ao uso, por parte dos homens, de barbas confeccionadas a partir do cabelo de suas ou do pelo do macaco bugio.

O grupo se autodenominava Balotiponé, cujo significado é ‘gente nova’.

Somente após o contato e convivência com os índios Paresí e Nambikwara, em 1930, passaram a ser conhecidos por ‘Umotina’, ‘Omotina’, ou ‘Umutina’ (grafia utilizada desde a década de 40), que significa ‘índio branco’.

Os Umutina não falam mais a língua indígena, classificada como pertencente ao tronco linguístico Macro-Jê, da família Bororo.

Sua perda está associada à violência do contato deste povo com os não índios, ocorrido a partir de 1911.

Após alguns anos muitas epidemias assolaram a região, provocando a morte de quase todos os Umutina.

Os sobreviventes passaram a viver junto aos pacificadores do SPI (Serviço de Proteção ao Índio) que atuavam na região e foram educados em uma escola para índios, que ensinava somente a cultura dos brancos, sendo proibidos de falar sua língua materna e praticar qualquer tipo de atividade relacionada à sua cultura material e imaterial.

Atualmente o Português é a língua predominante, porém os membros da comunidade lutam, por meio do conhecimento dos idosos, de professores e universitários indígenas, para recuperar a língua Umutina.

Em 1862, os Umutina representavam um contingente de cerca de 400 indivíduos. Depois da pacificação ocorrida em 1911, passaram a contar com 300 pessoas, mas oito anos depois, um surto de sarampo reduziu a população para 200 índios, vivendo em difíceis condições

Em 1923, um relatório do SPI (Serviço de Proteção ao Índio) registrou um número superior a 120, e já em 1943 não passavam de 73 indivíduos, cinquenta deles vivendo no posto ‘Fraternidade Indígena’, que até hoje é sede e principal núcleo habitacional. 

Nesta mesma época viviam 23 índios na última aldeia existente no alto do rio Paraguai, norte de Mato Grosso, que ficaram conhecidos como “os independentes”, por recusarem qualquer tipo de contato com os não-índios.

Em apenas dois anos, contudo, uma violenta epidemia de coqueluche e broncopneumonia reduziu seu número para 15 indivíduos, e pouco mais tarde, os poucos sobreviventes se encaminharam também ao posto, onde aconteceu uma série de casamentos intertribais. Segundo a Associação Indígena Umutina Otoparé, sua população em 2009 era estimada em 445 pessoas.

Os Umutina viviam na margem direita do rio Paraguai, aproximadamente entre os rios Sepotuba e Bugres. Sua área de domínio, entretanto, estendia-se desde aquelas paragens até o rio Cuiabá.

O SONHO DE ÉDER, JOVEM DO POVO  UMUTINA
Construção de uma casa tradicional dos Umutina, comunidade Balotiponé, Terra Indígena Umutina, Barra do Bugres, Mato Grosso. Foto: Comunidade Indígena Balotiponé, 2003

Com a chegada dos não-índios os Umutina deixaram a região do Sepotuba e migraram mais para o norte, passando a viver às margens do rio Bugres, por eles denominado Helatinó-pó-pare, afluente do alto Paraguai.

Estão distribuídos em duas aldeias, uma de nome ‘Umutina’, onde vivia a maioria de sua população (420 indivíduos), e a outra, mais recente, é chamada de ‘Balotiponé’, onde moram as outras 25 pessoas, divididas em cinco famílias [dados de 2009].

As aldeias estão localizadas na Terra Indígena Umutina, em uma área de 28.120 hectares homologada em 1989, nos municípios de Barra do Bugres e Alto Paraguai, entre os rios Paraguai e Bugres, em Mato Grosso. A TI está situada em uma faixa de transição da Amazônia e do , sendo que este último compreende a maior parte do território.

Fonte: Pib Socioambiental 

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UMA REVISTA PRA CHAMAR DE NOSSA

Era novembro de 2014. Primeiro fim de semana. Plena campanha da Dilma. Fim de tarde na RPPN dele, a Linda Serra dos Topázios. Jaime e eu começamos a conversar sobre a falta que fazia termos acesso a um veículo independente e democrático de informação.

Resolvemos fundar o nosso. Um espaço não comercial, de resistência. Mais um trabalho de militância, voluntário, por suposto. Jaime propôs um jornal; eu, uma revista. O nome eu escolhi (ele queria Bacurau). Dividimos as tarefas. A capa ficou com ele, a linha editorial também.

Correr atrás da grana ficou por minha conta. A paleta de cores, depois de larga prosa, Jaime fechou questão – “nossas cores vão ser o vermelho e o amarelo, porque revista tem que ter cor de luta, cor vibrante” (eu queria verde-floresta). Na paz, acabei enfiando um branco.

Fizemos a primeira edição da Xapuri lá mesmo, na Reserva, em uma noite. Optamos por centrar na pauta socioambiental. Nossa primeira capa foi sobre os povos indígenas isolados do Acre: ‘Isolados, Bravos, Livres: Um Brasil Indígena por Conhecer”. Depois de tudo pronto, Jaime inventou de fazer uma outra boneca, “porque toda revista tem que ter número zero”.

Dessa vez finquei pé, ficamos com a capa indígena. Voltei pra Brasília com a boneca praticamente pronta e com a missão de dar um jeito de imprimir. Nos dias seguintes, o Jaime veio pra Formosa, pra convencer minha irmã Lúcia a revisar a revista, “de grátis”. Com a primeira revista impressa, a próxima tarefa foi montar o Conselho Editorial.

Jaime fez questão de visitar, explicar o projeto e convidar pessoalmente cada conselheiro e cada conselheira (até a doença agravar, nos seus últimos meses de vida, nunca abriu mão dessa tarefa). Daqui rumamos pra Goiânia, para convidar o arqueólogo Altair Sales Barbosa, nosso primeiro conselheiro. “O mais sabido de nóis,” segundo o Jaime.

Trilhamos uma linda jornada. Em 80 meses, Jaime fez questão de decidir, mensalmente, o tema da capa e, quase sempre, escrever ele mesmo. Às vezes, ligava pra falar da ótima ideia que teve, às vezes sumia e, no dia certo, lá vinha o texto pronto, impecável.

Na sexta-feira, 9 de julho, quando preparávamos a Xapuri 81, pela primeira vez em sete anos, ele me pediu para cuidar de tudo. Foi uma conversa triste, ele estava agoniado com os rumos da doença e com a tragédia que o Brasil enfrentava. Não falamos em morte, mas eu sabia que era o fim.

Hoje, cá estamos nós, sem as capas do Jaime, sem as pautas do Jaime, sem o linguajar do Jaime, sem o jaimês da Xapuri, mas na labuta, firmes na resistência. Mês sim, mês sim de novo, como você sonhava, Jaiminho, carcamos porva e, enfim, chegamos à nossa edição número 100. E, depois da Xapuri 100, como era desejo seu, a gente segue esperneando.

Fica tranquilo, camarada, que por aqui tá tudo direitim.

Zezé Weiss

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