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Quando a seca chega a Brasília… a gente vira quase réptil!

Quando a seca chega a Brasília… a gente vira quase réptil!
O brasiliense é, antes de tudo, um réptil…
Por Laurez Cerqueira
 
Árvores peladas, chão coberto de folhas, gente feito répteis serpenteando os caminhos poeirentos dos gramados pardos da cidade.
 
No fim do dia, uma bola vermelha enorme, disforme, treme no horizonte, na lente feita de fuligen, de partículas suspensas, e é engolida pela boca seca da noite.
 
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Dá vontade de ir embora a procura de sombra e água fresca.
 
Mas eis que o solo fermenta, a seiva sobe por caules desfolhados e pipocam flores coloridas nas pontas dos galhos.
 
Matuto que sou, fico encantado com os manacás, ipês, sucupiras, angicos brancos,  e com todas as árvores atrevidas do que desafiam a seca, me distraio com isso a espera das primeiras chuvas.
 
Quando a chuva cai, tudo brota, tudo se renova e um verde viçoso, novinho em folhas, tinge a paisagem.
 
Os insetos que se enfiaram debaixo da terra para se protegerem da intempérie, grudados nas raízes úmidas de plantas e árvores, saem dos buracos que se meteram, escalam os troncos em verdadeiras expedições, em busca do néctar das flores, de resinas, passeiam nas cores das pétalas e se fartam.
 
A passarada, na espreita, espera uma suculenta formiga distraída, uma joaninha, uma alegre cigarra zoando por aí, e crau! glup! Em segundos engole os insetos vivos.
 
De papo cheio, canta, de galho em galho, e faz a festa da estação.
 
Aí me acalmo.
 
Brasília seca Brasília de Fato

Quase um réptil

Respirando de boca seca, viro réptil serpenteando os gramados pardos da cidade.

É quando tenho vontade de ir embora para outro lugar à procura de sombra e água fresca.

Mas, curiosamente, parece que o solo fermenta, sobe em forma de seiva e faz pipocar flores coloridas nas pontas dos galhos das árvores peladas.

Matuto que sou, fico encantado com os manacás, os ipês, as sucupiras, me distraindo à espera das primeiras chuvas.

Do meu lajedo, ouço o silêncio do dia e o alvoroço dos insetos esfregando as patas nas tocas debaixo do chão, prontos para subir às manadas pelos troncos a procura de resinas gosmentas nos brotos, nas flores mortas, para a ceia da estação.

A passarada espreita os bichinhos e faz deles também o seu banquete. De papo cheio, canta, faz a festa.

Quando a chuva cai tudo brota, tudo se renova e um verde viçoso cobre a paisagem.

Aí me acalmo.

Fotos internas: Correio Braziliense e de Fato. Dica desta matéria: Helena Schuster.

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UMA REVISTA PRA CHAMAR DE NOSSA

Era novembro de 2014. Primeiro fim de semana. Plena campanha da Dilma. Fim de tarde na RPPN dele, a Linda Serra dos Topázios. Jaime e eu começamos a conversar sobre a falta que fazia termos acesso a um veículo independente e democrático de informação.

Resolvemos fundar o nosso. Um espaço não comercial, de resistência. Mais um trabalho de militância, voluntário, por suposto. Jaime propôs um jornal; eu, uma revista. O nome eu escolhi (ele queria Bacurau). Dividimos as tarefas. A capa ficou com ele, a linha editorial também.

Correr atrás da grana ficou por minha conta. A paleta de cores, depois de larga prosa, Jaime fechou questão – “nossas cores vão ser o vermelho e o amarelo, porque revista tem que ter cor de luta, cor vibrante” (eu queria verde-floresta). Na paz, acabei enfiando um branco.

Fizemos a primeira edição da Xapuri lá mesmo, na Reserva, em uma noite. Optamos por centrar na pauta socioambiental. Nossa primeira capa foi sobre os povos indígenas isolados do Acre: ‘Isolados, Bravos, Livres: Um Brasil Indígena por Conhecer”. Depois de tudo pronto, Jaime inventou de fazer uma outra boneca, “porque toda revista tem que ter número zero”.

Dessa vez finquei pé, ficamos com a capa indígena. Voltei pra Brasília com a boneca praticamente pronta e com a missão de dar um jeito de imprimir. Nos dias seguintes, o Jaime veio pra Formosa, pra convencer minha irmã Lúcia a revisar a revista, “de grátis”. Com a primeira revista impressa, a próxima tarefa foi montar o Conselho Editorial.

Jaime fez questão de visitar, explicar o projeto e convidar pessoalmente cada conselheiro e cada conselheira (até a doença agravar, nos seus últimos meses de vida, nunca abriu mão dessa tarefa). Daqui rumamos pra Goiânia, para convidar o arqueólogo Altair Sales Barbosa, nosso primeiro conselheiro. “O mais sabido de nóis,” segundo o Jaime.

Trilhamos uma linda jornada. Em 80 meses, Jaime fez questão de decidir, mensalmente, o tema da capa e, quase sempre, escrever ele mesmo. Às vezes, ligava pra falar da ótima ideia que teve, às vezes sumia e, no dia certo, lá vinha o texto pronto, impecável.

Na sexta-feira, 9 de julho, quando preparávamos a Xapuri 81, pela primeira vez em sete anos, ele me pediu para cuidar de tudo. Foi uma conversa triste, ele estava agoniado com os rumos da doença e com a tragédia que o Brasil enfrentava. Não falamos em morte, mas eu sabia que era o fim.

Hoje, cá estamos nós, sem as capas do Jaime, sem as pautas do Jaime, sem o linguajar do Jaime, sem o jaimês da Xapuri, mas na labuta, firmes na resistência. Mês sim, mês sim de novo, como você sonhava, Jaiminho, carcamos porva e, enfim, chegamos à nossa edição número 100. E, depois da Xapuri 100, como era desejo seu, a gente segue esperneando.

Fica tranquilo, camarada, que por aqui tá tudo direitim.

Zezé Weiss

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