STF abre inquérito contra Moro sobre fraude em delação premiada

STF abre inquérito contra Moro sobre fraude em delação premiada

PF e PGR solicitaram a nominal de Moro, sua esposa Rosângela Moro, e procuradores que estiveram envolvidos no acordo de delação de Tony Garcia e na Operação Lava Jato como investigados.

Por Redação/Mídia Ninja

O ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Dias Toffoli, atendeu aos pedidos da Polícia Federal (PF) e da Procuradoria-Geral da República (PGR) e determinou a abertura de um inquérito na Corte contra o senador e ex-juiz Sergio Moro, bem como procuradores que estiveram envolvidos em um acordo de delação premiada considerado o “embrião” da Operação Lava Jato.

O caso foi apresentado ao STF por Tony Garcia, ex-deputado estadual paranaense. Garcia firmou um acordo de delação premiada com Moro quando este ainda chefiava a 13ª vara federal. A PF sustenta que há indícios de que a colaboração premiada foi desvirtuada, funcionando como instrumento de chantagem e manipulação probatória. As investigações visam apurar possíveis crimes de concussão, fraude processual, coação, organização criminosa e lavagem de capitais.

De acordo com informações reveladas pelo blog da Daniela Araújo em uma série de reportagens, o acordo envolvia Garcia atuando como um “grampo ambulante” para obter provas contra membros do Poder Judiciário, do Tribunal de Contas do e outras autoridades com foro de prerrogativa de função fora da jurisdição da Federal. Os detalhes do acordo permaneceram sob sigilo por quase duas décadas na 13ª vara de Curitiba, sendo encaminhados ao STF apenas quando o juiz Eduardo Appio teve conhecimento do seu conteúdo.

Moro, agora senador, afirmou desconhecer a decisão de Toffoli e reiterou que não houve irregularidades no processo. Ele argumenta que, na época do acordo, as regras para colaboração premiada não eram as mesmas vigentes hoje. O ex-juiz também nega ter obtido gravações de membros do Judiciário.

Com a remessa do caso ao STF, a PF e a PGR foram consultadas. Tony Garcia foi ouvido em três ocasiões pelos policiais em audiências por videoconferência no STF, repassando todos os autos do processo à PF. A PGR, em documento obtido pelo blog, aponta que o acordo de colaboração foi utilizado como instrumento de constrangimento ilegal.

A PF e a PGR solicitaram a inclusão nominal de Moro, sua esposa Rosângela Moro, e procuradores que estiveram envolvidos no acordo de delação de Tony e na Operação Lava Jato como investigados. Toffoli autorizou a abertura do inquérito e das diligências pedidas pela PGR em 19 de dezembro, com a decisão mantida sob sigilo.

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UMA REVISTA PRA CHAMAR DE NOSSA

Era novembro de 2014. Primeiro fim de semana. Plena campanha da Dilma. Fim de tarde na RPPN dele, a Linda Serra dos Topázios. Jaime e eu começamos a conversar sobre a falta que fazia termos acesso a um veículo independente e democrático de informação.

Resolvemos fundar o nosso. Um espaço não comercial, de resistência. Mais um trabalho de militância, voluntário, por suposto. Jaime propôs um jornal; eu, uma revista. O nome eu escolhi (ele queria Bacurau). Dividimos as tarefas. A capa ficou com ele, a linha editorial também.

Correr atrás da grana ficou por minha conta. A paleta de cores, depois de larga prosa, Jaime fechou questão – “nossas cores vão ser o vermelho e o amarelo, porque revista tem que ter cor de luta, cor vibrante” (eu queria verde-floresta). Na paz, acabei enfiando um branco.

Fizemos a primeira edição da Xapuri lá mesmo, na Reserva, em uma noite. Optamos por centrar na pauta socioambiental. Nossa primeira capa foi sobre os povos indígenas isolados do Acre: ‘Isolados, Bravos, Livres: Um Brasil Indígena por Conhecer”. Depois de tudo pronto, Jaime inventou de fazer uma outra boneca, “porque toda revista tem que ter número zero”.

Dessa vez finquei pé, ficamos com a capa indígena. Voltei pra Brasília com a boneca praticamente pronta e com a missão de dar um jeito de imprimir. Nos dias seguintes, o Jaime veio pra Formosa, pra convencer minha irmã Lúcia a revisar a revista, “de grátis”. Com a primeira revista impressa, a próxima tarefa foi montar o Conselho Editorial.

Jaime fez questão de visitar, explicar o projeto e convidar pessoalmente cada conselheiro e cada conselheira (até a doença agravar, nos seus últimos meses de vida, nunca abriu mão dessa tarefa). Daqui rumamos pra Goiânia, para convidar o arqueólogo Altair Sales Barbosa, nosso primeiro conselheiro. “O mais sabido de nóis,” segundo o Jaime.

Trilhamos uma linda jornada. Em 80 meses, Jaime fez questão de decidir, mensalmente, o tema da capa e, quase sempre, escrever ele mesmo. Às vezes, ligava pra falar da ótima ideia que teve, às vezes sumia e, no dia certo, lá vinha o texto pronto, impecável.

Na sexta-feira, 9 de julho, quando preparávamos a Xapuri 81, pela primeira vez em sete anos, ele me pediu para cuidar de tudo. Foi uma conversa triste, ele estava agoniado com os rumos da doença e com a tragédia que o Brasil enfrentava. Não falamos em morte, mas eu sabia que era o fim.

Hoje, cá estamos nós, sem as capas do Jaime, sem as pautas do Jaime, sem o linguajar do Jaime, sem o jaimês da Xapuri, mas na labuta, firmes na resistência. Mês sim, mês sim de novo, como você sonhava, Jaiminho, carcamos porva e, enfim, chegamos à nossa edição número 100. E, depois da Xapuri 100, como era desejo seu, a gente segue esperneando.

Fica tranquilo, camarada, que por aqui tá tudo direitim.

Zezé Weiss

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