Sepé Tiaraju: O guerreiro que morreu com 1500 índios defendendo o Brasil
Sepé Tiaraju é um dos muitos heróis brasileiros que não são reconhecidos nos livros de História do país. Foi um guerreiro indígena brasileiro, considerado santo popular e declarado “herói guarani missioneiro rio-grandense” por lei. Chefe indígena dos Sete Povos das Missões, liderou uma rebelião contra o Tratado de Madri.
Muitas histórias, diversas versões para a vida, outras tantas para a morte.
Dia 7 de fevereiro de 1756, morria na nascente do rio Vacacaí, na atual cidade de São Gabriel esse ícone da estirpe guerreira da gente do sul.
Abaixo segue um breve histórico de Sepé Tiaraju:
NASCIMENTO
Sepé Tiaraju nasceu em data desconhecida na redução de São Luiz Gonzaga e foi batizado com o nome cristão de José.
Depois de muitas lutas e sacrifícios, a prosperidade chegou às Missões e o desenvolvimento resplandeceu, graças a harmonia existente e o modelo social econômico implantado nas reduções.
No apogeu do progresso das reduções jesuíticas, quando tudo transparecia felicidade, eis que, mais uma vez a crueldade do destino chega até os povos missioneiros, desta feita através da Escarlatina, também conhecida como ” peste indígena “, que dizimou em torno de 30% da comunidade guarani, e foi em meio a esta epidemia que nasceu “Sepé”, filho do cacique Tiaraju, vítima de morte da tão temida peste, e que, momentos antes de morrer, entrega seu filho com poucos dias de vida e já acometido pela doença, aos Padres Jesuítas implorando-os que o salvassem.
Criado pelos Padres, aos poucos foi adquirindo o conhecimento e a cultura dos Jesuítas que se somaria ao espírito de liberdade, uma herança guarani, o suficiente para transformá-lo em um dos maiores líderes da brilhante comunidade indígena missioneira. Da doença, restaram em seu corpo, cicatrizes várias, uma delas em sua testa, com formato de meia-lua. Como diz a lenda, esta lhe dava uma aura mística e brilhava nas noites, em cor escarlate.
TRATADO DE MADRID
A vida real de Sepé Tiaraju não precisaria de lenda para ser grande. Como Corregedor do Cabildo de São Miguel, ele foi o mais tenaz resistente à entrega dos Sete Povos aos Portugueses, em troca da Colônia de Sacramento.
No início ele não tinha noção clara do que se passava e defendia com denodo e gratidão aos espanhóis, por servirem o mesmo rei dos jesuítas e guaranis. Para decepção sua, pouco tempo depois, Fernando VI, rei da Espanha, ordenaria que as reduções fossem evacuadas a força se necessário, sem a mínima consideração para com índios e padres.
Quando isso começou a ser posto em prática, o até então pacato Sepé Tiaraju transformou-se num autêntico guerreiro, chamando para si a responsabilidade da defesa do povo guarani, da cobiça e do egoísmo dos Espanhóis e Portugueses, pela posse da terra. Em uma carta, a ele atribuída, dirigida ao governo espanhol ele escreveu: “Nossa riqueza é a nossa liberdade. Esta terra tem dono e não é nem português nem espanhol, mas Guarani”.
Em São Miguel, chefiados por ele, os índios atacaram as carretas que faziam mudança dos objetos da Igreja, obrigando-os à retornar à redução. Durante mais de três anos, ele foi o grande líder dos Guaranis revoltosos.
A MORTE
Sepé morreu em 7 de fevereiro de 1756, às margens da sanga da Bica, afluente do rio Vacacaí, no município gaúcho de São Gabriel. Com ele morria também a grande nação guarani. A própria Companhia de Jesus foi proscrita em todo o mundo. Os Jesuítas pagaram pelo crime de não ter abandonado os guarani.
Após sua morte pereceram milhares de guaranis diante das armas luso-brasileiras e espanholas.
Encerrava-se assim, uma das mais bem sucedidas experiências de vida comunitária cristã-comunista de todos os tempos.
Por seu feito, chegando a ser considerado um santo popular, virou personagem lendário do Rio Grande do Sul, e sua memória ficou registrada na literatura por Basílio da Gama no poema épico O Uruguai (1769) e por Érico Veríssimo no romance O Tempo e o Vento, recentemente adaptado para o cinema.
HERÓI DA PÁTRIA
No dia 21 de setembro de 2009, foi publicada a Lei Federal 12.032/09, que traz em seu artigo 1º o texto “Em comemoração aos 250 (duzentos e cinquenta) anos da morte de Sepé Tiaraju, será inscrito no Livro dos Heróis da Pátria, que se encontra no Panteão da Liberdade e da Democracia, o nome de José Tiaraju, o Sepé Tiaraju, herói guarani missioneiro rio-grandense.”
Como homenagem ao heroísmo e à coragem de Sepé Tiaraju, a rodovia RS 344 recebeu o seu nome. Existe também no Rio Grande do Sul o município de São Sepé, nome que reflete a devoção popular pelo herói indígena.
Sepé Tiaraju é história, é mito, é santo e herói. Povoa o imaginário, aglomera façanhas, é fruto dos anseios humanos na busca do ideal.
Os tempos áureos das Missões foram aplacados, mas é através da presença viva de figuras como Sepé, que esta história deixa seus legados e exemplos.
Uma resposta
Como nos faz bem ter ciência destes fatos históricos. Isto nos dá alento e disposição em mergulhar neste oceano de componentes místico e telúrico. “…as aves qe aqui gorjeiam não gorjeiam como lá…”