Os povos originários nos ensinam o Bem-Viver
Nas tradições indígenas de Abya Yala, nome indígena para o nosso continente índio-americano, ao invés de “viver melhor” se fala em “bem-viver” e “bem com-viver”. Essas categorias entraram nas constituições da Bolívia e do Equador como objetivo social a ser perseguido pelo Estado e por toda a sociedade.
O “viver melhor” supõe uma ética do progresso ilimitado e nos incita a uma competição com os outros para criar mais e mais condições para isso. Entretanto, para que uma minoria possa “viver melhor”, milhões têm que viver mal. É a contradição capitalista.
O “bem-viver” andino visa a uma ética da suficiência e da decência para toda a comunidade, e não para o indivíduo, supõe uma visão holística e integradora do ser humano, inserido na grande comunidade terrenal que conta, além do ser humano, com o ar, a água, os solos, as montanhas, as árvores, e os animais.
A preocupação central não é acumular. A Mãe Terra nos fornece tudo do que precisamos. Nosso trabalho supre o que ela não pode nos dar ou a ajudamos a produzir o suficiente e decente para todos, também para os animais e as plantas. “Bem-viver” é estar em permanente harmonia e em equilíbrio com o todo.
O “bem-viver” nos convida a não consumir mais do que o ecossistema pode suportar, a evitar a produção de resíduos que não podem ser absorvidos com segurança pela natureza e nos incita a reutilizar e a reciclar tudo o que tivermos usado. Será um consumo reciclável, sóbrio e frugal. E não haverá escassez.
Os povos originários se fazem nossos mestres e doutores. Povos humildes, mas profundamente arraigados ao chão da vida, respeitosos de todos os seres e sintonizados com cada sinal que a natureza dá. Eles nos apontam para um tipo de comportamento e de uma forma de viver que nos poderá devolver a alegria de ser e a esperança de que a tragédia que se anuncia se transforme numa crise que nos purifica e nos fará melhores.