Oração pela Libertação dos Povos Indígenas
Não se aparam largas asas
Que o céu é liberdade
E a fé é encontrá-la.
Pra que o espírito ruim da mata
Não provoque a fraqueza, a miséria e a morte.
Pra que essas roupas rotas
E esses homens maus
Se acabem ao toque dos maracás.
Ajudai a unidade entre as nações.
Alumiai homens, mulheres e crianças,
Apagai entre os fortes a inveja e a ingratidão.
Evitai, Ó Tupã, a violência e a matança.
Num lugar sagrado junto ao igarapé.
Os espíritos das rochas para dançarmos o Toré.
Uma resistência de vida
Após bebermos nossa chicha com fé.
Pra que venham onças, caititus, siriemas e capivaras
Cingir rios Jurema, São Francisco ou Paraná.
Porque pacíficos somos, no entanto.
Alumiai pro futuro nossa estrela
Ajudai a tocar as flautas mágicas
Pra vos cantar uma cantiga de oferenda
Ou dançar num ritual Iamaká.
No Nordeste, no Sul toda manhã.
Vinde em nosso encontro
Meu Deus, NHENDIRU !
Que de barrigas índias vão renascer.
Porque só pedimos terra e paz
Pra nossas pobres – essas ricas crianças.
ELIANE POTIGUARA
Eliane Lima dos Santos, nascida no Rio de Janeiro em 29 de setembro de 1950, é professora escritora,ativista e empreendedora indígena.
Fundadora da Rede Grumin de Mulheres Indígenas. Foi uma das 52 brasileiras indicadas para o projeto internacional “Mil Mulheres para o Prêmio Nobel da Paz”. Formada em Letras, licenciou-se em Educação pela Universidade Federal do Rio de Janeiro.
Participou de vários seminários sobre Direitos Indígenas na Organização das Nações Unidas, em organizações governamentais e ONGs nacionais e internacionais.
Em 1977 casou-se com cantor Taiguara(1945-1996),que foi o pai dos seus filhos.
Foi nomeada uma das “Dez Mulheres do Ano de 1988” pelo Conselho das Mulheres do Brasil, por ter criado a primeira organização de mulheres indígenas no país: o Grumin (Grupo Mulher-Educação Indígena), e por ter trabalhado pela educação e integração da mulher indígena no processo social, político e econômico no país e por ter trabalhado na elaboração da Constituição brasileira de 1988.
Com uma bolsa que conquistou da ASHOKA em 1989 (Empreendedores Sociais) e mais o seu salário de professora e o apoio de Betinho/IBASE e os recursos do Programa de Combate ao Racismo, (o mesmo que apoiava Nelson Mandela), pode prosseguir a sua luta, além de sustentar e cuidar de seus três filhos, hoje adultos.
Organizou em Nova Iguaçu, no Rio de Janeiro, em 1991 um encontro com a participação de mais de 200 mulheres indígenas de várias regiões, tendo como convidados especiais a cantora Baby Consuelo e vários líderes indígenas internacionais. Organizou vários cursos referentes à Saúde e Diretos reprodutivos das mulheres indígenas e foi consultora de outros encontros sobre o tema.
ANOTE: Nhendiru – Deus/ Mintã – criança