Tempo de Resistência, Tempo de Esperançar – Vivemos, no 1º de maio, o Dia da Classe Trabalhadora mais atípico desde a redemocratização brasileira, nos anos 1980. Pela primeira vez, desde a longa noite da ditadura militar (1964–1985), não houve um pronunciamento ou sequer uma nota de saudação do presidente aos trabalhadores e às trabalhadoras do Brasil.
Por Bia de Lima
Por conta da pandemia, nosso abraço a todas as categorias de trabalhadores/as do setor público e do setor privado, do campo e da cidade, e especialmente aos e às profissionais da educação, teve que ser virtual. Cumprimos, com consciência e responsabilidade, o distanciamento social recomendado pela Organização Mundial da Saúde (OMS) e pelas autoridades sanitárias de nosso país.
Entretanto, o isolamento físico não nos impediu de seguir em luta e em resistência na defesa dos e das profissionais da educação, uma vez que os governos vêm retirando nossos direitos de forma contínua e sucessiva. Vem sendo assim com a Reforma Trabalhista, com a Reforma da Previdência. Seguem os ataques a quem está na ativa, seguem os ataques a quem já se aposentou.
Em Goiânia, em meio ao pico da pandemia, a Prefeitura manda embora mais de três mil profissionais com contratos temporários. Os que ficam, há relatos de que estão recebendo até 70% menos. É cruel e desumano cortar o salário, tirar a renda de quem mais precisa, justo no momento em que quem tem menos mais precisa.
Em abril, o Governo Estadual deu início ao desconto previdenciário de 14,25% nos proventos dos/as aposentados/as do serviço público. A cobrança foi aprovada com a Reforma da Previdência, no final do ano passado, cuja proposta sempre foi questionada pelo SINTEGO, que lutou bravamente contra a sua efetivação.
Ao receberem os contracheques deste mês, os/as aposentados/as sentiram o desconto previdenciário de 14,25% em seus proventos. O SINTEGO esclarece que sempre se posicionou contrário a essa medida e lutou bravamente contra a proposta do governo Caiado, aprovada pela Assembleia Legislativa em 21 de dezembro de 2019, um sábado, com 26 votos, após várias manobras políticas e depois de uma batalha judicial sobre os vícios e irregularidades presentes na tramitação do projeto.
A Reforma da Previdência foi apresentada às vésperas do Natal, justamente para não envolver os/as principais interessados/as: servidores/as públicos/as, tanto os/as que estão na ativa, como os/as que já se aposentaram. Gente que contribuiu por 30, até 40 anos, e volta a ter descontos nos vencimentos, valores que chegam a R$ 780 reais. Certamente, os valores descontados pelo governo são essenciais para a sobrevivência dessas pessoas e farão muita diferença na qualidade vida de cada um/a.
Sabemos que cada aposentado/a do serviço público já deu a sua imensurável contribuição à sociedade e agora se vê penalizado/a, tendo que pagar pela má gestão do fundo previdenciário, por decisões de políticos inconsequentes e pela falta de zelo correto dos recursos. O governo Bolsonaro orientou, e o governo Caiado seguiu à risca as regras ditadas, aprovando a maldita Reforma em Goiás.
Para que ninguém se esqueça, compartilhamos aqui a lista dos deputados que votaram a favor da Reforma da Previdência:
Henrique César (PSC)/Jeferson Rodrigues (Republicanos)/Diego Sorgatto (PSDB)/Paulo Cezar Martins (MDB)/Lissauer Vieira (PSB)/Chico KGL (DEM)/Dr. Antônio (DEM)/Bruno Peixoto (MDB)/Humberto Aidar (MDB)/Tião Caroço (PSDB)/ Wilde Cambão (PSD)/Rubens Marques (Pros)/Iso Moreira (DEM)/Amauri Ribeiro (PRP)/Álvaro Guimarães (DEM)/Rafael Gouveia (PP)/Zé Carapô (DC)/Charles Bento (PRTB)/Cairo Salim (Pros)/Vinicius Cirqueira (Pros)/Paulo Trabalho (PSL)/Amilton Filho (Solidariedade)/Thiago Albernaz (Solidariedade)/Wagner Neto (Pros)/Julio Pina (PRTB)/ Coronel Adailton (PP).
Esses parlamentares executam o projeto de destruição do serviço público e dos/as trabalhadores/as, articulado pelo governo federal e que se estendeu aos Estados, de forma geral, é ardiloso e, por isso, necessita ser executado aos poucos, tirando sempre de quem tem menos.
A situação é revoltante. O SINTEGO foi um dos sindicatos que mais mobilizaram, chamou a categoria a estar presente nas votações, no entanto, muitos estavam na sala de aula e não puderam participar, outros achavam tão absurdo, pensando que seria improvável. Passamos quase todo o mês de dezembro de 2019 mobilizados e acampados/as na Alego, para impedir tamanho prejuízo aos/as trabalhadores/as, pressionamos os parlamentares durante as votações das matérias, mas infelizmente a Reforma foi aprovada.
Muitos/as deputados/as estiveram firmes ao nosso lado, mas a maioria não resistiu ao chamado do governo e a suas ofertas. Milhões foram distribuídos e prometidos em forma de emendas. Deputados foram expulsos da base do governo porque se posicionaram a favor dos/as servidores/as públicos/as.
Nós alertamos que ninguém escaparia da crueldade da Reforma, nem quem já havia se aposentado. Muitos/as não acreditaram e agora viram no próprio contracheque o efeito devastador das medidas adotadas pelo governo, para resolver o problema financeiro de Goiás, que não foi criado pelos/as servidores/as públicos/as. O SINTEGO chegou a pedir uma CPI para investigar o destino dos recursos descontados e que não existem mais, mas não aceitaram. Será por quê???
O SINTEGO, mais uma vez, reforça que não desiste da luta e, sabendo do momento difícil que todos/as enfrentamos, busca através de ADIN (Ação Direta de Inconstitucionalidade) reverter a medida. Porém, não será fácil.
Estamos, como dizia o educador Paulo Freire, em tempos de esperançar: “É preciso ter esperança. Mas tem de ser esperança do verbo esperançar. Por que isso? Porque tem gente que tem esperança do verbo esperar. Esperança do verbo esperar não é esperança, é espera. ‘Ah, eu espero que melhore, que funcione, que resolva’”. Já esperançar é ir atrás, é se juntar, é não desistir. É ser capaz de recusar aquilo que apodrece a nossa capacidade de integridade e a nossa fé ativa nas obras. Esperança é a capacidade de olhar e reagir àquilo que parece não ter saída. Por isso, é muito diferente de esperar; temos mesmo é de esperançar!
Nesses nossos tempos de esperançar, seguiremos em luta por nossos direitos, pelo Piso Salarial, pela Data-Base, pelas condições de trabalho, por tudo isso que é obrigação do Governo para com os/as trabalhadores/as, que não se cumpre, apesar da nossa movimentação e cobrança.
A direção do Sindicato chama os/as servidores/as para, juntos/as, reclamarmos aos verdadeiros culpados. Políticos que ganharam as eleições prometendo defender a Educação e seus profissionais, até mesmo dizendo que devolveriam a Gratificação de Titularidade, e depois enganam os/as eleitores/as. Contamos com sua ajuda, participando das atividades e mobilizações. Seguiremos lutando bravamente!
Cada vida importa! Fiquem em casa!
Bia de Lima – Presidenta da CUT-Goiás e do SINTEGO
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