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Para não vivermos em luto, precisamos viver o luto

Precisamos viver o luto para não vivermos em luto

Se não pudermos chorar, e até gritar, a dor pela morte de alguém querido perante seu corpo sem vida, em que outra circunstância será permitido dar voz e espaço para nossas dores?

Durante o luto, tudo dói. Há dias em que é quase insuportável permanecermos em nós mesmos. O enlutado vive uma realidade paralela, enquanto o mundo ao seu redor segue. Imerso no luto, parece injusto que a vida siga seu rumo lá fora como se um coração não tivesse parado de bater. Os carros seguem passando, pessoas tomam café na padaria, há um lançamento de filme, alguém procurando um sapato novo. Tudo tão incoerente diante da dor lancinante.
Manifestações de luto constrangem e questionam uma que supervaloriza o que é relativo à felicidade. Nessa situação, um dos aspectos mais importantes é permitir que a pessoa expresse sua dor e assim, tenha seus sentimentos validados. Contudo, a dor do outro tende a nos incomodar e na tentativa de acalmá-lo, utilizamos frases como “você precisa ser forte” ou “ele está em um lugar melhor agora”.
Se não pudermos chorar, e até gritar, a dor pela morte de alguém querido perante seu corpo sem vida, em que outra circunstância será permitido dar voz e espaço para nossas dores?
Os rituais de morte são essenciais no processo de luto. São momentos de profunda dor, onde a realidade confronta o desejo de que quem amamos seja imortal. São saudáveis as expressões intensas de sofrimento durante os rituais fúnebres e é fundamental viabilizar que tais emoções sejam vivenciadas, uma vez que este é o contexto mais adequado para vivê-las, evitando que crises abruptas e severas aconteçam mais tarde em situações cotidianas diversas.

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UMA REVISTA PRA CHAMAR DE NOSSA

Era novembro de 2014. Primeiro fim de semana. Plena campanha da Dilma. Fim de tarde na RPPN dele, a Linda Serra dos Topázios. Jaime e eu começamos a conversar sobre a falta que fazia termos acesso a um veículo independente e democrático de informação.

Resolvemos fundar o nosso. Um espaço não comercial, de resistência. Mais um trabalho de militância, voluntário, por suposto. Jaime propôs um jornal; eu, uma revista. O nome eu escolhi (ele queria Bacurau). Dividimos as tarefas. A capa ficou com ele, a linha editorial também.

Correr atrás da grana ficou por minha conta. A paleta de cores, depois de larga prosa, Jaime fechou questão – “nossas cores vão ser o vermelho e o amarelo, porque revista tem que ter cor de luta, cor vibrante” (eu queria verde-floresta). Na paz, acabei enfiando um branco.

Fizemos a primeira edição da Xapuri lá mesmo, na Reserva, em uma noite. Optamos por centrar na pauta socioambiental. Nossa primeira capa foi sobre os povos indígenas isolados do Acre: ‘Isolados, Bravos, Livres: Um Brasil Indígena por Conhecer”. Depois de tudo pronto, Jaime inventou de fazer uma outra boneca, “porque toda revista tem que ter número zero”.

Dessa vez finquei pé, ficamos com a capa indígena. Voltei pra Brasília com a boneca praticamente pronta e com a missão de dar um jeito de imprimir. Nos dias seguintes, o Jaime veio pra Formosa, pra convencer minha irmã Lúcia a revisar a revista, “de grátis”. Com a primeira revista impressa, a próxima tarefa foi montar o Conselho Editorial.

Jaime fez questão de visitar, explicar o projeto e convidar pessoalmente cada conselheiro e cada conselheira (até a doença agravar, nos seus últimos meses de vida, nunca abriu mão dessa tarefa). Daqui rumamos pra Goiânia, para convidar o arqueólogo Altair Sales Barbosa, nosso primeiro conselheiro. “O mais sabido de nóis,” segundo o Jaime.

Trilhamos uma linda jornada. Em 80 meses, Jaime fez questão de decidir, mensalmente, o tema da capa e, quase sempre, escrever ele mesmo. Às vezes, ligava pra falar da ótima ideia que teve, às vezes sumia e, no dia certo, lá vinha o texto pronto, impecável.

Na sexta-feira, 9 de julho, quando preparávamos a Xapuri 81, pela primeira vez em sete anos, ele me pediu para cuidar de tudo. Foi uma conversa triste, ele estava agoniado com os rumos da doença e com a tragédia que o Brasil enfrentava. Não falamos em morte, mas eu sabia que era o fim.

Hoje, cá estamos nós, sem as capas do Jaime, sem as pautas do Jaime, sem o linguajar do Jaime, sem o jaimês da Xapuri, mas na labuta, firmes na resistência. Mês sim, mês sim de novo, como você sonhava, Jaiminho, carcamos porva e, enfim, chegamos à nossa edição número 100. E, depois da Xapuri 100, como era desejo seu, a gente segue esperneando.

Fica tranquilo, camarada, que por aqui tá tudo direitim.

Zezé Weiss

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