O tapa de Will Smith e o cuspe de Jean Wyllys
Atos de rebeldia contra opressões e silenciamentos históricos, reações a discursos dominantes que impulsionam violências cotidianas contra minorias oprimidas
Diego Ricoy/Brasil247
Certamente você deve se lembrar do cuspe que o ex-deputado Jean Wyllys deu em Bolsonaro em 2016. Mas qual a sua relação com o tapa que o ator Will Smith deu no rosto de seu colega de profissão, Chris Rock?
Diego Ricoy/Brasil247
Certamente você deve se lembrar do cuspe que o ex-deputado Jean Wyllys deu em Bolsonaro em 2016. Mas qual a sua relação com o tapa que o ator Will Smith deu no rosto de seu colega de profissão, Chris Rock?
Pois bem. Comecemos pelo seguinte: esses dois casos não são tipos de violência qualquer. Não são atos que devam ser vistos como puramente bárbaros, selvagens, incivilizados. Não é o mesmo que um policial agredir o favelado, ou um marido agredir a esposa. Afinal, esses últimos são exemplos de agressões exercidas por forças de ideias dominantes produzidas por grupos também dominantes: racismo, machismo, xenofobia, aporofobia, homofobia… discursos de ódio e intolerância em geral.
Já as de Wyllys e de Smith são atos de rebeldia contra opressões e silenciamentos históricos, reações a discursos dominantes que impulsionam violências cotidianas contra minorias oprimidas. São, na verdade, reações às violências simbólicas.
Segundo o sociólogo francês Pierre Bourdieu, grupos dominantes produzem uma cultura também dominante, composta de sistemas simbólicos que são impostos de forma arbitrária a toda a sociedade. Assim, padrões de comportamentos sociais são definidos por essa “cultura legítima”. Eles acabam se tornando quase que uma segunda pele do indivíduo, dificultando a percepção de violências por conta da naturalização de nossos comportamentos e condutas morais.
É por isso que muitas vezes a dor do outro acaba sendo reduzida ao que se tornou costume chamar de “mimimi”, já que ela não é visível a olho nu. Neste sentido, sob o pretexto da defesa da liberdade de expressão, muitos grupos e indivíduos promovem agressões a minorias sociais por meio de ações que Bourdieu considera como “violências simbólicas”: a imposições de valores culturais que reproduzem opressões em forma de piadas, discursos politicamente incorretos etc. É a dominação cultural e a eficácia das ideias dominantes, portanto, que legitima essas ações violentas.
Já as de Wyllys e de Smith são atos de rebeldia contra opressões e silenciamentos históricos, reações a discursos dominantes que impulsionam violências cotidianas contra minorias oprimidas. São, na verdade, reações às violências simbólicas.
Segundo o sociólogo francês Pierre Bourdieu, grupos dominantes produzem uma cultura também dominante, composta de sistemas simbólicos que são impostos de forma arbitrária a toda a sociedade. Assim, padrões de comportamentos sociais são definidos por essa “cultura legítima”. Eles acabam se tornando quase que uma segunda pele do indivíduo, dificultando a percepção de violências por conta da naturalização de nossos comportamentos e condutas morais.
É por isso que muitas vezes a dor do outro acaba sendo reduzida ao que se tornou costume chamar de “mimimi”, já que ela não é visível a olho nu. Neste sentido, sob o pretexto da defesa da liberdade de expressão, muitos grupos e indivíduos promovem agressões a minorias sociais por meio de ações que Bourdieu considera como “violências simbólicas”: a imposições de valores culturais que reproduzem opressões em forma de piadas, discursos politicamente incorretos etc. É a dominação cultural e a eficácia das ideias dominantes, portanto, que legitima essas ações violentas.
Portanto, cabe destacar que quando alguém diz que “a violência não nos leva a lugar algum” como forma de desaprovar tais ações, o que essa pessoa faz é equiparar de modo muito equivocado os atos de Wyllys e de Smith aos de violências cotidianas. Que fique claro: não há simetria entre esses episódios. Como bem nos lembra Michel Foucault: onde há poder, há resistência, e onde se exerce o poder, se constituem também contrapoderes. Assim, não dá para dizer que Jean Wyllys e Will Smith se precipitaram em seus atos. O cuspe e o tapa foram usados como instrumentos de reação ao modus operandi da cultura dominante, que oprime cotidianamente as minorias sociais.
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