Indígenas Isolados

Isolados, Bravos, Livres: Um Brasil indígena por conhecer

Isolados, Bravos, Livres: Um Brasil indígena por conhecer

Isolados, Bravos, Livres: Um Brasil indígena por conhecer – Há menos de uma década, na calorenta manhã do dia 9 de setembro de 2014] um grupo indígena isolado da etnia Korubo estabeleceu contato com indígenas Kanamary, às margens do Rio Itaquaí, na Terra Indígena (TI) Vale do Javari, localizada no extremo norte do Estado do Amazonas, na fronteira do Brasil com o Peru.

Por Zezé Weiss

A família de isolados, composta por mãe, pai e quatro crianças, foi recolhida e levada de canoa para a aldeia Massapê, dos Kanamary, onde recebeu atendimento médico preventivo, pela equipe da Secretaria de Saúde Indígena (Sesai), do Ministério da Justiça. Com dificuldades de locomoção, a mulher foi diagnosticada com uma picada de cobra na perna.

Em nota do dia 17 de setembro, a Fundação Nacional do Índio (Funai) informou que desde o dia 10 de setembro o grupo recém-contatado encontra-se abrigado em sua Base de Proteção Etnoambiental Ituí-Itaquaí, na TI Vale do Javari. A maior parte dos Korubo (população estimada em 200 pessoas) ainda vive isolada, entre os rios Ituí, Coari e Branco.

O primeiro contato com os Korubo aconteceu com um grupo de 16 pessoas, há 18 anos, em 1996. À época, sucessivos conflitos com o entorno não indígena acarretaram várias mortes entre os Korubo. Para proteger a etnia, a Funai optou por fazer o contato, por meio do indigenista Sydney Possuelo. O grupo cresceu, conta hoje com 33 pessoas e vive no rio Ituí, na TI Vale do Javari.

TERRA INDÍGENA VALE DO JAVARI

Com seus quase 8,5 milhões de hectares, a Terra Indígena Vale do Javari fica nos municípios de Atalaia do Norte e Guajará, na região do Alto Solimões, no estado do Amazonas, a 1.136 quilômetros de distância da capital, Manaus. É uma região bastante preservada, mas que sofre muita pressão de invasores, sobretudo pescadores de pirarucu, peixes ornamentais, tracajá, e de caçadores, que abastecem as cidades do entorno.
Aí vivem cerca de 5 mil indígenas (eram 3.961 no ano 2000, segundo Censo da Funai) das etnias Kanamary, Kulina Marubo, Matsés, Matis, e Mayoruna. Existem ainda referências de 16 grupos indígenas isolados ou de pouco contato, inclusive de outros grupos Korubo, monitorados à distância pela Funai, o que faz da região o local com o maior número de indígenas isolados no mundo.
Depois de 20 anos de luta, a TI foi homologada por Decreto da Presidência da República, publicado no Diário Oficial da União em 2 de maio de 2014. Não há mais exploração madeireira ilegal na região onde ocorreu o contato de setembro.

POVO DO RIO XINANE –  Contato recente no Acre

O último contato com indígenas isolados antes dos Korubo, no Amazonas, aconteceu no final do mês de junho de 2014, no Estado do Acre. No início de junho, os índios Ashaninka, da Aldeia Simpatia, localizada próxima ao município acreano de Feijó, na fronteira com o Peru, informaram a Funai sobre a movimentação de índios isolados próximos à comunidade.

Ao se deslocar para o local, a equipe da Frente de Proteção Etnoambiental confirmou a presença dos isolados e acionou o Plano de Contingência para situações de contato. Segundo a Funai, o primeiro contato indireto foi feito no dia 26 de junho, quando dois índios isolados foram avistados nas proximidades do rio Xinane.

No dia 29, um grupo de sete índios de etnia desconhecida, denominado “o povo do Rio Xinane”, entrou na aldeia Simpatia. Com a chegada de novos isolados, o grupo aumentou para 24 pessoas e está vivendo na base da Funai do Alto Rio Envira, distante 400 quilômetros de Rio Branco, capital do Acre.
 

Para a presidenta da Funai à época,  Maria Augusta Assirati, o grupo pode ter buscado o contato com os Ashaninka por pressão e agressão contra eles por parte de não índios.

Indígenas recém-contatados
no Rio Xinane, Acre.

Block

Era novembro de 2014. Primeiro fim de semana. Plena campanha da Dilma. Fim de tarde na RPPN dele, a Linda Serra dos Topázios. Jaime e eu começamos a conversar sobre a falta que fazia termos acesso a um veículo independente e democrático de informação. 

Resolvemos fundar o nosso.  Um espaço não comercial, de resistência. Mais um trabalho de militância, voluntário.

Jaime propôs um jornal; eu, uma revista. O nome eu escolhi (ele queria Bacurau). Dividimos as tarefas. A capa ficou com ele, a linha editorial também. Correr atrás da grana ficou por minha conta. A paleta de cores, depois de larga prosa, ele escolheu (eu queria verde-floresta).

Fizemos a primeira edição da Xapuri lá mesmo, na Reserva, em uma noite. Já voltei pra Brasília com a boneca praticamente pronta e com a missão de dar um jeito de imprimir.

Nos dias seguintes, o Jaime veio pra Formosa, pra convencer minha irmã Lúcia a revisar a revista, “de grátis”. A próxima tarefa foi montar o Conselho Editorial.

Jaime fez questão de visitar, explicar o projeto e convidar cada conselheiro/a pessoalmente (até a doença agravar, nos seus últimos meses de vida, nunca abriu mão dessa tarefa). Daqui rumamos pra Goiânia, para convidar o arqueólogo Altair Sales Barbosa, nosso primeiro conselheiro. “O mais sabido de nóis,” segundo o Jaime.

Trilhamos uma linda jornada. Em 80 meses, Jaime fez questão de decidir, mensalmente, o tema da capa e, quase sempre, escrever ele mesmo.

Na sexta-feira, 9 de julho, quando preparávamos a Xapuri 81, pela primeira vez em sete anos, ele me pediu para cuidar de tudo. Foi uma conversa triste, ele estava agoniado com os rumos da doença e com a tragédia que o Brasil enfrentava. Não falamos em morte, mas eu sabia que era o fim.

Outras 19 edições e cá estamos nós, sem as capas do Jaime, sem as pautas do Jaime, sem o linguajar do Jaime, sem o jaimês da Xapuri, mas na labuta, firmes na resistência. Mês sim, mês sim de novo, como você queria, Jaiminho, carcamos porva e,  enfim, chegamos à nossa edição número 100. Fica tranquilo, camarada, que por aqui tá tudo direitim.

Zezé Weiss

P.S. Você que nos lê pode pode fortalecer nossa Revista fazendo uma assinatura: www.xapuri.info/assine ou doando qualquer valor pelo PIX: contato@xapui.info. Gratidão!