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TI Uru-Eu-Wau-Wau: Com fim das chuvas, vem mais invasão

TI Uru-Eu-Wau-Wau: Com o fim das chuvas, começa a derrubada da floresta

Em abril, pelo menos 225 hectares foram desmatados na Terra Indígena Uru-Eu-Wau-Wau, em Rondônia. Invasão massiva de grileiros ocorre desde o final do ano passado.

O fim do período de chuvas coincide com o início da derrubada da floresta na Terra Uru-Eu-Wau-Wau, em Rondônia. É o que indica sistema de monitoramento do Instituto Socioambiental (ISA), que identificou 225 hectares de no mês de abril, o equivalente a 225 campos de futebol.
O cenário já era esperado: desde o fim de 2018, as invasões na Terra Indígena se intensificaram e a previsão era de que os invasores iniciassem a derrubada da floresta assim que o período chuvoso terminasse, em abril.
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O monitoramento do Sistema de Indicação por Radar do Desmatamento (Sirad), baseado nas imagens dos satélites Sentinel, mostra dois trechos de desmatamento na Terra Indígena. Em um deles, as clareiras de floresta estão associadas à abertura de ramais, pequenas estradas na mata que servem para o piqueteamento (loteamento) ilegal da área. A maioria dos invasores da TI são grileiros em busca de novas áreas, o que coincide com o padrão identificado pelo satélite – grandes áreas contíguas de desmate, ao contrário do roubo de madeira, em que os cortes são mais pontuais. (VEJA MAPA)
O período crítico para a ação dos invasores se estende até outubro, quando se inicia a época de chuvas. Segundo dados da Associação Kanindé, cerca de 180 invasores adentraram a TI ilegalmente em abril, e, de acordo os , estão próximos das aldeias. Com a nova leva, a ONG estima que mais de 1.000 pessoas estejam ocupando ilegalmente o território.
Após a denúncia, Funai, Ibama, Polícia Militar Ambiental, e ICMBio realizaram operação para retirada de acampamentos dos invasores em outra área da Terra Indígena. A Funai identificou que grileiros estavam vendendo ilegalmente terras invadidas dentro da Terra Indígena.
A TI, homologada em 1991, é habitada por três povos indígenas contatados (Uur-Eu-Wau-Wau, Amondawa e Oro-Win) e conta com, pelo menos, três registros de povos em situação de isolamento voluntário confirmados pela . Os povos isolados optam por não ter nenhum contato com outros povos indígenas e não-indígenas.
As invasões de grileiros na TI têm aumentado desde o começo do ano. “As falas contra os povos indígenas do novo governo estimulam as invasões”, afirma Awapu Uru-eu-wau-wau, liderança do povo Uru-Eu-Wau-Wau, em entrevista ao ISA. A avaliação de Ivaneide Bandeira, coordenadora da Kanindé, é de que o discurso de Bolsonaro de revisão de demarcações de incentiva a ocupação ilegal destes territórios.

rs33748 121a3544 lprIndígenas do povo Uru-Eu-Wau-Wau, Terra Indígena Uru-Eu-Wau-Wau, Rondônia

Contexto da área

Entre setembro e outubro de 2018, análise do ISA identificou 42 focos de desmatamento incidentes em área próxima a aldeia Alto Jamari, onde vivem famílias do povo Uru-Eu-Wau-Wau. Estas áreas somadas representam 692,34 hectares de corte raso de floresta. As áreas desmatadas e detectadas pelo ISA coincidem com os pontos de acampamento dos invasores indicados pelos indígenas, localizadas na área de sobreposição entre a terra indígena e o Parque Nacional Pacaás Novos.
Segundo Awapu Uru-eu-wau-wau, em decorrência das invasões, a caça e a pesca começaram a escassear no território. “Não tem mais paz e liberdade na natureza, não tem mais ar puro. Estamos respirando fumaça”, afirma. A presença constante de intrusos torna a caça perigosa para os indígenas. “É perigoso encontrar algum invasor e ter algum conflito”, diz ele. Awapu também relata ameaças constantes por parte dos invasores. “Na última semana, ouvimos um tiroteio acontecer muito próximo à aldeia”, relata ele.
Segundo a Kanindé, entidades locais estão por trás das tentativas de grilagens, entre elas uma que questiona a demarcação da terra na Justiça.
Segundo o artigo 231 da , os índios têm direito originário sobre as terras que ocupam. “São nulos e extintos, não produzindo efeitos jurídicos, os atos que tenham por objeto a ocupação, o domínio e a posse das terras indígenas (artigo 231, § 6º)”. Ou seja, qualquer ato que dê a posse de terra para um não indígena dentro de uma Terra Indígena não tem validade jurídica.
O Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) já havia detectado altas taxas de desmatamento na TI. Em 2018, os dados oficiais relativos ao Prodes indicam a região como a oitava mais devastada do Brasil, com a perda de 937,15 hectares de floresta entre agosto de 2017 e julho de 2018, um aumento de 41% em relação ao período anterior. Além disso, o entorno da TI que não não se enquadra como área protegida, já perdeu mais de 70% de cobertura florestal, considerando um raio de 20 km.
As invasões no território dos Uru-Eu-Wau-Wau e Amondawa são anteriores à demarcação. Nas décadas de 1970 e 1980, o Incra estabeleceu assentamentos dentro da Terra Indígena. Os agricultores nunca foram indenizados, e o conflito permanece até hoje. Nessa região, entre os rios Nova Floresta e Jamari, o desmatamento é assombroso e já consumiu cerca 60% da floresta da região. Esse desmatamento é ilegal porque não está respaldado por nenhum tipo de licença dos órgãos ambientais competentes.
Em 2017, a Polícia Federal desarticulou uma quadrilha de grileiros acusadas de invadir, grilar e desmatar a Terra Indígena Uru-Eu-Wau-Wau. Os grileiros haviam dividido a terra em 328 lotes, que eram vendidos por até R$ 40 mil. Na ocasião, foram presas 14 pessoas, entre eles policiais militares acusados de informar os criminosos das operações de fiscalização, com antecedência.

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UMA REVISTA PRA CHAMAR DE NOSSA

Era novembro de 2014. Primeiro fim de semana. Plena campanha da Dilma. Fim de tarde na RPPN dele, a Linda Serra dos Topázios. Jaime e eu começamos a conversar sobre a falta que fazia termos acesso a um veículo independente e democrático de informação.

Resolvemos fundar o nosso. Um espaço não comercial, de resistência. Mais um trabalho de militância, voluntário, por suposto. Jaime propôs um jornal; eu, uma revista. O nome eu escolhi (ele queria Bacurau). Dividimos as tarefas. A capa ficou com ele, a linha editorial também.

Correr atrás da grana ficou por minha conta. A paleta de cores, depois de larga prosa, Jaime fechou questão – “nossas cores vão ser o vermelho e o amarelo, porque revista tem que ter cor de luta, cor vibrante” (eu queria verde-floresta). Na paz, acabei enfiando um branco.

Fizemos a primeira edição da Xapuri lá mesmo, na Reserva, em uma noite. Optamos por centrar na pauta socioambiental. Nossa primeira capa foi sobre os povos indígenas isolados do Acre: ‘Isolados, Bravos, Livres: Um Brasil Indígena por Conhecer”. Depois de tudo pronto, Jaime inventou de fazer uma outra boneca, “porque toda revista tem que ter número zero”.

Dessa vez finquei pé, ficamos com a capa indígena. Voltei pra Brasília com a boneca praticamente pronta e com a missão de dar um jeito de imprimir. Nos dias seguintes, o Jaime veio pra Formosa, pra convencer minha irmã Lúcia a revisar a revista, “de grátis”. Com a primeira revista impressa, a próxima tarefa foi montar o Conselho Editorial.

Jaime fez questão de visitar, explicar o projeto e convidar pessoalmente cada conselheiro e cada conselheira (até a doença agravar, nos seus últimos meses de vida, nunca abriu mão dessa tarefa). Daqui rumamos pra Goiânia, para convidar o arqueólogo Altair Sales Barbosa, nosso primeiro conselheiro. “O mais sabido de nóis,” segundo o Jaime.

Trilhamos uma linda jornada. Em 80 meses, Jaime fez questão de decidir, mensalmente, o tema da capa e, quase sempre, escrever ele mesmo. Às vezes, ligava pra falar da ótima ideia que teve, às vezes sumia e, no dia certo, lá vinha o texto pronto, impecável.

Na sexta-feira, 9 de julho, quando preparávamos a Xapuri 81, pela primeira vez em sete anos, ele me pediu para cuidar de tudo. Foi uma conversa triste, ele estava agoniado com os rumos da doença e com a tragédia que o Brasil enfrentava. Não falamos em morte, mas eu sabia que era o fim.

Hoje, cá estamos nós, sem as capas do Jaime, sem as pautas do Jaime, sem o linguajar do Jaime, sem o jaimês da Xapuri, mas na labuta, firmes na resistência. Mês sim, mês sim de novo, como você sonhava, Jaiminho, carcamos porva e, enfim, chegamos à nossa edição número 100. E, depois da Xapuri 100, como era desejo seu, a gente segue esperneando.

Fica tranquilo, camarada, que por aqui tá tudo direitim.

Zezé Weiss

P.S. Você que nos lê pode fortalecer nossa Revista fazendo uma assinatura: www.xapuri.info/assine ou doando qualquer valor pelo PIX: contato@xapuri.info. Gratidão!

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