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Os solos do Cerrado

Os solos do

Em 1948, Waibel estudou a vegetação e o uso da no do e, ao constatar que dentro de áreas muito limitadas, sob as mesmas condições climatológicas, pode-se encontrar uma grande variedade de tipos de vegetação, concluiu que eles dependem principalmente das condições edáficas, as quais por sua vez dependem das rochas que originam os solos…

Por Altair Sales Barbosa

O mesmo autor, baseando-se nos conceitos dos agricultores locais, afirma que há dois grandes tipos de solos nas áreas dos ; os solos de matas e os solos de campos. Análises têm sempre revelado que os de campos são sempre mais pobres dos que os de matas.

Alvim e Araújo (1952) são autores que também destacam a importância do solo para a compreensão dos cerrados e afirmam, por exemplo, que a distribuição dessa paisagem dentro de sua região fitogeográfica é aparentemente controlada pelo solo, mais que por qualquer outro valor ecológico. Segundo esses autores, as plantas dos cerrados parecem ser tolerantes a um baixo teor de cálcio e a um PH baixo, o que não permite o crescimento de árvores típicas das florestas.

Arens (1958) admite que o pronunciado xeromorfismo (escleromorfismo foliar) do cerrado seja uma consequência das condições oligotróficas dos solos, que são geralmente ácidos e empobrecidos em bases trocáveis.  Afirma que um dos fatores principais seja provavelmente a relativa escassez de nitrogênio assimilável, que pode originar o escleromorfismo oligotrófico, fazendo com que a vegetação peculiar do cerrado seja selecionada pela deficiência de minerais, tendo-se adaptado à mesma.

Em posterior (1963-1971), o mesmo autor afirma que as deficiências minerais limitam o crescimento e, em consequência, causam acúmulos de carboidratos. O excesso de açúcares é utilizado para a formação de cutículas espessas, de esclerênquima, para a produção, em resumo, de estruturas que dão à planta o caráter escleromorfo.

Goodland (1969), ao estudar os solos do Triângulo Mineiro, estabelece uma relação entre os gradientes de fertilidade do solo com as diversas fisionomias do cerrado. Variam do cerradão ao campo limpo do cerrado os seguintes fatores: PH, percentagem de e nitrogênio, matéria orgânica, teor Ca++, Mg++, K+, Al+++, percentagem de alumínio, fosfatos e relação C/N.

Assim, o solo do cerradão ocupa a extremidade mais alta do gradiente por apresentar teores elevados de matéria orgânica (N, P, K) Ca, Mg, PH mais alto, baixa relação C/N e quantidades menores de alumínio.

Há uma estreita relação entre a orgânico-mineral do solo e as fisionomias do cerrado; o xeromorfismo resulta também em grande parte de carência de micronutrientes do solo. Essa carência, ou oligrotrofismo, limita o uso dos produtos da fotossíntese, os quais foram acumulados em diversas partes das plantas, dando-lhes o aspecto escleromórfico.

Também o nanismo das plantas do cerrado é atribuído à carência de micronutrientes como N-P-S, que são indispensáveis para a síntese das proteínas que entram no normal de novos tecidos (Kuhlmann 1983).

Altair Sales Barbosa – Arqueólogo. Ecólogo, em “Andarilhos da Claridade”, Católica, 2002.

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UMA REVISTA PRA CHAMAR DE NOSSA

Era novembro de 2014. Primeiro fim de semana. Plena campanha da Dilma. Fim de tarde na RPPN dele, a Linda Serra dos Topázios. Jaime e eu começamos a conversar sobre a falta que fazia termos acesso a um veículo independente e democrático de informação.

Resolvemos fundar o nosso. Um espaço não comercial, de resistência. Mais um trabalho de militância, voluntário, por suposto. Jaime propôs um jornal; eu, uma revista. O nome eu escolhi (ele queria Bacurau). Dividimos as tarefas. A capa ficou com ele, a linha editorial também.

Correr atrás da grana ficou por minha conta. A paleta de cores, depois de larga prosa, Jaime fechou questão – “nossas cores vão ser o vermelho e o amarelo, porque revista tem que ter cor de luta, cor vibrante” (eu queria verde-floresta). Na paz, acabei enfiando um branco.

Fizemos a primeira edição da Xapuri lá mesmo, na Reserva, em uma noite. Optamos por centrar na pauta socioambiental. Nossa primeira capa foi sobre os povos indígenas isolados do Acre: ‘Isolados, Bravos, Livres: Um Brasil Indígena por Conhecer”. Depois de tudo pronto, Jaime inventou de fazer uma outra boneca, “porque toda revista tem que ter número zero”.

Dessa vez finquei pé, ficamos com a capa indígena. Voltei pra Brasília com a boneca praticamente pronta e com a missão de dar um jeito de imprimir. Nos dias seguintes, o Jaime veio pra Formosa, pra convencer minha irmã Lúcia a revisar a revista, “de grátis”. Com a primeira revista impressa, a próxima tarefa foi montar o Conselho Editorial.

Jaime fez questão de visitar, explicar o projeto e convidar pessoalmente cada conselheiro e cada conselheira (até a doença agravar, nos seus últimos meses de vida, nunca abriu mão dessa tarefa). Daqui rumamos pra Goiânia, para convidar o arqueólogo Altair Sales Barbosa, nosso primeiro conselheiro. “O mais sabido de nóis,” segundo o Jaime.

Trilhamos uma linda jornada. Em 80 meses, Jaime fez questão de decidir, mensalmente, o tema da capa e, quase sempre, escrever ele mesmo. Às vezes, ligava pra falar da ótima ideia que teve, às vezes sumia e, no dia certo, lá vinha o texto pronto, impecável.

Na sexta-feira, 9 de julho, quando preparávamos a Xapuri 81, pela primeira vez em sete anos, ele me pediu para cuidar de tudo. Foi uma conversa triste, ele estava agoniado com os rumos da doença e com a tragédia que o Brasil enfrentava. Não falamos em morte, mas eu sabia que era o fim.

Hoje, cá estamos nós, sem as capas do Jaime, sem as pautas do Jaime, sem o linguajar do Jaime, sem o jaimês da Xapuri, mas na labuta, firmes na resistência. Mês sim, mês sim de novo, como você sonhava, Jaiminho, carcamos porva e, enfim, chegamos à nossa edição número 100. E, depois da Xapuri 100, como era desejo seu, a gente segue esperneando.

Fica tranquilo, camarada, que por aqui tá tudo direitim.

Zezé Weiss

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