Oração do Milho – Sou a planta humilde dos quintais pequenos e das lavouras pobres…
Por Cora Coralina
Sou a planta humilde dos quintais pequenos e das lavouras pobres.
Meu grão, perdido por acaso, nasce e cresce na terra descuidada. Ponho folhas e haste e se me ajudares Senhor, mesmo planta de acaso, solitária, dou espigas e devolvo em muitos grãos o grão perdido inicial, salvo por milagre, que a terra fecundou.
Sou a planta primária da lavoura.
Não me pertence a hierarquia tradicional do trigo. E, de mim, não se faz o pão alvo, universal.
O Justo não me consagrou Pão da Vida, nem lugar me foi dado
nos altares.
Sou apenas o alimento forte e substancial dos que trabalham a terra, onde não vinga o trigo nobre.
Sou de origem obscura e de ascendência pobre. Alimento de rústicos e animais do jugo.
Fui o angu pesado e constante do escravo na exaustão do eito.
Sou a broa grosseira e modesta do pequeno sitiante. Sou a farinha econômica do proletário.
Sou a polenta do imigrante e a miga dos que começam a vida em terra estranha.
Sou apenas a fartura generosa e despreocupada dos paióis.
Sou o cocho abastecido donde rumina o gado
Sou o canto festivo dos galos na glória do dia que amanhece.
Sou o cacarejo alegre das poedeiras à volta dos seus ninhos.
Sou a pobreza vegetal, agradecida a Vós, Senhor, que me fizeste necessária e humilde
SOU O MILHO.
SOBRE CORA CORALINA
A poetisa e contista Anna Lins dos Guimarães Peixoto Bretas, a nossa Cora Coralina, nasceu na Cidade de Goiás, a 20 de agosto de 1889 e faleceu em Goiânia, capital do estado de Goiás, em 10 de abril de 1985
Cora Coralina publicou seu primeiro livro Poemas dos Becos de Goiás e outras Estórias Mais, em junho de 1965, aos 76 anos de idade. Mesmo assim, a mulher que, de profissão, foi doceira, é considerada uma das mais importantes escritoras brasileiras.
Desde sua “Casa Velha da Ponte“, onde viveu sua fase temporã de escritora famosa, Cora produziu uma literatura rica nas vivências de seu cotidiano entre os becos de Goiás, e, com isso, fez história longe dos modismos urbanos.
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