Peirópolis, a terra mineira dos dinossauros

No princípio, era para ser só uma área de de calcário, estruturada em duas fábricas, fundadas por um empresário espanhol de nome Francisco Peiró, no ano de 1911, no município de Uberaba, no Triângulo Mineiro.

Com o tempo, porém, as fábricas, que chegaram a contratar cerca de 150 , assim como o trecho de rodovia que levava o calcário para São Paulo (1889–1976), foram desativados, e o distrito uberabense de Peirópolis só voltou a ser notícia no início da década de 1980, com a descoberta dos dinossauros pela equipe do paleontólogo brasileiro Llewellyn Ivor Price (1905 –1980).

Até o final dos anos 1980, os fósseis encontrados em Peirópolis eram todos enviados para o do Rio de Janeiro. Uma mobilização comunitária do vilarejo de Peirópolis, liderada por Beetowen Luiz Teixeira, conseguiu interromper esse fluxo.

Em julho de 1992, foi fundado o Centro de Pesquisas Paleontólogicas Llewellyn Ivor Price e Museu dos Dinossauros, que desde então abriga todos os fósseis descobertos na região. E, em 2004, foi inaugurada em Peirópolis a Rede Nacional de Paleontologia, um moderno centro de pesquisa que une os principais centros arqueológicos do país.

Foram encontrados em Peirópolis diversos tipos de fósseis de moluscos, vegetais e vertebrados datados entre 65 e 72 milhões de anos, em excelente estado de . Dentre eles, encontram-se uma carapaça quase completa de uma pequena tartaruga, pequenos lagartos, iguanas (Pristiguana brasiliense), duas espécies de crocodilos (Uberabasuchus e Peirossaurus), Sauropodes (Uberabatitan rebeiroi), Terópodes e Velocipaptorídeos.

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A DOS DINOSSAUROS

Foram também encontrados ali três grupos de dinossauros: Titanossauro – o primeiro de que se teve registro na região. São fósseis de grandes dinossauros herbívoros e quadrúpedes; Terópodes –  os fósseis de um grande dinossauro carnívoro foram encontrados às margens da BR 050 durante a duplicação da rodovia, além de já se ter registro através de dentes e ovos destes nas escavações nos pontos de coleta localizados próximos a Peirópolis; e Velociraptor –  é um grupo um pouco menor no qual encontravam-se dinossauros bem ágeis como os retratados no Jurassic Park.

UBERABASUCHUS TERRIFICUS

O Uberabasuchus terrificus cujo nome significa “Crocodilo Terrível de Uberaba”, considerado a maior descoberta da paleontologia brasileira, foi encontrado no ano 2.000 pelo técnico em escavações Rodrigo Santos da Silva, com cerca de 80% do seu esqueleto intacto.  Estudos minuciosos levaram à conclusão de que o achado se trata de um esqueleto de crocodilo carnívoro que viveu há 70 milhões de anos, durante o período Cretáceo superior (100–65 milhões de anos). Estima-se que ele media aproximadamente 2,5 metros de comprimento e pesava cerca de 300 kg, era cruel, comia suas vítimas vivas, possuía hábitos terrestres, vivia em regiões próximas a rios e lagos e provavelmente foi soterrado repentinamente.

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O MUSEU DOS DINOSSAUROS

Depois, na sala de exposição, podem-se ver dezenas de réplicas e ilustrações que, juntamente com os fósseis, mostram detalhes e características de cada . Ali mesmo, protegido por uma parede de vidro, encontra-se também o laboratório onde são feitas as pesquisas e a limpeza dos fósseis.

Nos belos e bem cuidados jardins do Museu, que faz parte do Complexo Científico Cultural de Peirópolis, encontram-se réplicas dos dinossauros encontrados, incluindo o Uberabasuchus terrificus.

O complexo, administrado pela Fundação Cultural de Uberaba, e desde 2011 vinculado à Universidade Federal do Triângulo Mineiro e à Secretaria de Estado de , e Ensino Superior de Minas Gerais, encontra-se aberto à visitação pública de terça a sexta-feira, das 8 às 17 horas, e aos sábados, domingos e feriados das 8 às 18 horas.

Ao chegar ao Museu dos Dinossauros, localizado às margens da rodovia BR-262, km 784, a 20 km do centro de Uberaba, na antiga estação de trem da Companhia Mogiana de Estradas de Ferro, quem nos recebe é uma enorme réplica de um dinossauro herbívoro, obra do artista e escultor Northon de Azevedo Fenerich.

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Zezé Weiss
Jornalista Socioambiental

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UMA REVISTA PRA CHAMAR DE NOSSA

Era novembro de 2014. Primeiro fim de semana. Plena campanha da Dilma. Fim de tarde na RPPN dele, a Linda Serra dos Topázios. Jaime e eu começamos a conversar sobre a falta que fazia termos acesso a um veículo independente e democrático de informação.

Resolvemos fundar o nosso. Um espaço não comercial, de resistência. Mais um trabalho de militância, voluntário, por suposto. Jaime propôs um jornal; eu, uma revista. O nome eu escolhi (ele queria Bacurau). Dividimos as tarefas. A capa ficou com ele, a linha editorial também.

Correr atrás da grana ficou por minha conta. A paleta de cores, depois de larga prosa, Jaime fechou questão – “nossas cores vão ser o vermelho e o amarelo, porque revista tem que ter cor de luta, cor vibrante” (eu queria verde-floresta). Na paz, acabei enfiando um branco.

Fizemos a primeira edição da Xapuri lá mesmo, na Reserva, em uma noite. Optamos por centrar na pauta socioambiental. Nossa primeira capa foi sobre os povos indígenas isolados do Acre: ‘Isolados, Bravos, Livres: Um Brasil Indígena por Conhecer”. Depois de tudo pronto, Jaime inventou de fazer uma outra boneca, “porque toda revista tem que ter número zero”.

Dessa vez finquei pé, ficamos com a capa indígena. Voltei pra Brasília com a boneca praticamente pronta e com a missão de dar um jeito de imprimir. Nos dias seguintes, o Jaime veio pra Formosa, pra convencer minha irmã Lúcia a revisar a revista, “de grátis”. Com a primeira revista impressa, a próxima tarefa foi montar o Conselho Editorial.

Jaime fez questão de visitar, explicar o projeto e convidar pessoalmente cada conselheiro e cada conselheira (até a doença agravar, nos seus últimos meses de vida, nunca abriu mão dessa tarefa). Daqui rumamos pra Goiânia, para convidar o arqueólogo Altair Sales Barbosa, nosso primeiro conselheiro. “O mais sabido de nóis,” segundo o Jaime.

Trilhamos uma linda jornada. Em 80 meses, Jaime fez questão de decidir, mensalmente, o tema da capa e, quase sempre, escrever ele mesmo. Às vezes, ligava pra falar da ótima ideia que teve, às vezes sumia e, no dia certo, lá vinha o texto pronto, impecável.

Na sexta-feira, 9 de julho, quando preparávamos a Xapuri 81, pela primeira vez em sete anos, ele me pediu para cuidar de tudo. Foi uma conversa triste, ele estava agoniado com os rumos da doença e com a tragédia que o Brasil enfrentava. Não falamos em morte, mas eu sabia que era o fim.

Hoje, cá estamos nós, sem as capas do Jaime, sem as pautas do Jaime, sem o linguajar do Jaime, sem o jaimês da Xapuri, mas na labuta, firmes na resistência. Mês sim, mês sim de novo, como você sonhava, Jaiminho, carcamos porva e, enfim, chegamos à nossa edição número 100. E, depois da Xapuri 100, como era desejo seu, a gente segue esperneando.

Fica tranquilo, camarada, que por aqui tá tudo direitim.

Zezé Weiss

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