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PAI, A PRESENÇA DE TODOS OS DIAS

PAI, A PRESENÇA DE TODOS OS DIAS

Presença 

Pai de ternura, com filho nos braços
pai de trabalho pela vida inteira
pai afetivo de íntimos laços
pai que ultrapassa todas as barreiras
 
Pai de tristezas, de dores, cansaços,
de romper terras, de romper fronteiras
pai de alegrias de ser um pedaço
de experiências lá da vez primeira
 
Pai que carrega lá dentro da alma 
a paciência, a compaixão, a calma
ou a saudade que não renuncia
 
Pai de equívocos, de triste
pai de labutas, pai de resistência,
pai, a presença de todos os dias!
 
António Victor – Poeta Formosense
 
É impossível falar de música sertaneja sem se lembrar de representantes da era de ouro do movimento caipira, como Zé Mulato & Cassiano, Chico Rey & Paraná e Milionário & José Rico. Muitas das canções entoadas por essas duplas, contudo, têm mais em comum do que o lugar cativo no cancioneiro popular.
 
 
O que as une é o talento do poeta e compositor Antonio Victor. Desconhecido do grande público, mas personagem crucial dessa história, é de autoria do goiano hinos sertanejos ainda hoje reverenciados pela nova geração.

O nome de Antonio Victor, 61 anos, voltou a ser lembrado pelos fãs do estilo raiz no Dia das Mães (10/05/2020), durante a live do cantor Leonardo com o filho Zé Felipe. O dueto relembrou a clássica Alma Transparente, imortalizada por Chico Rey & Paraná, emocionando os seguidores veteranos e impressionando aqueles para quem a letra soa como inédita.

PAI, A PRESENÇA DE TODOS OS DIAS
Reprodução/Metrópoles

O Metrópoles encontrou o compositor da faixa e descobriu uma vida de superação e vitória nos bastidores do mercado fonográfico. “Leonardo é um artista de extremo carisma e enorme talento. Conheci-o ainda na dupla com o irmão Leandro, no início de sua carreira, mas ele, já em carreira solo, só viria a me gravar nos anos 2000”, contou o compositor.

Nascido e criado a 79 quilômetros de , em (GO), Antonio Victor teve a paixão por literatura e poesia manifestada ainda na infância. “Filho de analfabetos funcionais, abri caminhos na raça, porque não havia incentivo e as condições eram precárias”, lembra o único de seis irmãos a concluir o curso superior. Formado em letras pela Universidade de Brasília (UnB), atualmente é professor da Secretaria de Estado de do Distrito Federal.

Antonio já compunha desde os 19 anos de idade quando lançou o primeiro livro de poemas, Cicatrizes da Alma. Mas só aos 25 emplacou um hit no rótulo de um disco de vinil. Foi em 1983, com a música Operário, Vida, Viola, que entrou para o repertório e deu título ao terceiro álbum de Chico Rey & Paraná.

O sucesso dos versos foi tamanho que Operário, Vida, Viola foi regravada por Milionário & José Rico, em uma versão feita exclusivamente para entrar na trilha sonora do filme Sonhei Com Você (1988), que teve a dupla como protagonista. “[Lançar a música] foi tão importante quanto a sensação de ter um filho. Ela me abriu portas, me fez sair do anonimato artístico, me deu as maiores alegrias”, ressalta o poeta.

De lá para cá não parou mais, o compositor passou a ser requisitado por dezenas de ícones do gênero. No currículo de sucessos estão Você Me Desligou da Sua Vida, gravada solo por Zé Rico; Lembrança de Carreiro, com voz original de Zé Mulato & Cassiano e, recentemente, regravada por Carreiro e Capataz; e Duas Rosas, gravada por Lindomar Castilho.

 
“A inspiração dessa música é exatamente pela consciência de que a raça negra merece respeito, merece honra e merece todas as homenagens, e eu quis privilegiar toda a negritude no gênero feminino”, explica.

O seu desejo maior é ouvir Mulher Negra na voz de Roberto Carlos, e, para conquistar o difícil feito, Antonio tem contado com a torcida de pessoas importantes, como a do próprio maestro do rei, Eduardo Lages.

“Roberto Carlos exerce com muita parcimônia, autonomia e exclusividade a escolha do seu repertório, geralmente assinado por ele mesmo ou em parceria com o também maravilhoso Erasmo, salvo raras exceções. Mas tenho contado com a generosidade e percebo que nomes influentes também vão aderindo à causa”, salienta.

Mesmo que Roberto Carlos não grave a canção, Antonio não desistirá de ver sua letra musicada e imagina outras possíveis vozes para a nova composição, como Martinho da Vila, Neguinho da Beija-Flor e Alexandre Pires. “São nomes igualmente capazes de honrar a mulher negra”, conclui.

PAI, A PRESENÇA DE TODOS OS DIAS
Arquivo Pessoal

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UMA REVISTA PRA CHAMAR DE NOSSA

Era novembro de 2014. Primeiro fim de semana. Plena campanha da Dilma. Fim de tarde na RPPN dele, a Linda Serra dos Topázios. Jaime e eu começamos a conversar sobre a falta que fazia termos acesso a um veículo independente e democrático de informação.

Resolvemos fundar o nosso. Um espaço não comercial, de resistência. Mais um trabalho de militância, voluntário, por suposto. Jaime propôs um jornal; eu, uma revista. O nome eu escolhi (ele queria Bacurau). Dividimos as tarefas. A capa ficou com ele, a linha editorial também.

Correr atrás da grana ficou por minha conta. A paleta de cores, depois de larga prosa, Jaime fechou questão – “nossas cores vão ser o vermelho e o amarelo, porque revista tem que ter cor de luta, cor vibrante” (eu queria verde-floresta). Na paz, acabei enfiando um branco.

Fizemos a primeira edição da Xapuri lá mesmo, na Reserva, em uma noite. Optamos por centrar na pauta socioambiental. Nossa primeira capa foi sobre os povos indígenas isolados do Acre: ‘Isolados, Bravos, Livres: Um Brasil Indígena por Conhecer”. Depois de tudo pronto, Jaime inventou de fazer uma outra boneca, “porque toda revista tem que ter número zero”.

Dessa vez finquei pé, ficamos com a capa indígena. Voltei pra Brasília com a boneca praticamente pronta e com a missão de dar um jeito de imprimir. Nos dias seguintes, o Jaime veio pra Formosa, pra convencer minha irmã Lúcia a revisar a revista, “de grátis”. Com a primeira revista impressa, a próxima tarefa foi montar o Conselho Editorial.

Jaime fez questão de visitar, explicar o projeto e convidar pessoalmente cada conselheiro e cada conselheira (até a doença agravar, nos seus últimos meses de vida, nunca abriu mão dessa tarefa). Daqui rumamos pra Goiânia, para convidar o arqueólogo Altair Sales Barbosa, nosso primeiro conselheiro. “O mais sabido de nóis,” segundo o Jaime.

Trilhamos uma linda jornada. Em 80 meses, Jaime fez questão de decidir, mensalmente, o tema da capa e, quase sempre, escrever ele mesmo. Às vezes, ligava pra falar da ótima ideia que teve, às vezes sumia e, no dia certo, lá vinha o texto pronto, impecável.

Na sexta-feira, 9 de julho, quando preparávamos a Xapuri 81, pela primeira vez em sete anos, ele me pediu para cuidar de tudo. Foi uma conversa triste, ele estava agoniado com os rumos da doença e com a tragédia que o Brasil enfrentava. Não falamos em morte, mas eu sabia que era o fim.

Hoje, cá estamos nós, sem as capas do Jaime, sem as pautas do Jaime, sem o linguajar do Jaime, sem o jaimês da Xapuri, mas na labuta, firmes na resistência. Mês sim, mês sim de novo, como você sonhava, Jaiminho, carcamos porva e, enfim, chegamos à nossa edição número 100. E, depois da Xapuri 100, como era desejo seu, a gente segue esperneando.

Fica tranquilo, camarada, que por aqui tá tudo direitim.

Zezé Weiss

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