Parece coruja, mas não é: é o Bacurau

PARECE CORUJA, MAS NÃO É: É O BACURAU

Parece coruja, mas não é: é o Bacurau

No caboclo, reza a que para participar de uma festa no céu o Bacurau emprestou penas de diversos pássaros. Porém, no dia seguinte, não as devolveu e foi castigado por São , tornando-se uma ave de hábitos noturnos que solta o grito “amanhã eu vou” referindo-se à devolução das penas.

Por diretodareserva

O Bacurau é uma espécie cheia de hábitos muito curiosos. É uma ave que prefere passar a maior parte do no chão, onde dorme durante o dia todo e, para não ser incomodado, aproveita sua plumagem para se camuflar entre a vegetação rasteira.

É também no chão que faz seu ninho, a fêmea põe os ovos em campo aberto e os choca sozinha. Se perturbada, não pensa duas vezes e muda o ninho para outro lugar, puxando os ovos e andando de marcha à ré.

PARECE CORUJA, MAS NÃO É: É O BACURAU
Foto: Reprodução/Internet

Conhecido por diversos nomes como Bacurau, Curiango, Ibijau, Acurana ou A-ku-kú, essa ave faz parte da família Caprimulgidae, que no conta com cerca de 24 espécies diferentes. A maioria é muito semelhante entre si, sendo que apenas pequenos detalhes na coloração das penas permitem distingui-las.

Embora até possam lembrar uma coruja, não há parentesco entre elas. Ao contrário das corujas, que usam suas garras e bicos afiados para caçar e comer suas presas, os Bacuraus caçam em pleno voo. São verdadeiros acrobatas voando e graças à capacidade peculiar entre as aves desse grupo de abrir amplamente o bico, capturam mais facilmente os insetos, sua principal fonte de alimento.

Seus grandes olhos ajudam a identificar a presa no escuro e são sua grande arma de caça, pois os Bacuraus possuem uma estrutura como um espelho no fundo dos olhos que reflete a luz e aumenta sua habilidade de ver no escuro.

PARECE CORUJA, MAS NÃO É: É O BACURAU
Foto: Guia

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UMA REVISTA PRA CHAMAR DE NOSSA

Era novembro de 2014. Primeiro fim de semana. Plena campanha da Dilma. Fim de tarde na RPPN dele, a Linda Serra dos Topázios. Jaime e eu começamos a conversar sobre a falta que fazia termos acesso a um veículo independente e democrático de informação.

Resolvemos fundar o nosso. Um espaço não comercial, de resistência. Mais um trabalho de militância, voluntário, por suposto. Jaime propôs um jornal; eu, uma revista. O nome eu escolhi (ele queria Bacurau). Dividimos as tarefas. A capa ficou com ele, a linha editorial também.

Correr atrás da grana ficou por minha conta. A paleta de cores, depois de larga prosa, Jaime fechou questão – “nossas cores vão ser o vermelho e o amarelo, porque revista tem que ter cor de luta, cor vibrante” (eu queria verde-floresta). Na paz, acabei enfiando um branco.

Fizemos a primeira edição da Xapuri lá mesmo, na Reserva, em uma noite. Optamos por centrar na pauta socioambiental. Nossa primeira capa foi sobre os povos indígenas isolados do Acre: ‘Isolados, Bravos, Livres: Um Brasil Indígena por Conhecer”. Depois de tudo pronto, Jaime inventou de fazer uma outra boneca, “porque toda revista tem que ter número zero”.

Dessa vez finquei pé, ficamos com a capa indígena. Voltei pra Brasília com a boneca praticamente pronta e com a missão de dar um jeito de imprimir. Nos dias seguintes, o Jaime veio pra Formosa, pra convencer minha irmã Lúcia a revisar a revista, “de grátis”. Com a primeira revista impressa, a próxima tarefa foi montar o Conselho Editorial.

Jaime fez questão de visitar, explicar o projeto e convidar pessoalmente cada conselheiro e cada conselheira (até a doença agravar, nos seus últimos meses de vida, nunca abriu mão dessa tarefa). Daqui rumamos pra Goiânia, para convidar o arqueólogo Altair Sales Barbosa, nosso primeiro conselheiro. “O mais sabido de nóis,” segundo o Jaime.

Trilhamos uma linda jornada. Em 80 meses, Jaime fez questão de decidir, mensalmente, o tema da capa e, quase sempre, escrever ele mesmo. Às vezes, ligava pra falar da ótima ideia que teve, às vezes sumia e, no dia certo, lá vinha o texto pronto, impecável.

Na sexta-feira, 9 de julho, quando preparávamos a Xapuri 81, pela primeira vez em sete anos, ele me pediu para cuidar de tudo. Foi uma conversa triste, ele estava agoniado com os rumos da doença e com a tragédia que o Brasil enfrentava. Não falamos em morte, mas eu sabia que era o fim.

Hoje, cá estamos nós, sem as capas do Jaime, sem as pautas do Jaime, sem o linguajar do Jaime, sem o jaimês da Xapuri, mas na labuta, firmes na resistência. Mês sim, mês sim de novo, como você sonhava, Jaiminho, carcamos porva e, enfim, chegamos à nossa edição número 100. E, depois da Xapuri 100, como era desejo seu, a gente segue esperneando.

Fica tranquilo, camarada, que por aqui tá tudo direitim.

Zezé Weiss

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