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POVOS INDÍGENAS: ‘NÃO VAMOS SOBREVIVER SEM FLORESTAS’

POVOS INDÍGENAS: ‘NÃO VAMOS SOBREVIVER SEM FLORESTAS’

Povos Indígenas: ‘Não vamos sobreviver sem florestas’

Ameaçados pelo avanço das queimadas nas florestas da Amazônia brasileira, indígenas cobram políticas de proteção ao meio ambiente no Amazonas

Por Henderson Martins

Com os elevados índices de incêndios na Amazônia, o grande temor de quem vive no coração da floresta, os verdadeiros donos das terras brasileiras, os índios, temem pela devastação do verde, do ecossistema e de tudo que faz com que o Amazonas seja diferente das demais regiões do Brasil e do mundo.

Relatos do índio Adail Munduruku, da terra indígena “kwata” e laranjal, do povo “Munduruku” mostram o sofrimento do povo indígena diante da devastação da floresta por conta das queimadas e a tentativa de manter em pé a maior biodiversidade do planeta. Ele ressalta que, de todo território do Amazonas, 30% é terra indígena, o que comprova a contribuição dos povos indígenas na preservação da floresta.

“O que queremos é preservar a natureza como ela é, a mãe terra. Nós indígenas sem terras não somos nada, sem terras esquecemos a nossa cultura, sem terras nós não produzimos o básico para o nosso alimento. Sem terras, não somos nada, nós perdemos a nossa vida, nosso espirito”, diz o índio.

Adail Munduruku explica que existe uma grande dificuldade de conscientizar a população sobre a manutenção do meio ambiente. “Observamos muitas reuniões paralelas e nós, que somos os verdadeiros guardiões da floresta, ficamos muito de fora dessas discussões”, diz a liderança indígena.

Os Mundurukus vivem em sua grande maioria, ao leste, do Amazonas, nas proximidades do rio Canumã, no município de Nova Olinda do Norte (a 135 quilômetros de Manaus); e próximo à rodovia federal Transamazônica, no município de Borba (a 151 quilômetros de Manaus). Povo que dominava culturalmente a região do Vale do Tapajós, nos primeiros contatos durante o século XIX, era conhecido como Mundurukânia.

Adail contou que, no município de Borba, em Nova Olinda, no rio Madeira, a terra demarcada é de 1.275 quilômetros de hectares de terras. “É uma extensão muito imensa. Mas, todos nós temos que ser os defensores da natureza, não apenas os índios, pois, daqui há alguns anos, tudo isso pode acabar.

Creio que o Governo Federal precisa chamar os povos indígenas para uma discussão profunda, junto com o Ministério do Meio Ambiente e o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) para ver uma melhor forma de proteger a natureza e evitar as degradações do meio ambiente”, avalia.

O índio José Nazário, da etnia Ticuna, disse que não entende como se deixa o fogo atingir uma grande proporção, sem tomadas de decisões objetivas para evitar a destruição da floresta de forma imediata. “Só falam no aumento do número de queimadas, mas, ninguém toma uma atitude para evitar que o fogo se propague”, comenta Nazário.

Fundo Amazônia

O ticuna diz que muitos indígenas não têm conhecimento do Fundo Amazônia e não sabem como o recurso pode ser investido em melhorias e desenvolvimento da Região, sem que haja a degradação do meio ambiente.

“O recurso poderia ser destinado, também, para o desenvolvido de novas tecnologias para melhoria do saneamento básico, educação e saúde, sempre com manutenção da floresta. O único problema que vejo, é que esse recurso nunca chegou, ao menos, na minha aldeia, e nós ficamos desassistidos. A saúde indígena, por exemplo, está em péssima qualidade”, afirma.

Os índios ticunas são originários do igarapé Eware, situado nas nascentes do igarapé São Jerônimo (Tonatü), tributário da margem esquerda do rio Solimões, no trecho entre Tabatinga e São Paulo de Olivença, de acordo com o Instituto Socioambiental.

Fonte: Em Tempo

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UMA REVISTA PRA CHAMAR DE NOSSA

Era novembro de 2014. Primeiro fim de semana. Plena campanha da Dilma. Fim de tarde na RPPN dele, a Linda Serra dos Topázios. Jaime e eu começamos a conversar sobre a falta que fazia termos acesso a um veículo independente e democrático de informação.

Resolvemos fundar o nosso. Um espaço não comercial, de resistência. Mais um trabalho de militância, voluntário, por suposto. Jaime propôs um jornal; eu, uma revista. O nome eu escolhi (ele queria Bacurau). Dividimos as tarefas. A capa ficou com ele, a linha editorial também.

Correr atrás da grana ficou por minha conta. A paleta de cores, depois de larga prosa, Jaime fechou questão – “nossas cores vão ser o vermelho e o amarelo, porque revista tem que ter cor de luta, cor vibrante” (eu queria verde-floresta). Na paz, acabei enfiando um branco.

Fizemos a primeira edição da Xapuri lá mesmo, na Reserva, em uma noite. Optamos por centrar na pauta socioambiental. Nossa primeira capa foi sobre os povos indígenas isolados do Acre: ‘Isolados, Bravos, Livres: Um Brasil Indígena por Conhecer”. Depois de tudo pronto, Jaime inventou de fazer uma outra boneca, “porque toda revista tem que ter número zero”.

Dessa vez finquei pé, ficamos com a capa indígena. Voltei pra Brasília com a boneca praticamente pronta e com a missão de dar um jeito de imprimir. Nos dias seguintes, o Jaime veio pra Formosa, pra convencer minha irmã Lúcia a revisar a revista, “de grátis”. Com a primeira revista impressa, a próxima tarefa foi montar o Conselho Editorial.

Jaime fez questão de visitar, explicar o projeto e convidar pessoalmente cada conselheiro e cada conselheira (até a doença agravar, nos seus últimos meses de vida, nunca abriu mão dessa tarefa). Daqui rumamos pra Goiânia, para convidar o arqueólogo Altair Sales Barbosa, nosso primeiro conselheiro. “O mais sabido de nóis,” segundo o Jaime.

Trilhamos uma linda jornada. Em 80 meses, Jaime fez questão de decidir, mensalmente, o tema da capa e, quase sempre, escrever ele mesmo. Às vezes, ligava pra falar da ótima ideia que teve, às vezes sumia e, no dia certo, lá vinha o texto pronto, impecável.

Na sexta-feira, 9 de julho, quando preparávamos a Xapuri 81, pela primeira vez em sete anos, ele me pediu para cuidar de tudo. Foi uma conversa triste, ele estava agoniado com os rumos da doença e com a tragédia que o Brasil enfrentava. Não falamos em morte, mas eu sabia que era o fim.

Hoje, cá estamos nós, sem as capas do Jaime, sem as pautas do Jaime, sem o linguajar do Jaime, sem o jaimês da Xapuri, mas na labuta, firmes na resistência. Mês sim, mês sim de novo, como você sonhava, Jaiminho, carcamos porva e, enfim, chegamos à nossa edição número 100. E, depois da Xapuri 100, como era desejo seu, a gente segue esperneando.

Fica tranquilo, camarada, que por aqui tá tudo direitim.

Zezé Weiss

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