Os rios aéreos da Amazônia
A preocupação com o desmatamento da Amazônia não deve ser apenas dos povos da floresta. Os mais respeitados estudos sobre mudança climática informam que a Amazônia é decisiva para a fertilidade das terras do Centro-Oeste, Sul e Sudeste do Brasil, além do norte argentino. Tudo por causa da umidade transportada para essas regiões.
O professor Antonio Donato Nobre, do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), apresentou no final de 2016 um trabalho em que faz a revisão de mais de 200 estudos sobre o clima e a Amazônia. Denominado O futuro climático da Amazônia, o relatório é um alerta impressionante sobre as consequências da destruição de nossa maior floresta.
Um dos segredos revelados é que no Brasil, ao contrário de outros países, não existem desertos na faixa do Trópico de Capricórnio (Centro-Sul). O motivo para a manutenção de círculos hidrológicos amigáveis nessa região é a Floresta Amazônica.
Basta olhar para o lado, onde o poder regulatório da umidade amazônica não chega por causa da barreira natural dos Andes. Ali está o deserto do Atacama, no Chile. Na mesma faixa ficam as maiores cidades do Brasil: São Paulo e Rio de Janeiro.
No relatório, o ecossistema amazônico é definido como uma bomba biótica, impulsionando umidade pelo céu do país e funcionando como o coração do ciclo hidrológico. São os chamados “rios aéreos”, que despejam mais água no Centro-Sul do Brasil do que o rio Amazonas despeja no Oceano Atlântico.
Para o cientista, é preciso um esforço urgente para reverter a destruição do ecossistema amazônico.
Felício Pontes Jr. – Procurador da República. Autor livro “Povos da Floresta Esperança”, Repam-Paulinas, 2017.