Oração pela Libertação dos Povos Indígenas

Oração pela Libertação dos Povos Indígenas

Oração pela Libertação dos Povos Indígenas
Dai-nos cada dia de esperança/Porque só pedimos terra e paz/Pra nossas pobres – essas ricas crianças…
Por Eliane Potiguara
Parem de podar as minhas folhas e tirar minha enxada
Basta de afogar as minhas crenças e torar minha raiz.Cessem de arrancar os meus pulmões e sufocar minha razãoChega de matar minhas cantigas e calar minha voz.Não se seca a raíz de quem tem sementesEspalhadas pela terra pra brotar.Não se apaga dos avós – rica memóriaVeia ancestral: rituais para se lembrar
Não se aparam largas asas
Que o céu é liberdade
E a fé é encontrá-la.
Rogai por nós, meu pai-Xamã
Pra que o espírito ruim da mata
Não provoque a fraqueza, a miséria e a morte.
Rogai por nós – terra nossa mãe
Pra que essas roupas rotas
E esses homens maus
Se acabem ao toque dos maracás.
Afastai-nos das desgraça, da cachaça e da discórdia,
Ajudai a unidade entre as nações.
Alumiai homens, mulheres e crianças,
Apagai entre os fortes a inveja e a ingratidão.
Dai-nos luz, fé, a vida nas pajelanças,
Evitai, Ó Tupã, a violência e a matança.
Num lugar sagrado junto ao igarapé.
Nas noites de lua cheia, ó MARÇAL, chamai
Os espíritos das rochas para dançarmos o Toré.
Trazei-nos nas festas da mandioca e pajés
Uma resistência de vida
Após bebermos nossa chicha com fé.
Rogai por nós, aves-dos-céus
Pra que venham onças, caititus, siriemas e capivaras
Cingir rios Jurema, São Francisco ou Paraná.
Cingir até os mares do Atlântico
Porque pacíficos somos, no entanto.
Mostrai nossa caminho feito boto
Alumiai pro futuro nossa estrela
Ajudai a tocar as flautas mágicas
Pra vos cantar uma cantiga de oferenda
Ou dançar num ritual Iamaká.
Rogai por nós, ave-Xamã
No Nordeste, no Sul toda manhã.
No Amazonas, agreste ou no coração da cunhã.
Rogai por nós, araras, pintados ou tatus,
Vinde em nosso encontro
Meu Deus, NHENDIRU !
Fazei feliz nossa mintã
Que de barrigas índias vão renascer.
Dai-nos cada dia de esperança
Porque só pedimos terra e paz
Pra nossas pobres – essas ricas crianças.
Oração pela Libertação dos Povos Indígenas
 

BIOGRAFIA DE ELIANE POTIGUARA

Eliane Lima dos Santos, nascida no Rio de Janeiro em 29 de setembro de 1950, é professora escritora,ativista e empreendedora indígena.
Fundadora da Rede Grumin de Mulheres Indígenas. Foi uma das 52 brasileiras indicadas para o projeto internacional “Mil Mulheres para o Prêmio Nobel da Paz”. Formada em Letras, licenciou-se em Educação pela Universidade Federal do Rio de Janeiro.
Participou de vários seminários sobre Direitos Indígenas na Organização das Nações Unidas, em organizações governamentais e ONGs nacionais e internacionais.
Em 1977 casou-se com cantor Taiguara(1945-1996),que foi o pai dos seus filhos.
Foi nomeada uma das “Dez Mulheres do Ano de 1988” pelo Conselho das Mulheres do Brasil, por ter criado a primeira organização de mulheres indígenas no país: o Grumin (Grupo Mulher-Educação Indígena), e por ter trabalhado pela educação e integração da mulher indígena no processo social, político e econômico no país e por ter trabalhado na elaboração da Constituição brasileira de 1988.

Oração pela Libertação dos Povos Indígenas
Com uma bolsa que conquistou da ASHOKA em 1989 (Empreendedores Sociais) e mais o seu salário de professora e o apoio de Betinho/IBASE e os recursos do Programa de Combate ao Racismo, (o mesmo que apoiava Nelson Mandela), pode prosseguir a sua luta, além de sustentar e cuidar de seus três filhos, hoje adultos. Em 1990, foi a primeira mulher indígena a conseguir uma petição no 47º Congresso dos Índios Norte-Americanos, no Novo México, para ser apresentada às Nações Unidas.
Neste Congresso reuniram-se mais de 1500 indígenas americanos. Desse modo, participou durante anos, da elaboração da “Declaração Universal dos Direitos Indígenas”, na ONU, em Genebra. Por esse trabalho recebeu, em 1996, o título de “Cidadania Internacional”, concedido pela organização filosófica Iraniana Baha’i, que milita pela implantação da Paz Mundial.
É defensora dos Direitos Humanos, tendo sido criadora do primeiro jornal indígena, de boletins conscientizadores e de uma cartilha de alfabetização indígena dentro do método Paulo Freire com o apoio da Unesco.
Organizou em Nova Iguaçu, no Rio de Janeiro, em 1991 um encontro com a participação de mais de 200 mulheres indígenas de várias regiões, tendo como convidados especiais a cantora Baby Consuelo e vários líderes indígenas internacionais. Organizou vários cursos referentes à Saúde e Diretos reprodutivos das mulheres indígenas e foi consultora de outros encontros sobre o tema.
Em 1992 foi co-fundadora/pensadora do Comitê Inter-Tribal 500 Anos (“kari-oka”), por ocasião da Conferência Mundial da ONU sobre Meio-Ambiente, junto com Marcos Terena, Idjarruri Karajá e muitos outros líderes indígenas do país, além de ter participado de dezenas de Assembléias indígenas em todo o Brasil.
Discutiu a questão dos Direitos Indígenas em vários fóruns nacionais e internacionais, governamentais e não governamentais, propondo diversas diretrizes e estratégias de ordem político-econômica, inclusive no fórum sobre o Plano Piloto para a Amazônia, em Luxemburgo, em 1999.
No final de 1992, por seu espírito de luta, traduzido na sua obra “A Terra é a Mãe do Índio”, foi premiada pelo Pen Club da Inglaterra, no mesmo momento em que Caco Barcelos  (“Rota 66”) e ela estavam sendo citados na lista dos “Marcados para Morrer”, anunciados no Jornal Nacional da Rede Globo de Televisão, em rede nacional, por terem denunciado esquemas duvidosos e violação dos direitos humanos e indígenas.
Em 1995, na China, no Tribunal das Histórias Não Contadas e Direitos Humanos das Mulheres/Conferência da ONU, narrou a história de sua família que emigrou das terras paraibanas na década de 1920 por ação violenta dos neo-colonizadores e as conseqüências físicas e morais desta violência à dignidade histórica de seu bisavô, avós e descendentes.
Contou também o terror físico, moral e psicológico pelo qual passou ao buscar a verdade, além de sofrer abuso sexual, violência psicológica e humilhação por ser detida pela Polícia Federal por estar defendendo os povos indígenas, seus parentes, do racismo e exploração. O seu nome foi caluniado na imprensa do estado da Paraíba.
Foi Conselheira da Fundação Palmares/Minc, e “fellow” da organização internacional ASHOKA, dirigente do Grumin e membro do Women´s Writes World. Participou de 56 fóruns internacionais e para mais de 100 nacionais culminando na Conferência Mundial contra o Racismo na África do Sul, em 2001 e outro fórum sobre os Povos Indígenas em Paris, em 2004.
Integra o Comitê Consultivo do Projeto Mulher: 500 anos atrás dos panos, que culminou no Dicionário mulheres do Brasil. A sua mais recente obra é intitulada “Metade Cara, Metade Máscara” e aborda a questão indígena no Brasil.
Fonte da biografia de Eliane Potiguara: Wikepedia. Fonte da oração de Eliane Potiguara: O Mundo de Gaia
ANOTE: Nhendiru – Deus/ Mintã – criança

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