RETIRE JESUS DO SEU DISCURSO DE ÓDIO

RETIRE JESUS DO SEU DISCURSO DE ÓDIO

Retire Jesus do seu discurso de ódio

Súplica de um Cidadão
Por Cezar Braga Said

Enquanto os homens exercem seus podres poderes
Morrer e matar de , de raiva e de sede
São tantas vezes gestos naturais
(Caetano Veloso)

Retire Jesus e o seu Evangelho de amor do seu discurso, pois ele não se coaduna com as suas ações. Há uma flagrante e escancarada contradição que somente quem está surdo não consegue, ainda, perceber.
Assuma sua homofobia, racismo, seu analfabetismo em , sua agressividade e seu narcisismo, mas não vincule nada disso àquele que preferiu a cruz a compactuar com qualquer negociata ou esquema corrupto.
Reconheça o ódio que mobiliza suas escolhas no que diz respeito ao , comunidades e , mas dissocie ele da de quem viveu apenas para amar sem ter uma pedra onde repousar a cabeça.
Evidencie o quanto você é vingativo(a)e usa do voto, do dinheiro, do carisma e do poder de ascendência sobre os outros para fazer valer seu ponto de vista.
Retire, por favor, o ar de mártir ou enviado(a) celeste. Sugiro que busque o Cristo pobre, humilde e simples. O da e não o que foi inventado por muitos que ao longo dos séculos se disseram e se dizem, ainda hoje, .
Abrace todo o seu materialismo, o seu alpinismo sócio-político e o seu desejo de ser idolatrado(a) travestido de causa popular .
Não esqueça, porém, que o Mestre dos Mestres afirmou que os últimos serão os primeiros e os primeiros serão os últimos.
Assuma perante a sua consciência a estreiteza dos seus valores e permita também que as pessoas o(a) vejam sem essa máscara facial envernizada, esse sorriso estudado que usa para seduzir e iludir.
Mas, separe isso daquele que lavou os pés dos seus discípulos para exemplificar quem era o maior .
Deixe que todos percebam o quanto para você, somente você está certo e que todos os que pensam diferente são inimigos de Deus, da e do .
Admita que nunca refletiu sobre o encontro de Jesus com a mulher samaritana e que nunca entendeu porque Ele insistia sempre em dialogar ao invés de impor .
Revele suas reais intenções quando defende torturadores, posturas machistas, ridiculariza nordestinos e, infelizmente, usa de tudo o que a vida pública oferece para beneficiar e proteger parentes.
Mas confesse que não consegue decodificar a frase: “ Ama ao próximo como a ti mesmo”.
É possível que nesse assunto de próximo, para você existam três categorias:
1. Não próximo
2. Quase próximo.
3. Próximo
E esses últimos serão sempre, única e exclusivamente, os que aplaudem as suas insanidades e excentricidades.
Cezar Braga Said

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UMA REVISTA PRA CHAMAR DE NOSSA

Era novembro de 2014. Primeiro fim de semana. Plena campanha da Dilma. Fim de tarde na RPPN dele, a Linda Serra dos Topázios. Jaime e eu começamos a conversar sobre a falta que fazia termos acesso a um veículo independente e democrático de informação.

Resolvemos fundar o nosso. Um espaço não comercial, de resistência. Mais um trabalho de militância, voluntário, por suposto. Jaime propôs um jornal; eu, uma revista. O nome eu escolhi (ele queria Bacurau). Dividimos as tarefas. A capa ficou com ele, a linha editorial também.

Correr atrás da grana ficou por minha conta. A paleta de cores, depois de larga prosa, Jaime fechou questão – “nossas cores vão ser o vermelho e o amarelo, porque revista tem que ter cor de luta, cor vibrante” (eu queria verde-floresta). Na paz, acabei enfiando um branco.

Fizemos a primeira edição da Xapuri lá mesmo, na Reserva, em uma noite. Optamos por centrar na pauta socioambiental. Nossa primeira capa foi sobre os povos indígenas isolados do Acre: ‘Isolados, Bravos, Livres: Um Brasil Indígena por Conhecer”. Depois de tudo pronto, Jaime inventou de fazer uma outra boneca, “porque toda revista tem que ter número zero”.

Dessa vez finquei pé, ficamos com a capa indígena. Voltei pra Brasília com a boneca praticamente pronta e com a missão de dar um jeito de imprimir. Nos dias seguintes, o Jaime veio pra Formosa, pra convencer minha irmã Lúcia a revisar a revista, “de grátis”. Com a primeira revista impressa, a próxima tarefa foi montar o Conselho Editorial.

Jaime fez questão de visitar, explicar o projeto e convidar pessoalmente cada conselheiro e cada conselheira (até a doença agravar, nos seus últimos meses de vida, nunca abriu mão dessa tarefa). Daqui rumamos pra Goiânia, para convidar o arqueólogo Altair Sales Barbosa, nosso primeiro conselheiro. “O mais sabido de nóis,” segundo o Jaime.

Trilhamos uma linda jornada. Em 80 meses, Jaime fez questão de decidir, mensalmente, o tema da capa e, quase sempre, escrever ele mesmo. Às vezes, ligava pra falar da ótima ideia que teve, às vezes sumia e, no dia certo, lá vinha o texto pronto, impecável.

Na sexta-feira, 9 de julho, quando preparávamos a Xapuri 81, pela primeira vez em sete anos, ele me pediu para cuidar de tudo. Foi uma conversa triste, ele estava agoniado com os rumos da doença e com a tragédia que o Brasil enfrentava. Não falamos em morte, mas eu sabia que era o fim.

Hoje, cá estamos nós, sem as capas do Jaime, sem as pautas do Jaime, sem o linguajar do Jaime, sem o jaimês da Xapuri, mas na labuta, firmes na resistência. Mês sim, mês sim de novo, como você sonhava, Jaiminho, carcamos porva e, enfim, chegamos à nossa edição número 100. E, depois da Xapuri 100, como era desejo seu, a gente segue esperneando.

Fica tranquilo, camarada, que por aqui tá tudo direitim.

Zezé Weiss

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