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Para José Dirceu: Manifesto em defesa de um lutador injustiçado

Para José Dirceu: Manifesto em defesa de um lutador injustiçado

És condenado por teres nascido com sonhos de igualdade, justiça e liberdade. És condenado por teres lutado sempre para fazer dos teus sonhos realidade no sofrido cotidiano da imensa maioria de teus irmãos e irmãs brasileiros.

És condenado por teres crescido combativo e forte e, mesmo agora, do alto dos cabelos brancos dos teus mais de 70 anos, seguires esbanjando , alegria e esperança por todos os teus nervos e poros.

És condenado por teres filhos adultos responsáveis, por teres uma guerreira e uma filhinha linda, de apenas sete anos de idade, que te faz sentires amado e necessário.

És condenado por gostares de samba e, mesmo sob a vigilância impessoal e sórdida de uma tornezeleira eletrônica, te sentires livre para bailar sem medo no aniversário de tua bela companheira.

És condenado por gostares de crianças, de animais e de ; por leres ótimos livros e por teres sempre muitos amigos e amigas por perto, com quem, despudoradamente, és capaz de trocar boas e sonoras gargalhadas.

És condenado porque, no dia 12 de outubro de 1968, quando no Brasil imperava a mais sangrenta ditadura, durante o XXX Congresso da UNE, em Ibiúna, tomaste, junto com teus companheiros e companheiras, a firme e histórica decisão de não fugir.

És condenado porque, em 1969, quando foste banido do país e tiveste a tua de brasileiro cassada pela ignomínia do regime de exceção instalado cinco anos antes, desde o exílio ousaste seguir na resistência.

És condenado porque, mesmo tendo sido durante 10 anos considerado um pária da , um inimigo do país, enfrentaste a possibilidade concreta de ser assassinado e voltaste clandestinamente ao Brasil para, uma vez mais, lutar pela liberdade do povo brasileiro.

És condenado porque, como agora, diante dos que usurparam o poder legalmente constituído, não sucumbiste. És condenado por, durante a ditadura, teres lutado pela conquista da democracia e, após a Anistia, pela volta do Estado Democrático de Direito.

És condenado porque, na madrugada de dezembro de 2005, quando a Câmara dos Deputados cassou o mandato que o povo de generosamente te concedeu, saíste daquele plenário de cabeça erguida, como só são capazes os fortes e os inocentes.

És condenado porque, desde então, nessa terrível ação orquestrada e dirigida pelos que se opõem às conquistas dos governos do PT e da esquerda, mesmo tendo sido transformado em inimigo público número 1 pela mídia golpista do Brasil, jamais te curvaste.

És condenado porque, em 09 de outubro de 2012, depois de prejulgado e linchado, mesmo tendo recebido o veredito de uma condenação sem provas, apenas “porque a literatura jurídica” assim o permitia, seguiste lutando para provar tua inocência, sem jamais te deixares abater.

És condenado por teres sido advogado, deputado, ministro. És condenado por teres sido forjado na luta, por teres dedicado toda tua vida ao Brasil, aos movimentos sociais, à esquerda e ao PT, e por fazeres da democracia tua razão maior de viver.

És condenado por teres o desplante de seguir lutando pela pátria livre neste nosso país anestesiado, onde quem ousa levantar a fronte passa pela poderosa máquina de moer inocentes de uma justiça parcial, inumana e partidarizada.

És condenado por teres feito o futuro chegar para milhares de brasileiros e brasileiras nos “nas escolas, nas fábricas, campos, construções”, independente e apesar da guerra insana montada contra ti pelos que tentaram e tentam destruir teu legado.

És condenado por teres ousado propor a regulação da mídia, a democratização do judiciário, e por teres enfrentado – sem te dobrares – as investidas do capital rentista ao qual o país hoje se subjuga, sem chance de te curvares ante toda e qualquer chantagem.

És condenado exatamente por seguires lutando por um país justo, com igualdade de direitos e oportunidades para mulheres e homens, onde a esperança possa sempre vencer a perseguição e o medo, e a paz possa vencer sempre o ódio e o preconceito.

És condenado porque, imagine, mesmo tendo teus sigilos fiscal, bancário e telefônico quebrados por um juiz de primeira instância, contra ti jamais foi encontrada nenhuma prova de ilegalidades, nenhum traço de enriquecimento pessoal, sequer uma única prova foi descoberta contra tua inocência.

És condenado porque a direita, que sempre desejou ter um Dirceu para ela, jamais conseguiu te mover do lado justo e certo da História. És condenado por seres nosso, do PT, da esquerda, dos movimentos sociais e do povo brasileiro. És condenado porque a direita não suporta tamanha rejeição.

És condenado porque, embora tenhas recebido uma injusta e execrável pena de mais de uma década de prisão e, mesmo depois de uma reclusão de mais de três anos, segues, de cabeça erguida, “a sonhar e a organizar o sonho.”

És condenado por estares de pé, altivo e altaneiro, firme na luta por um Brasil sem , sem homofobia, sem feminicídio, sem violência. És condenado porque tua sede de justiça (que nunca se confundiu com o ódio, com a vingança, com a covardia moral ou com a hipocrisia que teus inimigos lançaram contra ti por anos e anos) persiste, e nada consegue retirar tua imensa coragem de lutar e de viver.

És condenado porque, mesmo enfrentando uma vez mais um processo de justiçamento por parte dos que te querem ver combalido, alquebrado e vencido, segues movendo milhares de brasileiros e brasileiras que, assim como nós, pelo teu exemplo, permanecerão contigo em busca dos mesmos sonhos de justiça e de liberdade.

És condenado, Zé Dirceu, por seres um incansável lutador!

És condenado por seguires sonhando, Zé Dirceu!

 , 21 de novembro de 2017

MOVIMENTO RESISTÊNCIA ZÉ DIRCEU

 

*Este Manifesto em Defesa de um Lutador Injustiçado foi construído a muitas mãos por todos e todas nós, democratas que carregamos no coração e na alma as sementes de justiça e liberdade semeadas por Zé Dirceu. O “Bilhete para um operário” (FSP, 15/09/80), publicado por Lourenço Diaféria pouco depois da fundação do PT (10/02/80), quando, assim como hoje, o Partido, Lula, Zé Dirceu, lideranças da esquerda e dos movimentos sociais sofriam violento ataque por parte das elites e da grande mídia brasileira, que nunca deixou de ser golpista, nos serviu de inspiração para a construção deste Manifesto em defesa de José Dirceu de Oliveira e , acima de tudo um resistente.

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Bordado: Linhas do Horizonte. Texto escrito por com a colaboração do Movimento Resistência Zé Dirceu em 21.11.2017


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UMA REVISTA PRA CHAMAR DE NOSSA

revista 119

Era novembro de 2014. Primeiro fim de semana. Plena campanha da Dilma. Fim de tarde na RPPN dele, a Linda Serra dos Topázios. Jaime e eu começamos a conversar sobre a falta que fazia termos acesso a um veículo independente e democrático de informação.

Resolvemos fundar o nosso. Um espaço não comercial, de resistência. Mais um trabalho de militância, voluntário, por suposto. Jaime propôs um jornal; eu, uma revista. O nome eu escolhi (ele queria Bacurau). Dividimos as tarefas. A capa ficou com ele, a linha editorial também.

Correr atrás da grana ficou por minha conta. A paleta de cores, depois de larga prosa, Jaime fechou questão – “nossas cores vão ser o vermelho e o amarelo, porque revista tem que ter cor de luta, cor vibrante” (eu queria verde-floresta). Na paz, acabei enfiando um branco.

Fizemos a primeira edição da Xapuri lá mesmo, na Reserva, em uma noite. Optamos por centrar na pauta socioambiental. Nossa primeira capa foi sobre os povos indígenas isolados do Acre: ‘Isolados, Bravos, Livres: Um Brasil Indígena por Conhecer”. Depois de tudo pronto, Jaime inventou de fazer uma outra boneca, “porque toda revista tem que ter número zero”.

Dessa vez finquei pé, ficamos com a capa indígena. Voltei pra Brasília com a boneca praticamente pronta e com a missão de dar um jeito de imprimir. Nos dias seguintes, o Jaime veio pra Formosa, pra convencer minha irmã Lúcia a revisar a revista, “de grátis”. Com a primeira revista impressa, a próxima tarefa foi montar o Conselho Editorial.

Jaime fez questão de visitar, explicar o projeto e convidar pessoalmente cada conselheiro e cada conselheira (até a doença agravar, nos seus últimos meses de vida, nunca abriu mão dessa tarefa). Daqui rumamos pra Goiânia, para convidar o arqueólogo Altair Sales Barbosa, nosso primeiro conselheiro. “O mais sabido de nóis,” segundo o Jaime.

Trilhamos uma linda jornada. Em 80 meses, Jaime fez questão de decidir, mensalmente, o tema da capa e, quase sempre, escrever ele mesmo. Às vezes, ligava pra falar da ótima ideia que teve, às vezes sumia e, no dia certo, lá vinha o texto pronto, impecável.

Na sexta-feira, 9 de julho, quando preparávamos a Xapuri 81, pela primeira vez em sete anos, ele me pediu para cuidar de tudo. Foi uma conversa triste, ele estava agoniado com os rumos da doença e com a tragédia que o Brasil enfrentava. Não falamos em morte, mas eu sabia que era o fim.

Hoje, cá estamos nós, sem as capas do Jaime, sem as pautas do Jaime, sem o linguajar do Jaime, sem o jaimês da Xapuri, mas na labuta, firmes na resistência. Mês sim, mês sim de novo, como você sonhava, Jaiminho, carcamos porva e, enfim, chegamos à nossa edição número 100. E, depois da Xapuri 100, como era desejo seu, a gente segue esperneando.

Fica tranquilo, camarada, que por aqui tá tudo direitim.

Zezé Weiss

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