“Para onde vamos? Ah, onde vamos parar? Nessa encruzilhada que estrada vamos pegar?”
Por Mônica NunesArnaldo Antunes, Céu, Zélia Duncan, Roberta Sá, Fabiana Cozza, Paulinho Moska, Ná Ozetti, Thalma de Freitas, Chico Brown, MC Sofia, Moreno Veloso, Zeca Baleiro, Paula Morelembaum, o violoncelista Jaques Morelembaum, o Quarteto Ensemble SP, os indígenas Marcia Kambeba, Edivan Fulni-ô e Artemisa Xakriabá, e o coral do Projeto Guri, entre outros, se uniram para gravar o videoclipe lançado hoje pelo movimento Famílias pelo Clima, formado por mães, pais, tias/tios e avô/avós preocupados com as consequências das alterações climáticas no planeta, em parceria com Parents for Future e Fridays for Future.
Vale destacar, aqui, que, na semana passada, o movimento – em parceria com outros coletivos – entregou carta aos negociadores da conferência climática da ONU, realizada em Madri, que foi boicotado principalmente por três países – Brasil, Estados Unidos e Austrália – apresentado um resultado pífio.
Idealizado por Izabela Prata, uma das integrantes do coletivo, a partir de sua frustração com a dificuldade de fazer mais pessoas entenderem a gravidade da emergência climática – principalmente no Brasil -, o videoclipe em preto e branco tem direção de Toni Vanzolini, e apresenta a dramática e bela música composta por Carlos Rennó (letra) e Beto Vilares.
A letra de Rennó – músico que já escreveu outras duas canções-manifesto durante o governo Temer: Demarcação Já, pelos povos indígenas, e Manifestação, pelos direitos humanos (no aniversário da Anistia Internacional) – relata o cenário devastado em que vivemos hoje, com incêndios, inundações, furacões e outros eventos extremos cada vez mais frequentes e pergunta: “Para onde vamos? Ah, onde vamos parar? Nessa encruzilhada que estrada vamos pegar?”.
Eis um dos trechos mais impactantes da música, que retrata nossa inação diante de tanta urgência, e que você pode ouvir, na íntegra, no final deste post:
“Que desmatamento ou incêndio ou inundação
Nossos olhos tristes ainda inundarão
Que geleira tem que ainda derreter
Pra quebrar a pedra de gelo que tem no peito,
que tem o podre alto poder
Quanto tempo vamos seguir sem de fato agir?”.
Projeto colaborativo
De acordo com divulgação nas redes sociais, o projeto “é resultado de um lindo processo colaborativo que reuniu voluntariamente artistas, profissionais e doadores (via crowdfunding) que compartilham com a gente o desejo de construir um futuro onde as belezas e riquezas do nosso planeta, a nossa casa comum, sustentem de forma generosa a vida de todos os seres que aqui habitam, sem exceção”.
O videoclipe ganhou legendas em três línguas – espanhol, alemão e inglês, – para que seja espalhado e acessível ao maior número de pessoas possível, pelo mundo. “O desejo agora é que esse filme seja visto por mais e mais pessoas, para que elas se conscientizem da relevância do assunto”, salienta a ativista.
A campanha de financiamento coletivo não atingiu a meta (19 mil reais), mas chegou perto (14.695 reais), por isso ela ainda continua ativa. Com o valor arrecadado, foi possível cobrir boa parte dos custos operacionais para a realização do clipe. Mas mais ajuda é bem vinda.
Não basta fazer a nossa parte!
A inspiração do movimento Famílias pelo Clima (versão brasileira do movimento Parents for Future Global), vem de Greta Thunberg, claro. O Parents for Future também nasceu do movimento provocado pela ativista sueca de 16 anos, o Fridays for Future, criado a partir de suas manifestações solitárias, todas as sextas, em frente ao parlamento sueco. Mas, aqui no Brasil, os protestos ainda ganharam a dimensão alcançada em diversos países. Parece difícil para os brasileiros entenderem que têm força suficiente – e o suporte de organizações da sociedade civil – para fazer pressão sobre governos e grandes empresas, que podem mudar esta grave situação.
“Não é um problema que tem que ser solucionado só por nós. O maior problema está na mão das grandes corporações”, disse Isabella à Folha de São Paulo. “Se fazemos só nossa parte, tiramos a atenção da cobrança das grandes empresas. Nós precisamos agir em relação a questões políticas, governos e grandes corporações, que fazem com que acreditemos que nós temos que resolver o problema, reciclando o lixo, comendo orgânico e andando de bicicleta. E não é”.
Sim, a situação é grave e é realmente inacreditável que boa parte do mundo ainda fecha os olhos e segue sem se envolver. E, pra terminar, quero apenas ressaltar que nossa EMERGÊNCIA CLIMÁTICA foi compreendida, também, pelos organizadores do Dicionário de Oxford, que anualmente escolhem uma palavra do ano, mas este ano optaram por esta expressão.
Fonte: Conexão Planeta
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