Para quem gosta de admirar aves, Birdwatching
Desde que surgiu, na Inglaterra, no século 18, o Birdwatching, ou o passatempo de admirar aves, continua envolvendo e encantando pessoas no mundo inteiro. Com suas 1.800 espécies de aves, o Brasil é um campo fértil para o Birdwatching
Por Izalete Tavares
O avanço dos instrumentos tecnológicos de observação, como as câmaras fotográficas, os binóculos e, agora, as câmaras digitais disponíveis até mesmo em telefones celulares, cada vez mais facilita a vida dos observadores de aves.
Para praticar o Birdwatching, você precisará de uma câmera ou um binóculo! Você poderá escolher entre os modelos profissionais, semiprofissionais, ou mesmo uma boa câmara em seu celular. Depois, é se posicionar e admirar o passaredo.
COMO OBSERVAR AVES
As aves são seres com ótima capacidade de visão e audição. Para um contato mais próximo, observe o pássaro a uma boa distância. Ao ver você, ele analisará se você representa ou não uma ameaça.
Mantenha sempre a distância que deixe o animal confortável. Afinal, se o pássaro se sentir ameaçado, ele voará bem rápido e você perderá a foto. Quando ele notar você, fique em silêncio e imóvel por um tempo. Assim que ele demonstrar estar confortável com sua presença, aproxime-se um pouco mais. Repita o procedimento e garanta sua foto!
Não use roupas com cores chamativas! Isso é um erro grave. Use sempre cores-ambientes, discretas e, se possível, use camuflagem em tons de verde e marrom. Existem roupas de camuflagem feitas especialmente para o Birdwatching.
Ande sempre devagar e em silêncio. O barulho também incomoda os pássaros. Evite pisar em galhos e folhas. Se for necessário conversar, faça-o em voz baixa.

PARQUE DOS FALCÕES: SANTUÁRIO DAS AVES DE RAPINA
Para quem é fã das aves de rapina, ou rapinantes, esse grupo formado por 10% das aves do mundo, todas carnívoras, cujas características as habilitam para a caça – garras afiadas, bico curvo e afiado para rasgar a carne, visão aguçada e voo poderoso –, não há como não agendar uma visita ao Parque dos Falcões, em Sergipe.
Por Izalete Tavares
Localizado no município de Itabaiana, a cerca de 45 km de Aracaju, a capital do estado, o Parque dos Falcões resulta do trabalho e do esforço de dois sonhadores: José Percílio e Alexandre Correia, hoje responsáveis pela gestão do Instituto Parque dos Falcões.
Alexandre tornou-se “cúmplice” de Percílio no ano de 1999, mas a história do Instituto começou ainda na infância do fundador. Aos 7 anos, Percílio ganhou um ovo de Carcará (Caracara plancus) e, depois de 28 dias sendo chocado por uma galinha, nasceu Tito, seu primeiro grande amigo, hoje com 27 anos de idade.
Com seus 3.500 km2, o Parque, que abriga cerca de 300 outras aves, entre gaviões, falcões, corujas, socós-boi e pombos, um dos poucos locais do país com autorização do IBAMA para a criação dessas aves em cativeiro, tornou-se uma referência mundial no manejo, reprodução e reabilitação de aves de rapina.
ABRIGO PARA VÍTIMAS DA CRUELDADE HUMANA
Cada vez mais visitado por estudantes, biólogos e pesquisadores brasileiros e estrangeiros, o Parque abriga muitas aves que foram vítimas da crueldade humana, a maioria delas apreendidas do tráfico de animais, ou mutiladas e maltratadas em cativeiros ilegais.
Fragilizadas, são levadas para o Instituto pelo IBAMA ou pelo Corpo de Bombeiros. Chegam ariscas e com muito medo do contato com os humanos, mas, graças ao carinho e cuidado que recebem, logo se sentem mais seguras e se adaptam às visitas das pessoas.
Após o período de recuperação, algumas aves são reintegradas à natureza. Outras, sem condições de sobreviver em seu habitat natural, ficam no Parque onde, graças ao trabalho da equipe de Percílio, por vezes conseguem acasalar e gerar filhotes.
AVES ADESTRADAS
Existem no Parque 32 aves adestradas. Ao contrário da falcoaria tradicional da Ásia e Europa, que treina as aves para caçar ao lado de humanos, Percílio se concentra em fazer com que a população entenda o verdadeiro papel das aves de rapina na natureza e as veja como predadoras com papel fundamental na cadeia alimentar e não como “assassinas sanguinárias”.
No Instituto, os adestradores identificam e reproduzem cada vocalização das aves, criando um diálogo com elas e, assim, enviam comandos de defesa, ataque, alerta, ou mesmo cumprimentos, por meio do entendimento de sons guturais produzidos na “linguagem” das aves.
“O segredo está na vocalização. Por meio da identificação de cada som produzido pela ave sabemos o que ela quer. Há sons de ataque, pedido de carinho, e outros que avisam sobre a chegada de pessoas”, explica Percílio.
De três a quatro vezes por semana, todas as aves adestradas voam em pequenas viagens, no exercício chamado de punho-a-punho, que envolve voos livres pela serra. Ao som do apito ou da própria voz do treinador, as aves simulam papéis vividos na natureza. Cada espécie de ave precisa realizar um treinamento individual, para que possa vivenciar suas reais necessidades.
“A vida dessas aves está associada ao voo. É através dele que, na natureza, essas espécies buscam alimento. Por serem aves de rapina, elas precisam se exercitar de forma a queimar gordura e atingir o peso ideal O treinamento permite que os falcões mantenham a forma e estejam prontos para qualquer tarefa”, conta Alexandre Correia.
ROTEIRO TURÍSTICO
O Parque dos Falcões está nos roteiros de passeios ecoturísticos de Sergipe. Além da visita à sede do Parque, o Instituto também oferece aos turistas um passeio guiado pelo Parque Nacional Serra de Itabaiana.
As visitas turísticas incluem apresentação oral e audiovisual da história, missão e técnicas de manejo do Instituto; apresentação dos hábitos de vida das aves de rapina; e fotografias com os animais em punho.
Izalete Tavares – Estudante. Fotógrafa – @izaletetavares

BICHOS DE PENA: PÁSSAROS E PASSARINHOS
As aves são conhecidas pelos seringueiros da Amazônia como bichos de pena. Todos os bichos de pena botam ovos e voam. Alguns voam alto, outros baixo, uns voam em socos, mas todos voam.
Por Manuela Carneiro da Cunha e Mauro Almeida
“Todo bicho de pena, quem choca é o macho, mas isso só vale para os bichos da mata; dos bichos de criação, quem choca é a fêmea. Pode acontecer de algum bicho da mata que quem choca é a fêmea, mas é difícil.” (seu Lico).
Todos os bichos de pena têm visão apurada: “Bicho de cabelo sente mais cheiro e escuta melhor do que vê; bicho de pena enxerga bem (principalmente saracura e macucau), mas não escuta direito e o faro também não é muito bom.” (seu Lico).
O amplo grupo de aves é dividido, conforme o tamanho, em duas grandes categorias: os pássaros e os passarinhos. Os informantes explicam como classificar: “Da juriti pra cima, são pássaros. Os menores que a juriti são passarinhos.” (seu Lico).
Em alguns casos, as famílias correspondem a determinado gênero pela classificação biológica científica, e as qualidades são equivalentes às espécies. Outras vezes, as etnofamílias correspondem diretamente às espécies, e as qualidades são variações da própria espécie.
Na maioria dos casos, são reunidos grupos muito distantes entre si pela classificação científica, mas há sempre uma lógica de agrupamento. Isso ocorre porque as características não são “pesadas”, ou seja, os grupos não são comparados por um parâmetro único.
Podem ocorrer as duas categorias – pássaros e passarinhos – numa mesma família, como entre os tucanos. Na verdade, a categoria dos passarinhos define-se em oposição à categoria das embiaras: somente os pássaros são utilizados como alimento ou caça.
BICHOS DE CABELO: OS “DA MATA” E OS “DE CASA”

Os bichos de cabelo, que correspondem aproximadamente aos mamíferos, subdividem-se em “famílias” de animais agrupados a partir dos critérios mencionados na morfologia, nos hábitos e ambientes.
Assim, dentro do grupo dos bichos de cabelo, há os grupos dos gatos, dos cachorros, dos ratos, dos porcos (todos com membros, “da mata” e “de casa”); dos macacos, dos tamanduás, das mucuras (sem equivalentes “de casa”); há tipos isolados (o cuandu) e os grandes animais – antas e veados – que, embora haja análogos “de casa”, não têm nome em comum com eles.
No interior desses amplos grupos de animais aparentados, existem categorias que apontam para tipos (macaco-de-cheiro, soim-branco, paca-concha ou paca-china); e finalmente há “qualidades”.
O grupo dos macacos compreende os macacos propriamente ditos (distinguindo-se os macacos dos macacos-soins) e também animais eventualmente classificados como macacos por suas características morfológicas, de hábito e ambiente – por exemplo preguiças, quati, bule-bule (ou quincaju).
Analogamente, o grupo dos ratos compreende os ratos legítimos (os ratos da mata e os de casa); ao raciocinar e refletir sobre as categorias de animais, o grupo dos ratos é ampliado para incluir bichos que “são ratos” por sua morfologia e hábitos:
“Todos os bichos que roem são um tipo de rato: a paca, a cutia, o quatipuru… Todo bicho que rói só tem dois dentes, dois em cima e dois embaixo; eles só têm amolagem (dentes incisivos)”, diz Seu Lico seringueiro. Os morcegos são às vezes assimilados aos ratos (porque são gerados “de rato”).
Os grupos dos porcos, gatos, cachorros e ratos compreendem claramente os grupos silvestres e domésticos. Pelo contexto, sabe-se quando o seringueiro se refere aos bichos da mata ao falar “porco”, “gato” ou “rato”, é mais comum qualificar dizendo “porco de casa” ou “gato de casa” do que acrescentar “porco da mata” ou “gato da mata”.
O grupo que reúne a anta, o veado e os porcos (caititu e queixada) não têm um nome único baseado no critério de morfologia e hábito, embora os seringueiros reconheçam que são “bichos de unha”; nesse caso, o termo “caça” coincide com esse grupo morfológico.
Os bichos de cabelo caracterizam-se por terem quatro pés – ficam assim excluídos os botos – e serem animais que dão à luz e mamam.
Manuela Carneiro da Cunha – Antropóloga, em Enciclopédia da Floresta – O Alto Juruá: Práticas e Conhecimento das Populações – Organizadora. Editora Companhia das Letras, 2002.
Mauro Almeida – Antropólogo, em Enciclopédia da Floresta – O Alto Juruá: Práticas e Conhecimento das Populações – Organizador. Editora Companhia das Letras, 2002.





