O Racismo no lugar do Respeito: Turma “não se adaptou” a aluna negra

A turma que não “se adaptou” a ter uma aluna negra: uma denúncia de racismo!

Daquelas coisas que você lê no Facebook e não acredita que possa ser verdade diante do tamanho absurdo. Uma que recebeu uma ligação da da filha informando que ela estava sendo mudada de sala porque “a turma não se adaptou a ela”.

Como assim? A menina em questão tem 12 anos, de uma pele linda e reluzente, que gosta de usar um aplique trançado no próprio cabelo. Para a turma que “não se adaptou a ela” leia-se: não se adaptou a ela por ela ser negra. Ficou horrorizada? Eu também fiquei.

Lorena foi convidada a se retirar de uma turma onde alunos a discriminavam, desrespeitavam, soltavam piadinhas terríveis e ridículas. Assim, na lata: o errado vencendo o certo.

O bullying acima da tolerância às diferenças. O no lugar do respeito. Já que para a tal escola quem está fora dos padrões é a parte desrespeitada e não a parte que desrespeitou.

A mãe dela escreveu uma aberta. E nesta , não há como justificar o comportamento racista dos colegas da filha dela. Absolutamente nada justifica esta aberração. Camila, a mãe, conta que recebeu uma mensagem pelo WhatsApp da filha que dizia: “olha só o que sofro”. Junto com esta frase havia uma gravação que a menina fez com a voz dos colegas.

A sequência do que se ouve é deprimente. Os colegas disparam atrocidades do tipo: “Sua preta, testa de bater bife do cara******!”
“Eu sou racista mesmo, quando eu quero ser racista eu sou racista, entendeu?”
“Toda vez que eu encontrar ela na minha frente eu vou zuar até ela chorar”
“Você vai ficar neste grupo até você chorar”
“Cabelo de movediça, cabelo de miojo, cabelo de macarrão”

Isto não aconteceu há dois séculos atrás. Isto foi há duas semanas, em São Bernardo do Campo, . Que tipo de , adolescentes são estes? Que tipo de exemplos eles recebem em casa? Que vergonha desses pais.

As crianças são uma folha em branco, moldadas por nós e pelo ambiente em que vivem. E eu fico pensando o que a gente realmente precisa fazer na prática para ensinar os nossos filhos o quanto ser racista é absurdo.

É inadmissível deixar que eles usem termos pejorativos. É imprescindível explicar que cada um é de um jeito, mas somos todos iguais no quesito respeito.

Precisamos com urgência colocar a mão na consciência e trilhar um caminho para criar filhos bacanas e inteligentes e não criaturinhas preconceituosas e dignas de pena como estes meninos que ofenderam a Lorena.

Criana negra Lorena

Foto Lorena: da Família

ANOTE AÍ:

Por Fabiana Santos, do Tudo sobre minha mãe, publicada pelo Portal Geledés.

Fabiana Santos é jornalista, mãe de Felipe, de 10 anos e , de 4 anos. Eles moram em Washington-DC. O melhor amigo de Felipe se chama Leland e é negro. Mas isto não faz a menor diferença pra eles,  porque amizade não tem cor. 

Foto de Capa: Negra by Retratos de Inocência

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UMA REVISTA PRA CHAMAR DE NOSSA

Era novembro de 2014. Primeiro fim de semana. Plena campanha da Dilma. Fim de tarde na RPPN dele, a Linda Serra dos Topázios. Jaime e eu começamos a conversar sobre a falta que fazia termos acesso a um veículo independente e democrático de informação.

Resolvemos fundar o nosso. Um espaço não comercial, de resistência. Mais um trabalho de militância, voluntário, por suposto. Jaime propôs um jornal; eu, uma revista. O nome eu escolhi (ele queria Bacurau). Dividimos as tarefas. A capa ficou com ele, a linha editorial também.

Correr atrás da grana ficou por minha conta. A paleta de cores, depois de larga prosa, Jaime fechou questão – “nossas cores vão ser o vermelho e o amarelo, porque revista tem que ter cor de luta, cor vibrante” (eu queria verde-floresta). Na paz, acabei enfiando um branco.

Fizemos a primeira edição da Xapuri lá mesmo, na Reserva, em uma noite. Optamos por centrar na pauta socioambiental. Nossa primeira capa foi sobre os povos indígenas isolados do Acre: ‘Isolados, Bravos, Livres: Um Brasil Indígena por Conhecer”. Depois de tudo pronto, Jaime inventou de fazer uma outra boneca, “porque toda revista tem que ter número zero”.

Dessa vez finquei pé, ficamos com a capa indígena. Voltei pra Brasília com a boneca praticamente pronta e com a missão de dar um jeito de imprimir. Nos dias seguintes, o Jaime veio pra Formosa, pra convencer minha irmã Lúcia a revisar a revista, “de grátis”. Com a primeira revista impressa, a próxima tarefa foi montar o Conselho Editorial.

Jaime fez questão de visitar, explicar o projeto e convidar pessoalmente cada conselheiro e cada conselheira (até a doença agravar, nos seus últimos meses de vida, nunca abriu mão dessa tarefa). Daqui rumamos pra Goiânia, para convidar o arqueólogo Altair Sales Barbosa, nosso primeiro conselheiro. “O mais sabido de nóis,” segundo o Jaime.

Trilhamos uma linda jornada. Em 80 meses, Jaime fez questão de decidir, mensalmente, o tema da capa e, quase sempre, escrever ele mesmo. Às vezes, ligava pra falar da ótima ideia que teve, às vezes sumia e, no dia certo, lá vinha o texto pronto, impecável.

Na sexta-feira, 9 de julho, quando preparávamos a Xapuri 81, pela primeira vez em sete anos, ele me pediu para cuidar de tudo. Foi uma conversa triste, ele estava agoniado com os rumos da doença e com a tragédia que o Brasil enfrentava. Não falamos em morte, mas eu sabia que era o fim.

Hoje, cá estamos nós, sem as capas do Jaime, sem as pautas do Jaime, sem o linguajar do Jaime, sem o jaimês da Xapuri, mas na labuta, firmes na resistência. Mês sim, mês sim de novo, como você sonhava, Jaiminho, carcamos porva e, enfim, chegamos à nossa edição número 100. E, depois da Xapuri 100, como era desejo seu, a gente segue esperneando.

Fica tranquilo, camarada, que por aqui tá tudo direitim.

Zezé Weiss

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