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PARA ONDE CAMINHA A JUVENTUDE NEGRA?

PARA ONDE CAMINHA A JUVENTUDE NEGRA?

Para onde caminha a juventude negra?

“Se quer falar comigo,

então fala direito,

fala direito!”

Karol com K em “Tombei”

Para onde caminha a juventude negra do Brasil? No País de Rafael Braga, a luta em prol da igualdade se apresenta como principal resposta à segregação e ao extermínio de negros e negras, instaurados por aqui desde os tempos do Império.

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O acesso à educação gratuita e de qualidade, à possibilidade de ocupar posições relevantes no serviço público e a construção de políticas que visam à equidade social permitem que os/as jovens negros/as, público-alvo da violência e do encarceramento, se percebam como potencial agente de transformação da sociedade brasileira, tão racista, machista e sexista.

Assim, por meio da luta organizada e da constante mobilização, ativistas denunciam e combatem o racismo, cobrando ações de governo, promovendo a conscientização e fomentando o empoderamento dessa juventude. Nesse contexto, o engajamento de artistas e o surgimento de lideranças jovens dão à causa ainda mais visibilidade e reforçam a trincheira dos/das que defendem um país mais consciente.

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O ator Lázaro Ramos e a Rapper Karol Com Ka são exemplos da positiva adesão. O primeiro, que recentemente lançou o livro “Na minha Pele”, onde relata experiências pessoais e reflete sobre temas como Racismo e Formação de identidade e gênero, desponta, de acordo com escolha recente, como um dos 51 negros mais influentes do mundo.

Ao lado da companheira, a também atriz Taís Araújo, Lázaro tem-se posicionado veementemente contra o racismo e em favor de políticas de promoção da igualdade. A cantora paranaense Karol Conka, tornou-se símbolo da resistência por não apenas contar, mas por posicionar-se politicamente em busca do empoderamento das mulheres negras.

Nas redes sociais e no ambiente acadêmico, o surgimento dos chamados coletivos colabora com a formação e a produção intelectual dessa militância jovem, talentosa e ávida por conquistar. O Levante Negro, por exemplo, é um coletivo de caráter informativo e se encarrega da divulgação do trabalho de profissionais negros/as de diversas áreas do conhecimento como medicina, educação e direito.

Dessa forma, expõe uma representatividade concreta a fim de que sirva de inspiração principalmente para jovens negros/as em início de carreira. Já o Blogueiras Negras é uma plataforma colaborativa que permite a comunicação entre mulheres negras. Na página, é possível escrever sobre os mais variados temas de interesse, num debate de altíssimo nível e cheio de grandes ideias.

O fato é que a nossa juventude está organizada e uníssona no coro dos inconformados/as com essa sociedade que, ainda hoje, persegue, prende e mata o/a jovem negro e negra. Seja na grande mídia, nas redes sociais, nas universidades e nas relações de trabalho, essa mocidade resiste, corajosamente, pra dizer não ao racismo e à desigualdade.

E um VIVA à juventude NEGRA, VIVA e organizada!

Iêda Leal – Secretária de combate ao racismo da CNTE, Coordenadora do C. R. Lélia Gonzales, Tesoureira do Sintego e Vice-presidente da CUT – GO

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UMA REVISTA PRA CHAMAR DE NOSSA

Era novembro de 2014. Primeiro fim de semana. Plena campanha da Dilma. Fim de tarde na RPPN dele, a Linda Serra dos Topázios. Jaime e eu começamos a conversar sobre a falta que fazia termos acesso a um veículo independente e democrático de informação.

Resolvemos fundar o nosso. Um espaço não comercial, de resistência. Mais um trabalho de militância, voluntário, por suposto. Jaime propôs um jornal; eu, uma revista. O nome eu escolhi (ele queria Bacurau). Dividimos as tarefas. A capa ficou com ele, a linha editorial também.

Correr atrás da grana ficou por minha conta. A paleta de cores, depois de larga prosa, Jaime fechou questão – “nossas cores vão ser o vermelho e o amarelo, porque revista tem que ter cor de luta, cor vibrante” (eu queria verde-floresta). Na paz, acabei enfiando um branco.

Fizemos a primeira edição da Xapuri lá mesmo, na Reserva, em uma noite. Optamos por centrar na pauta socioambiental. Nossa primeira capa foi sobre os povos indígenas isolados do Acre: ‘Isolados, Bravos, Livres: Um Brasil Indígena por Conhecer”. Depois de tudo pronto, Jaime inventou de fazer uma outra boneca, “porque toda revista tem que ter número zero”.

Dessa vez finquei pé, ficamos com a capa indígena. Voltei pra Brasília com a boneca praticamente pronta e com a missão de dar um jeito de imprimir. Nos dias seguintes, o Jaime veio pra Formosa, pra convencer minha irmã Lúcia a revisar a revista, “de grátis”. Com a primeira revista impressa, a próxima tarefa foi montar o Conselho Editorial.

Jaime fez questão de visitar, explicar o projeto e convidar pessoalmente cada conselheiro e cada conselheira (até a doença agravar, nos seus últimos meses de vida, nunca abriu mão dessa tarefa). Daqui rumamos pra Goiânia, para convidar o arqueólogo Altair Sales Barbosa, nosso primeiro conselheiro. “O mais sabido de nóis,” segundo o Jaime.

Trilhamos uma linda jornada. Em 80 meses, Jaime fez questão de decidir, mensalmente, o tema da capa e, quase sempre, escrever ele mesmo. Às vezes, ligava pra falar da ótima ideia que teve, às vezes sumia e, no dia certo, lá vinha o texto pronto, impecável.

Na sexta-feira, 9 de julho, quando preparávamos a Xapuri 81, pela primeira vez em sete anos, ele me pediu para cuidar de tudo. Foi uma conversa triste, ele estava agoniado com os rumos da doença e com a tragédia que o Brasil enfrentava. Não falamos em morte, mas eu sabia que era o fim.

Hoje, cá estamos nós, sem as capas do Jaime, sem as pautas do Jaime, sem o linguajar do Jaime, sem o jaimês da Xapuri, mas na labuta, firmes na resistência. Mês sim, mês sim de novo, como você sonhava, Jaiminho, carcamos porva e, enfim, chegamos à nossa edição número 100. E, depois da Xapuri 100, como era desejo seu, a gente segue esperneando.

Fica tranquilo, camarada, que por aqui tá tudo direitim.

Zezé Weiss

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