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Pirralha

CARTA PARA ALICE: “PIRRALHA,”

Carta para Alice: “Pirralha, 

Volte ao seu espelho e lá admire-se, com a ilusão com que a visão promove a definição que seja você aos olhos de quem a observe (mesmo que seja você mesma), mas que não é capaz de definir o que você realmente é ou o que se esconde por trás do espelho de teus olhos…
 
 
Pirralha,
 
Fala-me em liberdade e alegria quando caminhas em solitária existência, em busca de escapastes da inevitável melancolia a que insiste em abrigar em teu ser…
 
Você tenta, mas o que não compreendes é que não adianta sonhar com o amanhã, quando tua vontade fraqueja em caminhar no presente… Se iludes em olhar o céu cinza e crer que ele se mostra azul aos teus olhos.
 
E tu choras…
 
E falas comigo como se acaso minha percepção à tua se assemelhasse quando, ao contrário, dela se interpõe, tal qual o esplendor do astro-rei dilui as sombras da soberana da noite. Não lembras que a mim pregastes a pecha da ilusão, ao lembrar do meu fascínio em transformar meu jardim?
 
Esse fascínio, frágil , nada mais é que a certeza que o que é real ou não, a mim pertence a decisão. Eu não sonho, pequena, eu transformo… eu vivo… Mas não pense que o entorpecimento do sono não me conduz ao reino etéreo das visões, pois, dele também sou soberana.
 
Quando transmuto meu jardim em vermelhas cores, mostro que a mim pertence decidir o que é belo e agradável. Fria… insensível… Assim como devemos ser quando precisamos olhar a de nosso ser, quando precisamos decidir que realidade queremos, que sopro nos moverá adiante…
Livre, menina… Veja… Livre…
 
Assim caminho sobre esse ladrilho de mosaicos existenciais seguindo adiante, sentindo a leveza do desapego pelo imutável, olhando para o infinito azulado com a inveja pela incapacidade de infligir seu desejo de muda-lo também, assim como faço com as delicadas rosas de meu jardim.
 
Feliz estavas enquanto outros tristes te olhavam? Essa liberdade vivida e a frágil alegria que me contastes em tua recente carta não suporta o amanhã que te esperas, onde os monstros que criastes em teu ser sempre buscam de ti chegar-se… E assim vivem todos que não entendem que o tabuleiro sobre o qual jogamos esse xadrez existencial devemos sempre ser a rainha, livres das limitações impostas pelo mundo.
 
Veja, criança… olhe com que pinto essa carta que agora te envio… sinta o leve perfume que preenche teu sentido… perceba sua suavidade ao toque de tuas pequeninas mãos… compreenda que nossos sentidos são os barões que nos governam, e sussurram aos nossos pensamentos o que ‘sonham’ ao nos transmitirem o que ao nosso redor preenche a nossa existência…
 
Me despeço exortando-te a pintar tua existência como bem desejares, pois, essa existência não é aquilo que nos impõe a tal ‘realidade’ que vemos, ou, pior, aquilo que nos obrigam a aceitar… Tudo é como o sentimento, querida alma: do amor ao ódio, o que os separa somente é a tênue definição do que amamos ou odiamos…
 
Volte ao seu espelho e lá admire-se, com a ilusão com que a visão promove a definição que seja você aos olhos de quem a observe (mesmo que seja você mesma), mas que não é capaz de definir o que você realmente é ou o que se esconde por trás do espelho de teus olhos…
 
Com apreço e sentimentos maternos,
 
R. de Copas,
 
10 Primidi, mês de Prairial”
 
Jairo Lima – , escritor e gestor do blog cronicasindigenistas
 
Jairo flores jovem alma

O livro conta a de uma menina chamada Alice que cai numa toca de coelho que a transporta para um lugar fantástico povoado por criaturas peculiares e antropomórficas, revelando uma lógica do absurdo, característica dos sonhos.

Este está repleto de alusões satíricas dirigidas tanto aos amigos como aos inimigos de Carroll, de paródias a poemas populares infantis ingleses ensinados no século XIX e também de referências linguísticas e matemáticas frequentemente através de enigmas que contribuíram para a sua popularidade.

É assim uma obra de difícil interpretação pois contém dois livros num só texto: um para crianças e outro para adultos.

Este livro possui uma continuação Alice do Outro Lado do Espelho, e ambos influenciam ainda diversas obras como The League of Extraordinary Gentlemen, de Alan Moore e Sandman, de Neil Gaiman.

Alice Liddell 2
Retrato de Alice Liddell no Verão de 1858.

ORIGEM

Em 4 de julho de 1862, durante um passeio de barco pelo rio Tâmisa, Charles Lutwidge Dodgson (Lewis Carroll), que então tinha 30 anos, na companhia do seu amigo Robinson Duckworth, conta uma história de improviso para entreter as três irmãs Liddell (Loriny Charlotte de 13 anos, Alice Pleasance Liddell de 10 anos, e Edith Mary, mais nova de 8 anos).

Eram filhas de Henry George Liddell, o vice-chanceler da de Oxford e decano da Christ Church, bem como diretor da de Westminster. O passeio começou em Folly Bridge, perto de Oxford e terminou na aldeia de Godstow.

Dando inicio ao conto de fadas das aventuras subterrâneas de Alice, em que a maior parte das aventuras foram baseadas e influenciadas em pessoas, situações e edifícios de Oxford e da Christ Church, onde por exemplo, o Buraco do Coelho (Rabbit Hole) simbolizava as escadas na parte de trás do salão principal na Christ Church.

Acredita-se que uma escultura de um grifo e de um coelho presente na Catedral de Ripon, onde o pai de Carroll foi um membro, forneceu também inspiração para o conto.

Essa história imprevista deu origem, a 26 de novembro de 1864, ao manuscrito de Alice Debaixo da Terra (título original Alice’s Adventures Under Ground) com a finalidade de oferecer à Alice Pleasance Liddell a história transcrita para o papel.

Mais tarde, influenciado tanto pelos seus amigos como pelo seu mentor George MacDonald (também escritor de infantil), decidiu publicar o livro e mudou a versão original, aumentando de 18 mil palavras para 35 mil, acrescentando notavelmente as cenas do Gato de Cheshire e do Chapeleiro Louco (ou Chapeleiro Maluco).

Deste modo, a 4 de julho de 1865 (precisamente três anos após a viagem), a história de Dodgson foi publicada na forma como é conhecida hoje, com ilustrações de John Tenniel. Porém, a tiragem inicial de dois mil exemplares foi removida das prateleiras devido a reclamações do ilustrador sobre a qualidade da impressão.

A segunda tiragem, ostentando a data de 1866, ainda que tenha sido impressa em dezembro de 1865, esgotou-se nas vendas rapidamente, tornando-se um grande sucesso, tendo sido lida por Oscar Wilde e pela rainha Vitória. Na vida do autor, o livro rendeu cerca de 180 mil cópias. Foi traduzida para mais de 125 línguas e só na língua inglesa teve mais de 100 edições.

Em 1998, a primeira impressão do livro (que fora rejeitada) foi leiloada por 1,5 milhão de dólares americanos.

Algumas impressões desta obra contêm tanto As Aventuras de Alice no País das Maravilhas, como também a sua sequência Alice no Outro Lado do Espelho.

 

 

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UMA REVISTA PRA CHAMAR DE NOSSA

revista 119

Era novembro de 2014. Primeiro fim de semana. Plena campanha da Dilma. Fim de tarde na RPPN dele, a Linda Serra dos Topázios. Jaime e eu começamos a conversar sobre a falta que fazia termos acesso a um veículo independente e democrático de informação.

Resolvemos fundar o nosso. Um espaço não comercial, de resistência. Mais um trabalho de militância, voluntário, por suposto. Jaime propôs um jornal; eu, uma revista. O nome eu escolhi (ele queria Bacurau). Dividimos as tarefas. A capa ficou com ele, a linha editorial também.

Correr atrás da grana ficou por minha conta. A paleta de cores, depois de larga prosa, Jaime fechou questão – “nossas cores vão ser o vermelho e o amarelo, porque revista tem que ter cor de luta, cor vibrante” (eu queria verde-floresta). Na paz, acabei enfiando um branco.

Fizemos a primeira edição da Xapuri lá mesmo, na Reserva, em uma noite. Optamos por centrar na pauta socioambiental. Nossa primeira capa foi sobre os povos indígenas isolados do Acre: ‘Isolados, Bravos, Livres: Um Brasil Indígena por Conhecer”. Depois de tudo pronto, Jaime inventou de fazer uma outra boneca, “porque toda revista tem que ter número zero”.

Dessa vez finquei pé, ficamos com a capa indígena. Voltei pra Brasília com a boneca praticamente pronta e com a missão de dar um jeito de imprimir. Nos dias seguintes, o Jaime veio pra Formosa, pra convencer minha irmã Lúcia a revisar a revista, “de grátis”. Com a primeira revista impressa, a próxima tarefa foi montar o Conselho Editorial.

Jaime fez questão de visitar, explicar o projeto e convidar pessoalmente cada conselheiro e cada conselheira (até a doença agravar, nos seus últimos meses de vida, nunca abriu mão dessa tarefa). Daqui rumamos pra Goiânia, para convidar o arqueólogo Altair Sales Barbosa, nosso primeiro conselheiro. “O mais sabido de nóis,” segundo o Jaime.

Trilhamos uma linda jornada. Em 80 meses, Jaime fez questão de decidir, mensalmente, o tema da capa e, quase sempre, escrever ele mesmo. Às vezes, ligava pra falar da ótima ideia que teve, às vezes sumia e, no dia certo, lá vinha o texto pronto, impecável.

Na sexta-feira, 9 de julho, quando preparávamos a Xapuri 81, pela primeira vez em sete anos, ele me pediu para cuidar de tudo. Foi uma conversa triste, ele estava agoniado com os rumos da doença e com a tragédia que o Brasil enfrentava. Não falamos em morte, mas eu sabia que era o fim.

Hoje, cá estamos nós, sem as capas do Jaime, sem as pautas do Jaime, sem o linguajar do Jaime, sem o jaimês da Xapuri, mas na labuta, firmes na resistência. Mês sim, mês sim de novo, como você sonhava, Jaiminho, carcamos porva e, enfim, chegamos à nossa edição número 100. E, depois da Xapuri 100, como era desejo seu, a gente segue esperneando.

Fica tranquilo, camarada, que por aqui tá tudo direitim.

Zezé Weiss

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