Escola Sesi Campinas (Goiânia-GO): Universo quadrinizado do cowboy Tex Willer inspira produção de histórias quadrinhos em sala de aula goiana –
Por Francisco Arantes Aranha
RESUMO: O presente artigo traz uma reflexão acerca de uma experiência pedagógica desenvolvida na Escola Sesi Campinas (Goiânia-GO) junto a estudantes do terceiro ano do Ensino Médio, referente à possibilidade de construção de conhecimentos que interajam com o conteúdo da disciplina de História a partir da análise do universo quadrinizado do cowboy Tex Willer com culminância de produção de histórias em quadrinhos em sala de aula.
Os temas sobre o processo de avanço para o “Oeste distante” do território dos Estados Unidos (“Far West”, ou, aportuguesado, Faroeste), a partir do século XIX, constituem fontes muito ricas de serem trabalhadas em sala de aula, principalmente para abordar criticamente a questão da (des)construção das identidades americanas ou outros assuntos, tais como o contexto e o significado da Guerra de Secessão (1861-1865), a questão do fim da escravidão nos Estados Unidos (assim como as práticas discriminatórias e/ou segregacionistas) e o embate entre a Lei de Terras e o Homestead Act.
Nos termos da proposta didática que estamos discutindo, o tema do Faroeste, que envolve os acontecimentos desse período dos Estados Unidos, é extremamente pertinente por abarcar a construção das ideias sobre a “marcha para o Oeste”. E é com base nessas particularidades que escolhemos utilizar como recurso didático as Histórias em quadrinhos do cowboy Tex Willer em sala de aula, enquanto ferramenta de trabalho para a construção de conhecimentos que interajam com o conteúdo da disciplina de História.
Isto posto, vejamos, agora, um pouco mais concretamente, como esse processo de inserção de quadrinhos se deu no ambiente escolar, durante as discussões referentes ao conteúdo de História dos Estados Unidos com enfoque no “O avanço para o Oeste”.
O cowboy Tex Willer à aula de História
Aula de História. Periodização: Idade Contemporânea I. Eixo temático: Nacionalismo e Imperialismo.
Sobre o enredo do conteúdo “Expansão dos Estados Unidos” (ou, em outros termos, “Estados Unidos: a escravidão em xeque”) já é muito familiar: Antecedentes históricos (início do século XIX), O avanço para o Oeste (ou, se se preferir, “A expansão territorial”); Escravistas versus Antiescravistas; A Guerra de Secessão (1861-1865): (a) Os confederados se rendem, (b) A tecnologia de guerra, (c) Racismo e exclusão; A expansão econômica: (a) Os imigrantes; e, por fim, quadro de curiosidades (ou, em outros termos, “Enquanto isso…”) e exercícios de Revisão e Aprofundamento (ou, nos termos do material didático utilizado, “Para construir” e “Tarefa para casa”)[1]. Em síntese, este é o entendimento do ponto de vista predominantemente “conteudista”.
Mas para fazer frente a esta realidade histórica, torna-se necessário aqui mencionar também o ponto de vista das expectativas de aprendizagem que nortearam esse conjunto de aulas, tal como expresso no próprio material didático adotado pela Escola Sesi Campinas:
Entender o contexto e o significado da Guerra de Secessão; Compreender o processo que resultou no fim da escravidão nos Estados Unidos; Conhecer as práticas discriminatórias e/ou segregacionistas implementadas nos Estados Unidos no passado (com a população de origem africana) e no presente (com os imigrantes); Compreender como a ampliação dos territórios dos Estados Unidos se deu também à custa da tomada de terras indígenas e de outros povos; Entender aspectos relacionados à origem do imperialismo norte-americano no final do século XIX; Perceber a importância da unidade territorial para o surgimento dos Estados Unidos como uma potência econômica. (AZEVEDO; SERIACOPI, 2017, p. 18)
Agora, explicitemos o ponto de vista metodológico. Inicialmente, a estratégia de ensino-aprendizagem adotada foi a exposição do conteúdo sobre a “Expansão dos Estados Unidos”, com a participação ativa dos estudantes, cujo conhecimento prévio foi considerado e tomado como ponto de partida – ato contínuo, os estudantes foram levados a questionarem, interpretarem e discutirem os pressupostos históricos-conceituais expostos no material didático.
Em seguida, o principal desafio foi apresentar um dos mais emblemáticos heróis de quadrinhos de faroeste italianos Tex Willer[2] aos estudantes propondo uma análise de um fragmento xerocopiado da aventura em quadrinhos Tex: O ouro dos confederados (2014)[3], através de um estudo dirigido em sala de aula. Antes de assinalar quais foram os objetivos de aprendizagem e desenvolvimento por trás de tal proposta de utilização de quadrinhos em sala de aula, convém aqui aclarar um pouco dessa “saga texiana”.
Nas suas linhas gerais, todo o desenrolar da narrativa selecionada gira em torno da chegada de Tex Willer e seu parceiro Kit Carson a um pobre povoado fluvial de libertos africanos chamado Russelville – que deduz-se, ainda que não haja nenhuma menção clara a isso, tratar ou do estado do Tennesse ou da Carolina do Sul –, em busca de alguma ajuda para fazer frente a um bando de capangas da Ku Klux Klan que em breve passariam próximo daquela região (pantanosa) viajando em um navio encouraçado.[4] Curiosamente, um ex-escravo de nome Isaías acompanha os rangers nessa empreitada; que, além do nome bíblico, chama a atenção por estar trajando o uniforme azul do Exército dos estados do Norte quando da Guerra de Secessão (1861-1865).
Com uma narrativa repleta de diálogos, ação e um suspense crescente pela chegada dos integrantes da KKK, o núcleo central desse recorte expõe dois aspectos-chave presentes nas produções Bonellianas do cowboy Tex Willer que são fundamentais para se discutir em sala de aula: um é a imagem-ícone do “caubói americano”[5] e o outro, por sua vez, diz respeito aos estereótipos gerais que perpassam pelos enredos ao longo do desenvolvimento dos roteiros e histórias desse personagem que esse ano completa setenta anos de existência.
Breve parênteses. Em sua análise sobre a figura do “caubói”, o historiador britânico Eric Hobsbawm faz notar que, para além de toda “tenacidade, bravura, o uso de armas, a prontidão para infligir ou suportar sofrimento, indisciplina e uma forte dose de barbarismo” – além do “jeito fanfarrão de andar e se vestir” e uma condição (idealista) de “trabalhador sem endereço fixo” –, “o caubói também representa um ideal mais perigoso”, qual seja, “a (da) defesa do americano nativo branco, anglo-saxão, protestante contra os milhões de imigrantes intrusos de raças inferiores” (HOBSBAWM, 2013, p. 314, 315 e 322). Ainda de acordo com o autor:
[Vindo] daí o tranquilo abandono dos elementos mexicanos, indígenas e negros, que ainda aparecem nos westerns não ideológicos originais – por exemplo, no show de Buffalo Bill. É nessa altura e dessa maneira que o caubói se torna o ariano esbelto e alto. Noutras palavras, a inventada tradição do caubói é parte da ascensão tanto da segregação como do racismo anti-imigrante; esse é um legado perigoso. O caubói ariano não é, está claro, inteiramente mítico. (HOBSBAWM, 2013, p. 322. Grifos nossos)
Mas, e o que isso significa na prática? Em termos objetivos, uma qualificação quadrinizada negativa de grupos como “mulheres”, “negros”, “índios”, “mexicanos” e “chineses”, e ao avesso uma caracterização quadrinizada positiva do “Homem branco” na figura do Tex Willer. Aliás, uma expressiva demonstração dessa questão foi sugerida por Antunes e Campo num artigo apresentado na “Terceira edição das Jornadas Internacionais de Histórias em Quadrinhos”, realizada na Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo entre 18 e 21 de agosto de 2015, que versava sobre os “estereótipos presentes nas revistas de Tex Willer” (ANTUNES; CAMPO, 2015). A este respeito, vejamos o que diz esses autores:
Dentro destas etnias, temos os brancos como um grupo privilegiado reforçando a ideia de que a “América” (como os estadunidenses se autodenominam) é formada por uma “raça pura” e de que imigrantes como mexicanos ou chineses não são bem vindos (o que é possível percebermos pelas relações entre brancos e estes). Também observamos nas narrativas de Tex que os grupos denominados quase homogeinamente como “negros” e “índios” são os mais presentes nas diversas aventuras do personagem e em geral estão em apuros mas são socorridos pelo ranger com seu sempre senso de justiça “olho por olho e dente por dente”. (ANTUNES; CAMPO, 2015)
Pois bem: apresentada essa perspectiva analítica junto aos estudantes a partir da discussão que envolvia o conteúdo trabalhado em sala de aula, a proposta de inserção de quadrinhos em ambiente escolar buscava desenvolver nos mesmos um olhar que conseguisse: (A) identificar elementos que compõe a linguagem dos quadrinhos, tais como: “Linguagem visual”, “Planos e ângulos de visão”, “Montagem”, “Protagonistas e personagens secundários”, “Figuras cinéticas e metáforas visuais”, “O balão”, “A legenda”, “A onomatopeia”, entre outros[6]; e, principalmente, (B) interpretar o sentido histórico da aventura quadrinizada em sua proposição de discussões sobre a História da Expansão territorial dos Estados Unidos e aspectos envolvidos. Nestas circunstâncias, afinal, foi proposto como culminância do projeto a elaboração de uma HQ que expressasse uma visão crítica a respeito desse recorte histórico.
É importante dizer que, em termos de avaliação do ensino-aprendizagem e desenvolvimento, as discussões mais centrais orbitaram mesmo sobre os estereótipos gerais que apareceram no enredo do fragmento analisado, com destaque principalmente para a representação dos “negros” bem como as características principais de Tex.
Não obstante, aqui, o que se quer frisar é que, a oportunização desse ambiente de discussões objetivava fundamentalmente dar ensejo à faculdade de Imaginação dos estudantes. Colocado o problema nesses termos, é o fruto dessa extraordinária capacidade humana que passaremos a examinar a partir de agora.
A crítica
É difícil sintetizar de modo mais objetivo o impacto dessa atividade em sala de aula, mas a resposta dos estudantes tampouco parece ter ficado circunscrita aos “limites conteudistas”. Vejamos, aqui, alguns exemplos práticos, seguidos de possíveis observações sobre as perspectivas críticas elaboradas pelos estudantes.[7]
Imagem 1: história da estudante Amanda Laurien de B. Ferreira (Turma 3º05):
Primeiro Quadro: “– Eles nos tiraram de nosso lar. Nos acorrentaram.” Segundo Quadro: “– Nos feriram. Nos trataram como animais.” Terceiro Quadro: [LEGENDA] “Mas não aguentamos mais isso.” Quarto Quadro: [LEGENDA] “Unidos somos mais fortes!” Quinto Quadro: “– Os brancos não irão mais nos aprisionar.” Sexto Quadro: “– Somos livres agora. Acharemos um bom lugar para viver. Onde construiremos nosso lar e nossas crianças irão crescer felizes.” Sétimo Quadro: “– Finalmente estamos em casa agora.” (Grifos nossos)
Com uma opção pelo tom preto e branco e uma técnica de desenho com proporções e formatos aos quadrinhos com poucas variações (quem sabe devido às limitações de espaço da proposta de trabalho), a autora imprimiu à sua HQ uma dinâmica visual marcante e postura crítica frente à condição histórica de exploração dos escravos negros na América supostamente do século XIX.
Ao abordar essencialmente o ponto de vista dos escravos negros, essa perspectiva quadrinizada concebe uma possível interpretação histórica de vingança dos oprimidos frente à figura do “Homem branco” proprietário de terras e escravos. É sugestivo notar que o rompimento da relação é violento. A nível narrativo, aliás, o que chama a atenção na Imagem 1 é mesmo a potência da desforra dos cativos. Em última análise, talvez se possa dizer que as semelhanças com o filme de faroeste-espaguete “Django Livre” (2012), do cineasta estadunidense Quentin Tarantino e toda sua alta carga de violência – sanguinolenta, como é o seu estilo – não parecem ser mera coincidência. (Prova disso não seria a cena inicial onde os escravos acorrentados caminham no meio de um bosque, tal qual na obra de Tarantino?).
Continuando nosso exame, a HQ a seguir oferece uma perspectiva muito próxima do prisma da Imagem 1, porém agora sob o ponto de vista do grupo dos “indígenas”.
Imagem 2: recorte (1) da história “Apache Kid em: O desfecho da Guerra!”, do estudante João Pedro Dias (Turma 3º03):
Primeiro Quadro: “– Agora que índio ganhou a guerra, homem branco vai ser escravo e trabalhar para índio.” Segundo Quadro: “– A ignorância e arrogância do homem branco gerou seu fim!” Terceiro Quadro: “– Mais algum homem branco quer se opor ao nosso regime?” [Pausa] “– Então comecem o trabalho!!!” “– NÃO” “– NÃO” (Grifos nossos)
Imagem 2: recorte (2) da história “Apache Kid em: O desfecho da Guerra!”, do estudante João Pedro Dias (Turma 3º03):
Quarto Quadro: “– Eu sou um ranger, não vou servir um pardo… rsrs! prefiro morrer!!” Quinto Quadro: “– Ao contrário dos meus irmãos do leste, Homem branco teve chance de viver! Mas… AGORA A CHANCE ACABOU!!!” (Grifos nossos)
Na mesma linha de rompimento dos grupos estereotipados frente à figura do “Homem branco/caubói americano” (que no quadro inicial veio representado visualmente com um cigarro de palha manifestando um certo regionalismo cultural do estado de Goiás), essa HQ já opta pela narrativa sob o ponto de vista dos povos autóctones americanos. Aqui o clima de rompimento é tamanho que o clímax da história culmina com um enquadramento tipicamente “cinematográfico” de uma seta indígena eliminando o “opressor-homem-caubói branco”.
Elemento ponderável nessa HQ é a percepção de que a representação da liderança indígena (“Apache Kid”) proposta pelo autor demonstra ter consciência histórica da Colonização Inglesa na América do Norte e de como esse processo acarretou o massacre de seus antepassados americanos. Prova maior são as próprias palavras proferidas por “Apache Kid” no desenlace do conflito: “ao contrário dos meus irmãos do Leste…”. Destaque para o tom de acusação e o olhar fuzilante do protagonista.
Prosseguindo, destacamos alguns significativos recortes de interpretações quadrinizadas elaboradas pelos estudantes da Escola Sesi Campinas. Chama a atenção o uso do anacronismo enquanto recurso crítico.
Imagem 3: recorte (1) da história da estudante Naila Leal (Turma 3º05):
“– Ess(a) História mostra a força (e) a luta de todas as mulheres negras (em) busca da autoafirmação, na ancestralidade verdadeira na História Negra.” (Dandara dos Palmares)
Imagem 3: trecho (2) da história da estudante Naila Leal (Turma 3º05):
“– Muitas coisas são esquecidas e apropriadas na nossa cultura, para te dizer na verdade nós mulheres negras fomos esquecidas na história. Hoje eu vim para te mostrar tudo.” (Grifos nossos)
Aqui, a autora descontextualiza a proposta de trabalho e insere um manifesto político a respeito da representatividade e “autoafirmação das mulheres negras” dando voz à uma personagem que foi uma guerreira negra do período colonial da História do Brasil, Dandara dos Palmares. Com traços suaves e um sombreado caprichado, o cariz é politizado e forte: “Hoje eu vim para te mostrar tudo”[8].
Imagem 4: trecho da história da estudante Laís Rosa (Turma 3º05):
Primeiro Quadro: “– Vamo trabalhar João, que hoje é dia de branco.” Segundo Quadro: “– Hoje a Adriana tava lendo um livro que parecia ótimo!” “– Esquece! Ler é coisa de preto!”
Neste outro recorte “quase-diário”, a autora optou por um viés quadrinizado que problematizasse situações e discursos de cotidianos de racismo que são utilizados com tanta naturalidade que muita gente sequer percebe a conotação negativa que tem para o negro. E não nos enganemos: ao denunciar e inverter algumas expressões com conotação racista o objetivo principal da autora foi expor o preconceito racial utilizando-se dos quadrinhos enquanto veículo de crítica. A rigor, o uso do “anacronismo” aqui é mero pretexto para trazer à tona aquilo que realmente incomoda a estudante: as práticas de racismo.
Imagem 5: trecho da história do estudante Márcio Gabryel Ribeiro de Sousa (3º02):
Primeiro Quadro: [LEGENDA] “Em algum lugar de Niggazcity, o Super-Black sobrevoa procurando malfeitores.” Segundo Quadro: [LEGENDA] “Quando de repente, ele com seu sentido-negro, sente uma movimentação estranha na cidade.” Terceiro Quadro: [LEGENDA] “Ele vê membros da Ku Klux Klan invadindo o banco da cidade.” Quarto Quadro: “Meu Deus, vou acabar com esses bandidos!!” (Grifos nossos)
E considere-se, por fim, que vemos as Histórias em quadrinhos e personagens frequentemente refletirem os grandes temas, esperanças e medos da sociedade. E nas produções dos estudantes não seria diferente: além do Pantera Negra (título concebido ao rei da nação ultra-avançada tecnologicamente de Wakanda), da Tempestade (integrante dos X-Men), do John Stewart (Lanterna Verde), do Luke Cage, do Super Choque, entre outros, agora temos o “Super-Black” em sua jornada por defender “Niggazcity” dos membros da Ku Klux Klan. Em desfecho, em matéria de representatividade e inclusão, este quadrinho não poderia ficar de fora de nosso exame.
Considerações Finais
Não é necessário assinalar aqui quantas outras interessantes perspectivas quadrinizadas ficaram de fora de nossa seleção. Nem é necessário ressaltar a importância de cada uma das HQs elaboradas pelos estudantes da Escola Sesi Campinas.
Os exemplos vão desde a concepção de um grupo de heroínas que combatem e querem “o fim da Ku Klux Klan” (“Ashia e suas guerreiras”), que nos permitem refletir sobre a questão da representação discursiva feminina, até uma HQ que propõe a Colonização inglesa dos Estados Unidos sob o ponto de vista dos indígenas. Isso para não mencionar um belíssimo trabalho (primorosamente narrada) feito por um estudante com altas habilidades em formato de Mangá (estilo de quadrinhos tipicamente japonês), onde há toda uma profunda reflexão existencialista sob a perspectiva do próprio indígena – graficamente impactante e suavemente perturbador.
(E o que dizer de provocações onde os integrantes da Ku Klux Klan são negros racistas e perseguem os brancos? E por quê não uma História em quadrinhos onde o presidente Barack Obama dialoga com o atual presidente Donald Trump antropomorfizado na forma de um pequeno porco prestes a ser transformado em linguiça e assado pela KKK?)
Entretanto, é fundamental que tenhamos uma ideia, ainda que geral, sobre o que representa essa experiência de utilização de quadrinhos no ambiente escolar. Em termos práticos, se entre os objetivos dessa experiência constava a identificação de elementos que compõe a linguagem dos quadrinhos, podemos afirmar que os resultados são mais que positivos. Entre os parâmetros empíricos avaliados houve abundante utilização e, melhor, experimentação de recursos tais como: “Uso de onomatopeias”, “Planos e ângulos de visão”, recursos de “Temporalidade” (uso de legendas), “Montagem”, “Figuras cinéticas e metáforas visuais”, “O balão”, “Anacronismos”, “Cores” e, por fim, desenvolvimento de “Técnicas cinematográficas de narrativa”. Por sinal, os próprios quadrinhos examinados neste artigo dão mostras desses aspectos.
E quanto ao intuito de quê os estudantes conseguissem interpretar o sentido histórico da aventura do cowboy Tex Willer? “Quer que desenhe?” Não é preciso: a resposta veio na forma de quadrinhos, e com resultados extremamente positivos.
Em desfecho, é portanto absolutamente legítimo realizar aqui uma defesa da utilização das Histórias em quadrinhos no ensino de História e outras disciplinas no ambiente escolar. Com mais forte razão, aliás, tal como diz Canclini, “poderíamos lembrar que as histórias em quadrinhos, ao gerar novas ordens e técnicas narrativas, mediante a combinação original de tempo e imagens em um relato de quadros descontínuos, contribu(em) para mostrar a potencialidade visual da escrita e o dramatismo que poder ser condensado em imagens estáticas” (CANCLINI, 2000, p. 339).
ANOTE AÍ:
AUTOR: Francisco Arantes Aranha. franciscoarantesaranha@gmail.com. Mestre em História
REFERÊNCIAS:
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[1] Do ponto de vista em que nos colocamos, assumimos a orientação “conteudista” tal como expressa no próprio material didático adotado pela Escola Sesi Campinas, a saber: AZEVEDO, Gislane; SERIACOPI, Reinaldo. Sistema de ensino ser: ensino médio. Caderno 9: história. São Paulo: Ática, 2017. p. 18-27.
[2] Pontuemos rapidamente algumas informações a respeito desse fenômeno editorial: Tex foi criado na Itália por Giovanni Luigi Bonelli (Gianluigi) e Aurelio Galepinni (Galep), responsáveis pelo roteiro e desenho, respectivamente. No dia 30 de setembro de 1948 surgiu a primeira história desse herói Tex: O Totem Misterioso. Já por aqui, tal como assinala Rainho, “Tex é publicado no Brasil, sem interrupções, todos os meses, desde o mês de fevereiro do ano de 1971, por quatro editoras diferentes: Vecchi, RGE, Globo e Mythos” (RAINHO, 2016). À título de curiosidade, Tex teve suas feições inspiradas no ator Gary Cooper. Ademais, e em termos narrativos, conhecido como “Águia da Noite”, tem em Kit Carson seu parceiro inseparável e é também amigo do índio Jack Tigre. A que se dizer que Tex já foi salvo da morte pela índia Lilyth (ou “Lírio Branco”) com quem se casaria e teria dois bons frutos: o filho “Kit Willer” e o título de Chefe da etnia dos Navajos – adquirido após a morte do sogro, o poderoso índio Flecha Vermelha (LIMA, 2016; RAINHO, 2016).
[3] BONELLI, Giovanni Luigi. Tex: O ouro dos confederados. São Paulo: Mythos editora, série ouro, nº 6, 2014. 277 p.
[4] Eis como o próprio Tex aborda a questão, no momento em que se refere aos capangas da Ku Klux Klan, “esses bandidos querem espalhar a rebelião racista nos estados do sul! E nós queremos detê-los!” (BONELLI, 2014, p. 47. Grifos nossos). Nesse ponto, é possível extrair apenas destas palavras (e – notem – sem fazermos qualquer análise conjunta com e da linguagem visual) o sentido altruísta e romântico desse herói dos quadrinhos de faroeste. Por sinal, como bem indica Tex, em outro momento dessa saga, “eu represento a lei dos EUA!” (BONELLI, 2014, p. 157. Grifos nossos).
[5] Conceito discutido em HOBSBAWM, Eric J. O caubói americano: um mito internacional?, in: Tempos fraturados. São Paulo: Companhia das Letras, 2013. p. 310-327.
[6] Valemo-nos aqui dos recursos de linguagem aos quadrinhos listados por Waldomiro Vergueiro, em Como usar as Histórias em Quadrinhos na sala de aula (2004, p. 31-64). À guisa de informações: Vergueiro é doutor em Ciências da Comunicação pela Escola de Comunicações e Artes (ECA) da USP, onde é atualmente coordenador do Núcleo de Pesquisa de Histórias em Quadrinhos.
[7] Foi avaliado os quadrinhos de cerca de 180 estudantes do terceiro ano do Ensino Médio da Escola Sesi Campinas (Goiânia-Go), com notas que variaram de dois a quatro pontos. A metodologia de exposição dessas HQs utilizada neste artigo não considerou a capacidade artística dos mesmos, mas fundamentalmente a visão crítica a respeito do tema “Expansão territorial dos Estados Unidos e aspectos envolvidos”. Nesse contexto, decidimos pela possibilidade de exposição tanto de quadrinhos em sua integralidade quanto pelo recorte de momentos-chaves dessas produções. (Em tempo: todos os direitos autorais foram respeitados e a citação dos nomes dos estudantes estão em acordo com as normas e leis que asseguram os direitos de seus autores).
[8] E não queremos aqui remeter a inspiração negra a uma condição “subterrânea” de uma nota de rodapé, mas, sim, chamar a atenção para o quanto as Histórias em quadrinhos podem ser uma experiência forte para adentrar os sonhos e dar voz a um momento, a uma vida. Segue abaixo um trecho (3) da história da estudante Naila Leal (Turma 3º05) que estava solta entre os quadros de seu trabalho. Aos seus olhos, a imagem de inspiração.
Imagens Tex Willer – reprodução Internet
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