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O dia em que matam um canal público

O dia em que matam um canal público

 

PASSAMENTO

Por Gabriel Priolli

Começam hoje as demissões na TV Escola. Cerca de 100 funcionários deverão ser notificados.

É o início do fim da emissora educativa criada há 20 anos e que cumpre importante função social, sobretudo junto a comunidades do interior, que têm acesso à televisão apenas por antenas parabólicas.

Ali onde reinam os canais da bíblia e do boi, e os programas da bala, a TV Escola era uma das únicas janelas de conteúdo elevado, realmente útil.
Com mais essa decisão criminosa do Governo Bolsonaro, o governo do desmanche, vai acabando a estrutura federal de comunicação pública. A EBC já foi desidratada e a TV parece destinada à privatização.
Tudo ao gosto da mídia privada. Essa que a Constituição obriga à finalidade educativo-cultural e à diversidade de conteúdo, mas é descumprida rigorosa e impunemente.
Essa que é a voz do mercado, pelo mercado, para o mercado, e nada faz além de vender: produtos, serviços, pessoas, o deus do dinheiro, a ideologia do egoísmo, da cobiça e da avareza.
Ninguém lerá editoriais candentes nos jornais, nem verá reportagens escandalizadas nos telejornais, sobre a agonia da TV Escola.
Hoje é dia de júbilo silencioso na comunicação privada, o dia em que matam um canal público.
Fonte: Facebook

 

 

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UMA REVISTA PRA CHAMAR DE NOSSA

Era novembro de 2014. Primeiro fim de semana. Plena campanha da Dilma. Fim de tarde na RPPN dele, a Linda Serra dos Topázios. Jaime e eu começamos a conversar sobre a falta que fazia termos acesso a um veículo independente e democrático de informação.

Resolvemos fundar o nosso. Um espaço não comercial, de resistência. Mais um trabalho de militância, voluntário, por suposto. Jaime propôs um jornal; eu, uma revista. O nome eu escolhi (ele queria Bacurau). Dividimos as tarefas. A capa ficou com ele, a linha editorial também.

Correr atrás da grana ficou por minha conta. A paleta de cores, depois de larga prosa, Jaime fechou questão – “nossas cores vão ser o vermelho e o amarelo, porque revista tem que ter cor de luta, cor vibrante” (eu queria verde-floresta). Na paz, acabei enfiando um branco.

Fizemos a primeira edição da Xapuri lá mesmo, na Reserva, em uma noite. Optamos por centrar na pauta socioambiental. Nossa primeira capa foi sobre os povos indígenas isolados do Acre: ‘Isolados, Bravos, Livres: Um Brasil Indígena por Conhecer”. Depois de tudo pronto, Jaime inventou de fazer uma outra boneca, “porque toda revista tem que ter número zero”.

Dessa vez finquei pé, ficamos com a capa indígena. Voltei pra Brasília com a boneca praticamente pronta e com a missão de dar um jeito de imprimir. Nos dias seguintes, o Jaime veio pra Formosa, pra convencer minha irmã Lúcia a revisar a revista, “de grátis”. Com a primeira revista impressa, a próxima tarefa foi montar o Conselho Editorial.

Jaime fez questão de visitar, explicar o projeto e convidar pessoalmente cada conselheiro e cada conselheira (até a doença agravar, nos seus últimos meses de vida, nunca abriu mão dessa tarefa). Daqui rumamos pra Goiânia, para convidar o arqueólogo Altair Sales Barbosa, nosso primeiro conselheiro. “O mais sabido de nóis,” segundo o Jaime.

Trilhamos uma linda jornada. Em 80 meses, Jaime fez questão de decidir, mensalmente, o tema da capa e, quase sempre, escrever ele mesmo. Às vezes, ligava pra falar da ótima ideia que teve, às vezes sumia e, no dia certo, lá vinha o texto pronto, impecável.

Na sexta-feira, 9 de julho, quando preparávamos a Xapuri 81, pela primeira vez em sete anos, ele me pediu para cuidar de tudo. Foi uma conversa triste, ele estava agoniado com os rumos da doença e com a tragédia que o Brasil enfrentava. Não falamos em morte, mas eu sabia que era o fim.

Hoje, cá estamos nós, sem as capas do Jaime, sem as pautas do Jaime, sem o linguajar do Jaime, sem o jaimês da Xapuri, mas na labuta, firmes na resistência. Mês sim, mês sim de novo, como você sonhava, Jaiminho, carcamos porva e, enfim, chegamos à nossa edição número 100. E, depois da Xapuri 100, como era desejo seu, a gente segue esperneando.

Fica tranquilo, camarada, que por aqui tá tudo direitim.

Zezé Weiss

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