O sonho de Éder, jovem do povo Umutina
No início do século XX os Umutina foram vítimas da violência do homem branco. Foram descritos e tidos pelos não índios como indígenas agressivos e violentos que impediam, pela força, a invasão de seu território tribal.
Apesar dos efeitos desagregadores advindos do contato, como a perda da língua nativa, de sua terra tradicional e das doenças que causaram um grave decréscimo populacional, esse povo possui um forte sentido de identidade étnica, reconhecendo-se como tradicionais moradores do alto Paraguai, envolvidos atualmente na recuperação de suas manifestações socioculturais tradicionais.
O vídeo retrata A história de Eder, universitário e indígena umutina. O povo Umutina, dizimado pelos ataques e doenças decorrentes do contato, busca reconstruir sua cultura. No entanto, a falta de alternativas de subsistência e a forte influência da religião evangélica trazem uma certa melancolia ao sonho de Eder.
O filme foi produzido através do projeto “Amazônia Resiste”, da Agência Pública (apublica.org), com recursos da Climate and Land Use Alliance.tilhar este vídeo.
Os Umutina foram inicialmente denominados pelos não-índios de ‘Barbados’, devido ao uso, por parte dos homens, de barbas confeccionadas a partir do cabelo de suas mulheres ou do pelo do macaco bugio.
O grupo se autodenominava Balotiponé, cujo significado é ‘gente nova’.
Somente após o contato e convivência com os índios Paresí e Nambikwara, em 1930, passaram a ser conhecidos por ‘Umotina’, ‘Omotina’, ou ‘Umutina’ (grafia utilizada desde a década de 40), que significa ‘índio branco’.
Os Umutina não falam mais a língua indígena, classificada como pertencente ao tronco linguístico Macro-Jê, da família Bororo.
Sua perda está associada à violência do contato deste povo com os não índios, ocorrido a partir de 1911.
Após alguns anos muitas epidemias assolaram a região, provocando a morte de quase todos os Umutina.
Os sobreviventes passaram a viver junto aos pacificadores do SPI (Serviço de Proteção ao Índio) que atuavam na região e foram educados em uma escola para índios, que ensinava somente a cultura dos brancos, sendo proibidos de falar sua língua materna e praticar qualquer tipo de atividade relacionada à sua cultura material e imaterial.
Atualmente o Português é a língua predominante, porém os membros da comunidade lutam, por meio do conhecimento dos idosos, de professores e universitários indígenas, para recuperar a língua Umutina.
Em 1862, os Umutina representavam um contingente de cerca de 400 indivíduos. Depois da pacificação ocorrida em 1911, passaram a contar com 300 pessoas, mas oito anos depois, um surto de sarampo reduziu a população para 200 índios, vivendo em difíceis condições
Em 1923, um relatório do SPI (Serviço de Proteção ao Índio) registrou um número superior a 120, e já em 1943 não passavam de 73 indivíduos, cinquenta deles vivendo no posto ‘Fraternidade Indígena’, que até hoje é sede e principal núcleo habitacional.
Nesta mesma época viviam 23 índios na última aldeia existente no alto do rio Paraguai, norte de Mato Grosso, que ficaram conhecidos como “os independentes”, por recusarem qualquer tipo de contato com os não-índios.
Em apenas dois anos, contudo, uma violenta epidemia de coqueluche e broncopneumonia reduziu seu número para 15 indivíduos, e pouco mais tarde, os poucos sobreviventes se encaminharam também ao posto, onde aconteceu uma série de casamentos intertribais. Segundo a Associação Indígena Umutina Otoparé, sua população em 2009 era estimada em 445 pessoas.
Os Umutina viviam antigamente na margem direita do rio Paraguai, aproximadamente entre os rios Sepotuba e Bugres. Sua área de domínio, entretanto, estendia-se desde aquelas paragens até o rio Cuiabá.
Com a chegada dos não-índios os Umutina deixaram a região do Sepotuba e migraram mais para o norte, passando a viver às margens do rio Bugres, por eles denominado Helatinó-pó-pare, afluente do alto Paraguai.
Estão distribuídos em duas aldeias, uma de nome ‘Umutina’, onde vivia a maioria de sua população (420 indivíduos), e a outra, mais recente, é chamada de ‘Balotiponé’, onde moram as outras 25 pessoas, divididas em cinco famílias [dados de 2009].
As aldeias estão localizadas na Terra Indígena Umutina, em uma área de 28.120 hectares homologada em 1989, nos municípios de Barra do Bugres e Alto Paraguai, entre os rios Paraguai e Bugres, em Mato Grosso. A TI está situada em uma faixa de transição da Amazônia e do Cerrado, sendo que este último compreende a maior parte do território.
Fonte: Pib Socioambiental