Para cumprir meta de reflorestamento, Brasil precisaria plantar 8 bilhões de árvores

Para cumprir meta de reflorestamento, precisaria plantar 8 bilhões de árvores

Desafio tem de ser encarado em escala industrial, diz especialista. Apenas 0,68% do compromisso de reflorestar 12 milhões de hectares já foi cumprido de forma ativa.

Por Cristiane Prizibisczki/O Eco

O presidente Luiz Inácio Lula da  anunciou recentemente a retomada do compromisso de reflorestar 12 milhões de hectares de vegetação nativa no país, assumido no âmbito do , em 2015, mas nunca de fato implementado. Falta ele detalhar, no entanto, como seu governo pretende cumprir essa meta desafiadora. Para especialista, será necessária a estruturação de uma “indústria de recuperação florestal no país”.

Desde o início de 2016, quando o Acordo de Paris passou a vigorar, o Brasil restaurou ativamente, por meio do plantio de árvores nativas, apenas 79 mil hectares, ou 0,65% da meta brasileira, segundo cálculos do Observatório da Restauração e Reflorestamento

A iniciativa, coordenada pela Coalização Brasil, , e , diferencia as áreas em restauração – quando há o plantio ativo de mudas e que contabilizam os 79 mil hectares citados acima – e as áreas em regeneração natural, que somam hoje cerca de 11 milhões de hectares.

Segundo Sérgio Leitão, diretor executivo do Instituto Escolhas, se toda a área prevista no compromisso brasileiro fosse reflorestada de forma ativa, seriam necessárias 8 bilhões de árvores. 

“O anúncio do presidente Lula é fundamental para que a gente tenha uma perspectiva de que vamos sair desse índice absolutamente irrisório, insignificante, indigente que temos [de reflorestamento], diante de uma meta de 12 milhões de hectares”, diz.

Leitão ressalta que, para dar conta da meta, seria necessário um esforço conjunto de vários órgãos estatais na estruturação de um “sistema de recuperação florestal” no país, onde os Ministérios da Fazenda, Agricultura e Meio Ambiente, o BNDES e outros bancos de fomento na atuassem ativamente.

“Nós não fizemos nenhum investimento para estruturar um sistema de recuperação de florestas tropicais, não existem mudas, não existem sementes, não existe financiamento. E isso, se não for feito, é impossível que o país dê conta. Quando a gente fala 12 milhões de hectares de floresta, nós estamos falando de oito bilhões de árvores, nós estamos falando de plantar uma área do tamanho da Inglaterra”, diz.

Atualmente, o Instituto Escolhas – voltado para a geração de estudos e pesquisas em economia e meio ambiente – trabalha na análise de quanto a tarefa demandaria em termos financeiros. Em 2015, quando a meta de restauração foi anunciada, essa cifra estava em R$ 52 bilhões.

Além do ponto de vista climático, em reflorestamento também significam geração de empregos e movimentação da economia, diz Leitão. Em meados de março, o Instituto Escolhas lançou um estudo mostrando o impacto da restauração florestal em estados amazônicos.

No Pará, por exemplo, a recuperação de 5,9 milhões de hectares de florestas tem o potencial de geração de R$ 13,6 bilhões em receita, geração de 1 milhão de empregos e redução de 50% no índice de no estado.

Enquanto isso, no , a recuperação de 1,9 milhão de hectares de florestas poderia gerar R$4,6 bilhões de receita, criar 350 mil empregos diretos e reduzir em 21,5% o índice de pobreza no estado.

“É necessário um conjunto de esforços para que o Brasil estruture uma indústria de recuperação florestal. Ou a gente encara isso como uma atividade em escala industrial, ou ela [restauração] nunca irá acontecer”, finaliza Leitão.

*O título foi atualizado às 18h46: o correto é oito bilhões de árvores e não mudas.

Cristiane Prizibisczki – Jornalista. Fonte: O Eco. Foto: Marcio Isensee e Sá – Mudas usadas para reflorestar a Floresta Nacional Sacará-Taquera, em Oriximiná-PA. Este artigo não representa a opinião da Revista e é de responsabilidade do autor.

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UMA REVISTA PRA CHAMAR DE NOSSA

Era novembro de 2014. Primeiro fim de semana. Plena campanha da Dilma. Fim de tarde na RPPN dele, a Linda Serra dos Topázios. Jaime e eu começamos a conversar sobre a falta que fazia termos acesso a um veículo independente e democrático de informação.

Resolvemos fundar o nosso. Um espaço não comercial, de resistência. Mais um trabalho de militância, voluntário, por suposto. Jaime propôs um jornal; eu, uma revista. O nome eu escolhi (ele queria Bacurau). Dividimos as tarefas. A capa ficou com ele, a linha editorial também.

Correr atrás da grana ficou por minha conta. A paleta de cores, depois de larga prosa, Jaime fechou questão – “nossas cores vão ser o vermelho e o amarelo, porque revista tem que ter cor de luta, cor vibrante” (eu queria verde-floresta). Na paz, acabei enfiando um branco.

Fizemos a primeira edição da Xapuri lá mesmo, na Reserva, em uma noite. Optamos por centrar na pauta socioambiental. Nossa primeira capa foi sobre os povos indígenas isolados do Acre: ‘Isolados, Bravos, Livres: Um Brasil Indígena por Conhecer”. Depois de tudo pronto, Jaime inventou de fazer uma outra boneca, “porque toda revista tem que ter número zero”.

Dessa vez finquei pé, ficamos com a capa indígena. Voltei pra Brasília com a boneca praticamente pronta e com a missão de dar um jeito de imprimir. Nos dias seguintes, o Jaime veio pra Formosa, pra convencer minha irmã Lúcia a revisar a revista, “de grátis”. Com a primeira revista impressa, a próxima tarefa foi montar o Conselho Editorial.

Jaime fez questão de visitar, explicar o projeto e convidar pessoalmente cada conselheiro e cada conselheira (até a doença agravar, nos seus últimos meses de vida, nunca abriu mão dessa tarefa). Daqui rumamos pra Goiânia, para convidar o arqueólogo Altair Sales Barbosa, nosso primeiro conselheiro. “O mais sabido de nóis,” segundo o Jaime.

Trilhamos uma linda jornada. Em 80 meses, Jaime fez questão de decidir, mensalmente, o tema da capa e, quase sempre, escrever ele mesmo. Às vezes, ligava pra falar da ótima ideia que teve, às vezes sumia e, no dia certo, lá vinha o texto pronto, impecável.

Na sexta-feira, 9 de julho, quando preparávamos a Xapuri 81, pela primeira vez em sete anos, ele me pediu para cuidar de tudo. Foi uma conversa triste, ele estava agoniado com os rumos da doença e com a tragédia que o Brasil enfrentava. Não falamos em morte, mas eu sabia que era o fim.

Hoje, cá estamos nós, sem as capas do Jaime, sem as pautas do Jaime, sem o linguajar do Jaime, sem o jaimês da Xapuri, mas na labuta, firmes na resistência. Mês sim, mês sim de novo, como você sonhava, Jaiminho, carcamos porva e, enfim, chegamos à nossa edição número 100. E, depois da Xapuri 100, como era desejo seu, a gente segue esperneando.

Fica tranquilo, camarada, que por aqui tá tudo direitim.

Zezé Weiss

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