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A retirada do mundo

A RETIRADA DO MUNDO: COMO É POSSÍVEL ESTAR NO MUNDO E RETIRAR-SE DELE?

Por:  Padre Joacir S. D´Abadia –

Fazer tal objeção sem olhar para as capacidades do homem pode, de imediato, até parecer que isto é impossível, visto que o homem atual cultiva em si uma tempestade barulhenta, dificultando a percepção do seu potencial, o qual lhe dá sua característica que o faz ser completamente distinto de todos os animais e que lhe faculta refletir sobre seus infinitos atos. Essa característica é a capacidade da interioridade.

O estar no mundo atual pode se dar de duas formas complementares distintas uma da outra:

  1. Estar no mundo e participar dele;
  2. Estar no mundo, porém, refugiar-se dentro de si mesmo, ou seja, usar a “ataraxia” que é o voltar para dentro de si suspendendo toda e qualquer forma de juízo.

Portanto, estar no mundo é perceber a si mesmo como sendo um ser capaz de realizar a relação interpessoal e usar dele para manter sua sobrevivência. Por outro lado, o homem mantém sua sobrevivência.

Por outro lado, o homem mantém pela interioridade a relação interpessoal, mas por causa do uso da ataraxia essa relação não será entre homem e homem, e sim, uma relação interpessoal com Deus, ao passo que Este é uma contínua presença na vida do homem, havendo, assim, uma relação com o Absoluto.

Quando o homem se debruça sobre a agitação e o barulho de sua deleitosa vida, ele, com o passar dos anos, vai se tornando oprimido e desfigurado pelo mau uso de sua vivência no mundo, fica impedido de comtemplar visivelmente toda a beleza criada por Deus.

Assim, com a vida marcada pela tribulação, só poderá transbordar do homem aquilo que foi por ele cultivado todo o tempo, a saber:  violência, medo, concupiscência, ignorância e perturbações psicológicas como astenia, fobia, angústia e istênia, sem falar em outras coisas que possam estar oprimindo a alma humana.

Mediante o uso da introspecção, interioridade, o homem se encontra num estado de vida, liberto de qualquer cativeiro que o levaria a uma ruína. Com efeito, pela introspecção surge uma nova vida, que transforma todo o interior do homem pelo conhecimento de si, das fragilidades, e, principalmente, seu valor, não só como um ser criado, mas também um ser dotado da mesma excelsa dignidade de seu criador.

Diante do exposto, percebe-se que é possível que o homem esteja no mundo e ao mesmo tempo não esteja participando de sua agitação, mas isso só é possível na medida em que ele utiliza sua capacidade de introspecção, que é um voltar-se para dentro de si mesmo. Assim, na medida em que o homem se retira, por meio da introspecção, da oscilação do mundo, ele encontra-se em melhores condições para estar nessa realidade sensível e se relacionar com as pessoas.

ANOTE AÍ:

Joacir 2

Padre Joacir S. D´Abadia – Pároco de Alto Paraíso de Goiás. Filósofo. Escritor. Articulista. Especialista em Docência do Ensino Superior. Membro da Academia de Letras e Artes do Nordeste Goiano (ALANEG) e da Casa do Poeta Brasileiro -Seção Formosa – GO. Colunista filosófico das revistas Xapuri e Bem-Viver, e do jornal Alô, Vicentinos.

Zap: 0XX61 – 9 9931 5433

E-Mail: joacirsoares@hotmail.com

Imagem de capa: Otoniel Fernandes Otoniel ARTE Brasil

 

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UMA REVISTA PRA CHAMAR DE NOSSA

Era novembro de 2014. Primeiro fim de semana. Plena campanha da Dilma. Fim de tarde na RPPN dele, a Linda Serra dos Topázios. Jaime e eu começamos a conversar sobre a falta que fazia termos acesso a um veículo independente e democrático de informação.

Resolvemos fundar o nosso. Um espaço não comercial, de resistência. Mais um trabalho de militância, voluntário, por suposto. Jaime propôs um jornal; eu, uma revista. O nome eu escolhi (ele queria Bacurau). Dividimos as tarefas. A capa ficou com ele, a linha editorial também.

Correr atrás da grana ficou por minha conta. A paleta de cores, depois de larga prosa, Jaime fechou questão – “nossas cores vão ser o vermelho e o amarelo, porque revista tem que ter cor de luta, cor vibrante” (eu queria verde-floresta). Na paz, acabei enfiando um branco.

Fizemos a primeira edição da Xapuri lá mesmo, na Reserva, em uma noite. Optamos por centrar na pauta socioambiental. Nossa primeira capa foi sobre os povos indígenas isolados do Acre: ‘Isolados, Bravos, Livres: Um Brasil Indígena por Conhecer”. Depois de tudo pronto, Jaime inventou de fazer uma outra boneca, “porque toda revista tem que ter número zero”.

Dessa vez finquei pé, ficamos com a capa indígena. Voltei pra Brasília com a boneca praticamente pronta e com a missão de dar um jeito de imprimir. Nos dias seguintes, o Jaime veio pra Formosa, pra convencer minha irmã Lúcia a revisar a revista, “de grátis”. Com a primeira revista impressa, a próxima tarefa foi montar o Conselho Editorial.

Jaime fez questão de visitar, explicar o projeto e convidar pessoalmente cada conselheiro e cada conselheira (até a doença agravar, nos seus últimos meses de vida, nunca abriu mão dessa tarefa). Daqui rumamos pra Goiânia, para convidar o arqueólogo Altair Sales Barbosa, nosso primeiro conselheiro. “O mais sabido de nóis,” segundo o Jaime.

Trilhamos uma linda jornada. Em 80 meses, Jaime fez questão de decidir, mensalmente, o tema da capa e, quase sempre, escrever ele mesmo. Às vezes, ligava pra falar da ótima ideia que teve, às vezes sumia e, no dia certo, lá vinha o texto pronto, impecável.

Na sexta-feira, 9 de julho, quando preparávamos a Xapuri 81, pela primeira vez em sete anos, ele me pediu para cuidar de tudo. Foi uma conversa triste, ele estava agoniado com os rumos da doença e com a tragédia que o Brasil enfrentava. Não falamos em morte, mas eu sabia que era o fim.

Hoje, cá estamos nós, sem as capas do Jaime, sem as pautas do Jaime, sem o linguajar do Jaime, sem o jaimês da Xapuri, mas na labuta, firmes na resistência. Mês sim, mês sim de novo, como você sonhava, Jaiminho, carcamos porva e, enfim, chegamos à nossa edição número 100. E, depois da Xapuri 100, como era desejo seu, a gente segue esperneando.

Fica tranquilo, camarada, que por aqui tá tudo direitim.

Zezé Weiss

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