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Oxênti – Mulher Do Beco

Oxênti – Mulher Do Beco

Ôxenti era daquelas mulheres nascidas nas entranhas do sertão nordestino – trabalhadeira e com o sorriso constante no rosto. Mulher de beleza esplendorosa, simples e romântica. Sonhava apenas com o dia que iria aparecer um sertanejo forte e honesto para se casar. O homem que a defenderia de tudo, até das intempéries da natureza.

Não demorou muito para ele aparecer. Apaixonou-se e casou-se com direito a festa e sanfona a noite inteira. Mas a felicidade durou pouco, pois logo depois o pai de Ôxenti faleceu. Deixou as terras para a filha e o marido. Foi ai que tudo mudou. O marido já foi vendendo a propriedade e a criação. Levou a mulher para morar em Ribeirão Preto, no estado de São Paulo. Lá tudo foi piorou. O homem não conseguia emprego e ocupava seu tempo bebendo. Ôxenti trabalhava duro e sempre que voltava pra casa, o marido estava bêbado e violento. Até que pirou de vez. Ele a esperava em um beco, a espancava e quando chegavam em casa, fingia para a mulher que nada tinha acontecido.

Ôxenti jamais aceitaria passar por isso. Um dia, ao sair para o trabalho, lembrou-se do carinho que os pais tinham um pelo outro e por ela. E da vida tranquila que tinha lá no sertão. Foi lhe subindo um sangue, um rancor e um ódio sem controle. Ela sentiu que seu coração ia explodir. Mas de repente ela ficou leve, quase voando.

Ôxenti colocou seu gibão e chapéu de couro e ficou a espreita do seu agressor no beco. Quando ele apareceu ela deu-lhe um belo sopapo nos olhos. A moça parecia bem maior, os cabelos soltos davam um ar assustador à sombra dela. Emitia gritos ensurdecedores de fúria e batia no marido com toda a força. Quando o homem ia conseguir escapar, Ôxenti deixou a luz iluminar seu rosto para ser reconhecida.

O marido assustado correu para casa. E logo a polícia bateu em sua porta trazendo a notícia da morte de Ôxenti. O maior espanto foi saber que ocorrera de manhãzinha, ainda quando a moça ia ao trabalho. Disseram que morreu com um ataque do coração.

Depois do ocorrido começaram a aparecer na cidade diversos casos de homens agredidos naquele beco escuro. Todos eles haviam batido numa mulher algum dia e contavam desesperados sobre a mulher gigante de gibão e cabelos esvoaçantes que os havia atacado.

(Essa lenda nos foi lembrada por: Carolina Borges – SP)

Fonte: Sacizal dos Pererês

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UMA REVISTA PRA CHAMAR DE NOSSA

Era novembro de 2014. Primeiro fim de semana. Plena campanha da Dilma. Fim de tarde na RPPN dele, a Linda Serra dos Topázios. Jaime e eu começamos a conversar sobre a falta que fazia termos acesso a um veículo independente e democrático de informação.

Resolvemos fundar o nosso. Um espaço não comercial, de resistência. Mais um trabalho de militância, voluntário, por suposto. Jaime propôs um jornal; eu, uma revista. O nome eu escolhi (ele queria Bacurau). Dividimos as tarefas. A capa ficou com ele, a linha editorial também.

Correr atrás da grana ficou por minha conta. A paleta de cores, depois de larga prosa, Jaime fechou questão – “nossas cores vão ser o vermelho e o amarelo, porque revista tem que ter cor de luta, cor vibrante” (eu queria verde-floresta). Na paz, acabei enfiando um branco.

Fizemos a primeira edição da Xapuri lá mesmo, na Reserva, em uma noite. Optamos por centrar na pauta socioambiental. Nossa primeira capa foi sobre os povos indígenas isolados do Acre: ‘Isolados, Bravos, Livres: Um Brasil Indígena por Conhecer”. Depois de tudo pronto, Jaime inventou de fazer uma outra boneca, “porque toda revista tem que ter número zero”.

Dessa vez finquei pé, ficamos com a capa indígena. Voltei pra Brasília com a boneca praticamente pronta e com a missão de dar um jeito de imprimir. Nos dias seguintes, o Jaime veio pra Formosa, pra convencer minha irmã Lúcia a revisar a revista, “de grátis”. Com a primeira revista impressa, a próxima tarefa foi montar o Conselho Editorial.

Jaime fez questão de visitar, explicar o projeto e convidar pessoalmente cada conselheiro e cada conselheira (até a doença agravar, nos seus últimos meses de vida, nunca abriu mão dessa tarefa). Daqui rumamos pra Goiânia, para convidar o arqueólogo Altair Sales Barbosa, nosso primeiro conselheiro. “O mais sabido de nóis,” segundo o Jaime.

Trilhamos uma linda jornada. Em 80 meses, Jaime fez questão de decidir, mensalmente, o tema da capa e, quase sempre, escrever ele mesmo. Às vezes, ligava pra falar da ótima ideia que teve, às vezes sumia e, no dia certo, lá vinha o texto pronto, impecável.

Na sexta-feira, 9 de julho, quando preparávamos a Xapuri 81, pela primeira vez em sete anos, ele me pediu para cuidar de tudo. Foi uma conversa triste, ele estava agoniado com os rumos da doença e com a tragédia que o Brasil enfrentava. Não falamos em morte, mas eu sabia que era o fim.

Hoje, cá estamos nós, sem as capas do Jaime, sem as pautas do Jaime, sem o linguajar do Jaime, sem o jaimês da Xapuri, mas na labuta, firmes na resistência. Mês sim, mês sim de novo, como você sonhava, Jaiminho, carcamos porva e, enfim, chegamos à nossa edição número 100. E, depois da Xapuri 100, como era desejo seu, a gente segue esperneando.

Fica tranquilo, camarada, que por aqui tá tudo direitim.

Zezé Weiss

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