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ONU: PL do Veneno é ameaça a uma série de direitos humanos

‘Uma ameaça a uma série de direitos humanos’, diz ONU sobre ‘PL do Veneno’

Em carta enviada ao governo, organização alerta que 5 dos 10 pesticidas mais vendidos no Brasil não são autorizados em diversos outros países devido a seus riscos à saúde humana ou ecossistemas.

Por Luiza Belloni

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“As mudanças podem enfraquecer significativamente os critérios para aprovação de pesticidas”, ressaltou a ONU | WESTEND61 VIA GETTY IMAGES

A Organização das Nações Unidas (ONU) divulgou na noite da última quarta-feira (11) o comunicado enviado ao governo brasileiros em que manifesta preocupação com o Projeto de Lei 6299/02, que sugere uma série de mudanças na atual Lei dos Agrotóxicos, batizado por ativistas e críticos de “Pacote do Veneno”.

Na carta enviada em junho, relatores das Nações Unidas alertam que as mudanças, caso sejam aprovadas, podem violar direitos humanos de trabalhadores rurais, comunidades locais e consumidores de alimentos produzidos com ajuda de agrotóxicos.

“As mudanças podem enfraquecer significativamente os critérios para aprovação do uso experimental e comercial de pesticidas, representando uma ameaça a uma série de direitos humanos”, disseram os especialistas no relatório enviado ao chanceler brasileiro, Aloysio Nunes Ferreira, e ao presidente da Câmara, Rodrigo Maia.

Relatores apontam que o PL torna mais flexível uma série de regras para o uso e registro de produtos tóxicos no País — o que poderia enfraquecer a regulação e o controle de produtos perigosos, além de aumentar seu consumo no Brasil e no mundo, já que o Brasil é um grande exportador de alimentos.

A carta ainda cita dados do Ministério da Saúde. Apenas no ano de 2017 foram registrados 5.501 casos de intoxicação com agrotóxicos, o que representa uma média de 15 pessoas intoxicadas por dia. O número é quase o dobre do registrado 10 anos atrás. Destes casos, 150 pessoas morreram no Brasil como resultado do envenenamento apenas no ano passado. A carta complementa:

Trata-se de uma estimativa conservadora sobre os impactos adversos desses produtos na saúde humana, diante dos dados limitados disponíveis sobre envenenamentos e impactos na saúde de exposição crônica a pesticidas perigosos.

A ONU também lembrou que cinco dos 10 pesticidas mais vendidos no Brasil (são eles: Atrazina, Acefato, Carbendazim, Paraquat, Imidacloprida) não são autorizados em diversos outros países devido a seus riscos à saúde humana ou ecossistemas.

“Enquanto a União Europeia limita em 0,1 miligrama por litro a quantidade máxima de glifosfato a ser encontrada na água potável, o Brasil permite 5 mil vezes mais, de acordo com dados da academia brasileira”, ressaltou o texto publicado ontem.

Aprovação de pesticidas pelo Ministério da Agricultura

Um dos pontos criticados no projeto, a ONU alertou sobre o perigo de concentrar a fiscalização e aprovação de novos produtos no Ministério da Agricultura. Atualmente, a aprovação e o registro requerem o aval das autoridades federais de saúde, meio ambiente e agricultura: Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária), Ibama (Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis) e Ministério da Agricultura.

O texto retira essa atribuição da Anvisa e do Ibama, que apenas poderiam dar “apoio técnico” ao Ministério da Agricultura.

“As preocupações se referem ao fato de que as enormes capacidades financeiras do lobby da agricultura no Brasil poderiam facilmente controlar as decisões adotadas com este novo arranjo institucional”, disseram os especialistas da ONU.

“O uso de agrotóxicos afeta não somente a agricultura, mas traz claros riscos para a saúde humana e para o meio ambiente, devendo a competência de avaliação dos riscos provocados nessas áreas ser exercida pelos órgão correlatos”, criticou a Anvisa em nota publicada em junho deste ano. A agência ainda afirma que o projeto desvaloriza e desmonta todo o trabalho da agência e do PARA (Programa de Análise de Resíduos de Agrotóxicos em Alimentos) que avaliam continuamente os níveis de resíduos de agrotóxicos nos alimentos consumidos pela população, inclusive coletando alimentos nas redes atacadistas e varejistas — trabalho que não é feito pelo Ministério da Agricultura.

O Ibama também enviou ao Ministério do Ambiente no final de abril uma nota técnica afirmando que as mudanças propostas são “inviáveis ou desprovidas de adequada fundamentação técnica e, até mesmo, contrariam determinação Constitucional”.

Sentido oposto do mundo

Os especialistas da ONU alertaram que, apesar de diversos países incentivarem e investirem cada vez mais na agricultura orgânica, o Brasil continua estimulando o uso de agrotóxicos por meio de incentivos fiscais.

O decreto 7.660 de dezembro de 2011, exemplifica a carta, estabeleceu total de isenção fiscal para produtos industrializados para a produção e venda de pesticidas, e o acordo 100/97 do Conselho Nacional de Política Fazendária (Confaz) reduz em 60% a base usada para calcular impostos sobre a circulação de bens e serviços para produtos utilizados na agricultura, como o agrotóxico.

“Estamos preocupados com o fato de que as múltiplas mudanças propostas às diretrizes legais e institucionais existentes para os pesticidas no Brasil enfraqueçam significativamente os mecanismos de proteção que são vitais para garantir os direitos humanos dos trabalhadores da agricultura, das comunidades vivendo em áreas onde os pesticidas são usados e da população que consome alimentos produzidos com o apoio desses produtos químicos”, concluíram os especialistas.

A Comissão Especial na Câmara aprovou o PL no dia 25 de junho, em meio à Copa e a portas fechadas. Ele segue agora para ser apreciado pelo plenário da Câmara, ainda sem data para a votação.

ANOTE AÍ

Fonte: HUFFPOST Brasil

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UMA REVISTA PRA CHAMAR DE NOSSA

Era novembro de 2014. Primeiro fim de semana. Plena campanha da Dilma. Fim de tarde na RPPN dele, a Linda Serra dos Topázios. Jaime e eu começamos a conversar sobre a falta que fazia termos acesso a um veículo independente e democrático de informação.

Resolvemos fundar o nosso. Um espaço não comercial, de resistência. Mais um trabalho de militância, voluntário, por suposto. Jaime propôs um jornal; eu, uma revista. O nome eu escolhi (ele queria Bacurau). Dividimos as tarefas. A capa ficou com ele, a linha editorial também.

Correr atrás da grana ficou por minha conta. A paleta de cores, depois de larga prosa, Jaime fechou questão – “nossas cores vão ser o vermelho e o amarelo, porque revista tem que ter cor de luta, cor vibrante” (eu queria verde-floresta). Na paz, acabei enfiando um branco.

Fizemos a primeira edição da Xapuri lá mesmo, na Reserva, em uma noite. Optamos por centrar na pauta socioambiental. Nossa primeira capa foi sobre os povos indígenas isolados do Acre: ‘Isolados, Bravos, Livres: Um Brasil Indígena por Conhecer”. Depois de tudo pronto, Jaime inventou de fazer uma outra boneca, “porque toda revista tem que ter número zero”.

Dessa vez finquei pé, ficamos com a capa indígena. Voltei pra Brasília com a boneca praticamente pronta e com a missão de dar um jeito de imprimir. Nos dias seguintes, o Jaime veio pra Formosa, pra convencer minha irmã Lúcia a revisar a revista, “de grátis”. Com a primeira revista impressa, a próxima tarefa foi montar o Conselho Editorial.

Jaime fez questão de visitar, explicar o projeto e convidar pessoalmente cada conselheiro e cada conselheira (até a doença agravar, nos seus últimos meses de vida, nunca abriu mão dessa tarefa). Daqui rumamos pra Goiânia, para convidar o arqueólogo Altair Sales Barbosa, nosso primeiro conselheiro. “O mais sabido de nóis,” segundo o Jaime.

Trilhamos uma linda jornada. Em 80 meses, Jaime fez questão de decidir, mensalmente, o tema da capa e, quase sempre, escrever ele mesmo. Às vezes, ligava pra falar da ótima ideia que teve, às vezes sumia e, no dia certo, lá vinha o texto pronto, impecável.

Na sexta-feira, 9 de julho, quando preparávamos a Xapuri 81, pela primeira vez em sete anos, ele me pediu para cuidar de tudo. Foi uma conversa triste, ele estava agoniado com os rumos da doença e com a tragédia que o Brasil enfrentava. Não falamos em morte, mas eu sabia que era o fim.

Hoje, cá estamos nós, sem as capas do Jaime, sem as pautas do Jaime, sem o linguajar do Jaime, sem o jaimês da Xapuri, mas na labuta, firmes na resistência. Mês sim, mês sim de novo, como você sonhava, Jaiminho, carcamos porva e, enfim, chegamos à nossa edição número 100. E, depois da Xapuri 100, como era desejo seu, a gente segue esperneando.

Fica tranquilo, camarada, que por aqui tá tudo direitim.

Zezé Weiss

P.S. Você que nos lê pode fortalecer nossa Revista fazendo uma assinatura: www.xapuri.info/assine ou doando qualquer valor pelo PIX: contato@xapuri.info. Gratidão!

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