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Os bichos de pena: pássaros e passarinhos

Os bichos de pena: pássaros e passarinhos

Os bichos de pena: pássaros e passarinhos

As aves são conhecidas pelos seringueiros da Amazônia como bichos de pena. Todos os bichos de pena botam ovos e voam. Alguns voam alto, outros baixo, uns voam em socos, mas todos voam. 

Por Manuela Carneiro da Cunha e Mauro Almeida

“Todo bicho de pena, quem choca é o macho, mas isso só vale para os bichos da mata; dos bichos de criação, quem choca é a fêmea. Pode acontecer de algum bicho da mata que quem choca é a fêmea, mas é difícil.” (seu Lico). 

Todos os bichos de pena têm visão apurada: “Bicho de cabelo sente mais cheiro e escuta melhor do que vê; bicho de pena enxerga bem (principalmente saracura e macucau), mas não escuta direito e o faro também não é muito bom.” (seu Lico).

O amplo grupo de aves é dividido, conforme o tamanho, em duas grandes categorias: os pássaros e os passarinhos. Os informantes explicam como classificar: “Da juriti pra cima, são pássaros. Os menores que a juriti são passarinhos.” (seu Lico). 

Em alguns casos, as famílias correspondem a determinado gênero pela classificação biológica científica, e as qualidades são equivalentes às espécies. Outras vezes, as etnofamílias correspondem diretamente às espécies, e as qualidades são variações da própria espécie. 

Na maioria dos casos, são reunidos grupos muito distantes entre si pela classificação científica, mas há sempre uma lógica de agrupamento. Isso ocorre porque as características não são “pesadas”, ou seja, os grupos não são comparados por um parâmetro único. 

Podem ocorrer as duas categorias – pássaros e passarinhos – numa mesma família, como entre os tucanos. Na verdade, a categoria dos passarinhos define-se em oposição à categoria das embiaras: somente os pássaros são utilizados como alimento ou caça.

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UMA REVISTA PRA CHAMAR DE NOSSA

Era novembro de 2014. Primeiro fim de semana. Plena campanha da Dilma. Fim de tarde na RPPN dele, a Linda Serra dos Topázios. Jaime e eu começamos a conversar sobre a falta que fazia termos acesso a um veículo independente e democrático de informação.

Resolvemos fundar o nosso. Um espaço não comercial, de resistência. Mais um trabalho de militância, voluntário, por suposto. Jaime propôs um jornal; eu, uma revista. O nome eu escolhi (ele queria Bacurau). Dividimos as tarefas. A capa ficou com ele, a linha editorial também.

Correr atrás da grana ficou por minha conta. A paleta de cores, depois de larga prosa, Jaime fechou questão – “nossas cores vão ser o vermelho e o amarelo, porque revista tem que ter cor de luta, cor vibrante” (eu queria verde-floresta). Na paz, acabei enfiando um branco.

Fizemos a primeira edição da Xapuri lá mesmo, na Reserva, em uma noite. Optamos por centrar na pauta socioambiental. Nossa primeira capa foi sobre os povos indígenas isolados do Acre: ‘Isolados, Bravos, Livres: Um Brasil Indígena por Conhecer”. Depois de tudo pronto, Jaime inventou de fazer uma outra boneca, “porque toda revista tem que ter número zero”.

Dessa vez finquei pé, ficamos com a capa indígena. Voltei pra Brasília com a boneca praticamente pronta e com a missão de dar um jeito de imprimir. Nos dias seguintes, o Jaime veio pra Formosa, pra convencer minha irmã Lúcia a revisar a revista, “de grátis”. Com a primeira revista impressa, a próxima tarefa foi montar o Conselho Editorial.

Jaime fez questão de visitar, explicar o projeto e convidar pessoalmente cada conselheiro e cada conselheira (até a doença agravar, nos seus últimos meses de vida, nunca abriu mão dessa tarefa). Daqui rumamos pra Goiânia, para convidar o arqueólogo Altair Sales Barbosa, nosso primeiro conselheiro. “O mais sabido de nóis,” segundo o Jaime.

Trilhamos uma linda jornada. Em 80 meses, Jaime fez questão de decidir, mensalmente, o tema da capa e, quase sempre, escrever ele mesmo. Às vezes, ligava pra falar da ótima ideia que teve, às vezes sumia e, no dia certo, lá vinha o texto pronto, impecável.

Na sexta-feira, 9 de julho, quando preparávamos a Xapuri 81, pela primeira vez em sete anos, ele me pediu para cuidar de tudo. Foi uma conversa triste, ele estava agoniado com os rumos da doença e com a tragédia que o Brasil enfrentava. Não falamos em morte, mas eu sabia que era o fim.

Hoje, cá estamos nós, sem as capas do Jaime, sem as pautas do Jaime, sem o linguajar do Jaime, sem o jaimês da Xapuri, mas na labuta, firmes na resistência. Mês sim, mês sim de novo, como você sonhava, Jaiminho, carcamos porva e, enfim, chegamos à nossa edição número 100. E, depois da Xapuri 100, como era desejo seu, a gente segue esperneando.

Fica tranquilo, camarada, que por aqui tá tudo direitim.

Zezé Weiss

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