SEM ANISTIA!

SEM ANISTIA! 

SEM ANISTIA! 

Resistir parece ser o destino histórico da nossa frágil democracia, sempre açoitada por golpes, como o militar de 1964 e o jurídico-midiático de 2016, ambos com o trágico resultado da deposição do presidente João Goulart e da presidenta Dilma Roussef. São tragédias que massacram a alma democrática do povo brasileiro. 

Por Rodrigo Britto

O golpe de 1964 afundou nosso país em 21 anos de torturas, assassinatos e desaparecimentos de militantes, muitos deles e muitas delas da nossa categoria bancária. Já o golpe de 2016 escancarou as portas do arbítrio para os 580 dias da prisão de Lula e para a chegada ao poder do ex-presidente inelegível, artífice da intentona golpista de 2022.

Um golpe alimenta o outro, ou a tentativa de outro. A Anistia de 1979, que poupou a caserna da punição pelas mortes e massacres perpetrados pelo regime militar (1964-1985), abriu brechas para a tentativa fracassada do golpe de 2022, orquestrada, majoritariamente, por militares, e para que elementos golpistas de extrema-direita venham, agora, clamar por anistia para os crimes cometidos contra do Estado Democrático de Direito.

Do movimento sindical, da sociedade brasileira e, em especial, da nossa categoria bancária e demais trabalhadores/as do ramo financeiro, a resposta só pode ser uma: não permitiremos aos detratores e às detratoras da democracia a passagem impune por mais essa página triste da nossa história. 

Para que nunca mais se repitam as sofridas histórias de mortes, torturas e desaparecimentos, é preciso que nos unamos em uma só voz de luta e resistência: SEM ANISTIA!

 rodrigo IMG 6332Rodrigo Britto – Presidente da Fetec/CUT Centro Norte, em Golpe Militar – 60 Anos – Livro/Revista Extratos, Bancários DF-Fetec-CUT/CN, edição especial, dezembro de 2024.

 

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Foto: Fernando Frasão/Agência Brasil

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UMA REVISTA PRA CHAMAR DE NOSSA

Era novembro de 2014. Primeiro fim de semana. Plena campanha da Dilma. Fim de tarde na RPPN dele, a Linda Serra dos Topázios. Jaime e eu começamos a conversar sobre a falta que fazia termos acesso a um veículo independente e democrático de informação.

Resolvemos fundar o nosso. Um espaço não comercial, de resistência. Mais um trabalho de militância, voluntário, por suposto. Jaime propôs um jornal; eu, uma revista. O nome eu escolhi (ele queria Bacurau). Dividimos as tarefas. A capa ficou com ele, a linha editorial também.

Correr atrás da grana ficou por minha conta. A paleta de cores, depois de larga prosa, Jaime fechou questão – “nossas cores vão ser o vermelho e o amarelo, porque revista tem que ter cor de luta, cor vibrante” (eu queria verde-floresta). Na paz, acabei enfiando um branco.

Fizemos a primeira edição da Xapuri lá mesmo, na Reserva, em uma noite. Optamos por centrar na pauta socioambiental. Nossa primeira capa foi sobre os povos indígenas isolados do Acre: ‘Isolados, Bravos, Livres: Um Brasil Indígena por Conhecer”. Depois de tudo pronto, Jaime inventou de fazer uma outra boneca, “porque toda revista tem que ter número zero”.

Dessa vez finquei pé, ficamos com a capa indígena. Voltei pra Brasília com a boneca praticamente pronta e com a missão de dar um jeito de imprimir. Nos dias seguintes, o Jaime veio pra Formosa, pra convencer minha irmã Lúcia a revisar a revista, “de grátis”. Com a primeira revista impressa, a próxima tarefa foi montar o Conselho Editorial.

Jaime fez questão de visitar, explicar o projeto e convidar pessoalmente cada conselheiro e cada conselheira (até a doença agravar, nos seus últimos meses de vida, nunca abriu mão dessa tarefa). Daqui rumamos pra Goiânia, para convidar o arqueólogo Altair Sales Barbosa, nosso primeiro conselheiro. “O mais sabido de nóis,” segundo o Jaime.

Trilhamos uma linda jornada. Em 80 meses, Jaime fez questão de decidir, mensalmente, o tema da capa e, quase sempre, escrever ele mesmo. Às vezes, ligava pra falar da ótima ideia que teve, às vezes sumia e, no dia certo, lá vinha o texto pronto, impecável.

Na sexta-feira, 9 de julho, quando preparávamos a Xapuri 81, pela primeira vez em sete anos, ele me pediu para cuidar de tudo. Foi uma conversa triste, ele estava agoniado com os rumos da doença e com a tragédia que o Brasil enfrentava. Não falamos em morte, mas eu sabia que era o fim.

Hoje, cá estamos nós, sem as capas do Jaime, sem as pautas do Jaime, sem o linguajar do Jaime, sem o jaimês da Xapuri, mas na labuta, firmes na resistência. Mês sim, mês sim de novo, como você sonhava, Jaiminho, carcamos porva e, enfim, chegamos à nossa edição número 100. E, depois da Xapuri 100, como era desejo seu, a gente segue esperneando.

Fica tranquilo, camarada, que por aqui tá tudo direitim.

Zezé Weiss

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