Os rostos, os olhos, os sorrisos
Com rugas, sem rugas
Brancos, negros
Queimados de sol
Com sardas
Maquiados
Feitos a laser
óxido ou ácido
Hialurônico
Perfeitos ou imperfeitos
Com plástica
Com pintas
Com sardas
Vitiligo….
Eram todos rostos.
Os olhos
azuis, verdes, cor de mel, violeta, acinzentados…
Eram olhos
Agora podem se chamar medo – medo colorido
Com essa ou outra melanina
Os sorrisos
ah, o sorriso
Tímido que fosse
Lembro-me bem…
Era tão reconfortante
Olhar para um estranho
e receber um sorriso
Aqui ou em outro país
Sorriso era sorriso
uma conexão
Forte e humana.
Agora, sem o rosto,
isolados, cobertos
De dúvida, angústia
Sorrisos encobertos
Por máscaras
Desfiguram
O ser
O humano
O desumano
desdenha:
É uma gripezinha
A mídia conta e reconta
Dados.
Curva sobe. Tem o pico
Um que se salva
Milhares que se vão
Vida vira estatística
E meu ser poético chora
Quero sorrisos
no meu povo.
Quero meu avatar
da alegria
voltando
Quero viver
Sem androides, mutantes…
Sem essa mistura de puro pavor
No recôndito do meu peito
Nostalgia e saudade.
Iêda Vilas-Bôas – 10/04/2020