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Pequena reflexão sobre a rede hídrica urbana

Pequena reflexão sobre a rede hídrica urbana

Por Altair Sales Barbosa

Quando se analisa a rede hídrica que alimenta ou nasce em grandes e médios polos urbanos, há que se levar em consideração alguns fatores.  Aqueles que afetam a qualidade da água, são de “aparente” solução, dado que já existem tecnologias para o tratamento da água reutilizada.

Entretanto, outros fatores, além de serem de difíceis soluções, provavelmente nunca serão resolvidos, se o modelo econômico que motiva as expansões urbanas desordenadas não for solucionado radicalmente. E isso independe da boa vontade do gestor urbano e de seus técnicos.

O primeiro fator nesse sentido se refere ao desenfreado das áreas de recargas dos aquíferos das águas superficiais urbanas, fato que provoca, no início, o desaparecimento das nascentes, em seguida, vem a diminuição da vazão e, no futuro, acontece o desaparecimento total do curso d'água.

Esse fator independe da boa vontade do gestor urbano, pois várias nascentes se situam fora do município do qual o agente é gestor, fato que exige uma ação integrada regional na busca de uma solução plausível, o que se torna difícil, por causa das diferenças ideológicas e das prioridades de cada município.

O segundo fator, que também independe ainda mais do gestor urbano, se refere ao fenômeno conhecido em Geografia Agrária como “desterritorialização”. Como consequência de uma política agrária nacional mal planejada, gerando uma migração em massa das populações rurais para as áreas urbanas.

Nas áreas urbanas, essa população migrante, que na sua maioria tem baixo poder aquisitivo, vai ocupar preferencialmente as margens dos córregos, criando problemas sociais, ambientais e de saúde, de difíceis soluções. Com o passar do tempo, essa população, nesses locais assentada, começa a fazer uma série de exigências para seu melhor bem-estar: pavimentação das áreas, linhas elétricas, prédios públicos para escolas e atendimentos de saúde, áreas de recreação etc.

Os problemas que surgem são tantos que não cabe enumerá-los neste espaço, mas é importante que se diga que não há Plano Diretor que consiga conter tais distorções. A pavimentação de novas áreas reduz drasticamente a infiltração das águas pluviais no solo, trazendo, num primeiro instante, enchentes catastróficas. Mas, com o tempo, vem a diminuição da vazão do curso de água, até o seu total desaparecimento. A pavimentação ainda provoca as ilhas de calor, com suas inúmeras consequências, inclusive as climáticas.

Goiás foto

O CASO ESPECIAL DA CIDADE DE GOIÂNIA

A represa de abastecimento para a grande Goiânia, efetuada na sub-bacia do ribeirão João Leite, tornou-se uma obra necessária para atender a demanda das políticas que promovem as aglomerações urbanas concentradas, desordenadas e repentinas.

À primeira vista dá-se a impressão, para as pessoas leigas, que o problema de abastecimento de Goiânia foi e será resolvido. Isso é verdade, para quem pensa só no presente. Mas, em médio prazo, torna-se necessário que alguns pontos sejam levados em consideração:

  • A represa ocupa um pequeno relicto de uma área que historicamente vem sendo degradada, o antigo Mato Grosso Goiano, portanto uma área ambientalmente em desequilíbrio.
  • O desequilíbrio provocado pela transformação ambiental já trouxe várias epidemias de dengue e outras novas que em breve afetarão a região.
  • Basta analisarmos as consequências que a Biogeografia alerta sobre os desequilíbrios ambientais. A área coberta pela lâmina d'água transformou um ambiente lótico em bêntico.
  • Nesse ambiente o processo de sedimentação é lento, o que provoca a argilicificação do fundo do lago, impedindo que a água represada, abasteça os lençóis profundos, pois a argila é uma rocha impermeável.
  • A área de abrangência da represa inundou nascentes de pequenos córregos. Isso significa que as sufocou para sempre e que elas não mais alimentam a represa.
  • A vegetação sufocada pela água represada, em decomposição, provoca a liberação do metano, que contribui para o aumento do efeito estufa.
  • Como a represa não está sendo mais alimentada pelos seus originais alimentadores, pois muitos já desapareceram, passa a depender das águas das chuvas.

A instabilidade climática experimentada atualmente pelo Planeta, provocada por fenômenos naturais, poderá trazer situações inesperadas, ou de muita chuva ou de secas prolongadas, para a região.

Em ambos os casos, a situação merece o alerta adequado, pois trazem no seu bojo problemas imprevisíveis.

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UMA REVISTA PRA CHAMAR DE NOSSA

Era novembro de 2014. Primeiro fim de semana. Plena campanha da Dilma. Fim de tarde na RPPN dele, a Linda Serra dos Topázios. Jaime e eu começamos a conversar sobre a falta que fazia termos acesso a um veículo independente e democrático de informação.

Resolvemos fundar o nosso. Um espaço não comercial, de resistência. Mais um trabalho de militância, voluntário, por suposto. Jaime propôs um jornal; eu, uma revista. O nome eu escolhi (ele queria Bacurau). Dividimos as tarefas. A capa ficou com ele, a linha editorial também.

Correr atrás da grana ficou por minha conta. A paleta de cores, depois de larga prosa, Jaime fechou questão – “nossas cores vão ser o vermelho e o amarelo, porque revista tem que ter cor de luta, cor vibrante” (eu queria verde-floresta). Na paz, acabei enfiando um branco.

Fizemos a primeira edição da Xapuri lá mesmo, na Reserva, em uma noite. Optamos por centrar na pauta socioambiental. Nossa primeira capa foi sobre os povos indígenas isolados do Acre: ‘Isolados, Bravos, Livres: Um Brasil Indígena por Conhecer”. Depois de tudo pronto, Jaime inventou de fazer uma outra boneca, “porque toda revista tem que ter número zero”.

Dessa vez finquei pé, ficamos com a capa indígena. Voltei pra Brasília com a boneca praticamente pronta e com a missão de dar um jeito de imprimir. Nos dias seguintes, o Jaime veio pra Formosa, pra convencer minha irmã Lúcia a revisar a revista, “de grátis”. Com a primeira revista impressa, a próxima tarefa foi montar o Conselho Editorial.

Jaime fez questão de visitar, explicar o projeto e convidar pessoalmente cada conselheiro e cada conselheira (até a doença agravar, nos seus últimos meses de vida, nunca abriu mão dessa tarefa). Daqui rumamos pra Goiânia, para convidar o arqueólogo Altair Sales Barbosa, nosso primeiro conselheiro. “O mais sabido de nóis,” segundo o Jaime.

Trilhamos uma linda jornada. Em 80 meses, Jaime fez questão de decidir, mensalmente, o tema da capa e, quase sempre, escrever ele mesmo. Às vezes, ligava pra falar da ótima ideia que teve, às vezes sumia e, no dia certo, lá vinha o texto pronto, impecável.

Na sexta-feira, 9 de julho, quando preparávamos a Xapuri 81, pela primeira vez em sete anos, ele me pediu para cuidar de tudo. Foi uma conversa triste, ele estava agoniado com os rumos da doença e com a tragédia que o Brasil enfrentava. Não falamos em morte, mas eu sabia que era o fim.

Hoje, cá estamos nós, sem as capas do Jaime, sem as pautas do Jaime, sem o linguajar do Jaime, sem o jaimês da Xapuri, mas na labuta, firmes na resistência. Mês sim, mês sim de novo, como você sonhava, Jaiminho, carcamos porva e, enfim, chegamos à nossa edição número 100. E, depois da Xapuri 100, como era desejo seu, a gente segue esperneando.

Fica tranquilo, camarada, que por aqui tá tudo direitim.

Zezé Weiss

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