Torres foi avisado sobre crise Yanomami, aponta ofícios da Funai
Documento enviado pela Funai em agosto de 2022 e divulgado, nesta sexta-feira (12), em matéria da UOL indica que Anderson Torres, ex-ministro da justiça, teve conhecimento de garimpo e suas consequências na Terra Indígena Yanomami.
Por Arthur Wentz e Silva/Revista Xapuri
No inicio do ano de 2023, o governo federal declarou situação de extrema urgência na Terra Indígena Yanomami. Vários direitos foram negligenciados, devido ao aumento expressivo de áreas de garimpo, dentre eles a exploração de menores e a desnutrição. O Estado brasileiro, sob iniciativa do governo Lula, teve de se articular em força tarefa para entender e buscar alternativas para resolução do conflito.
Para além das operações que envolvem o conjunto das instâncias do Estado, como ministérios e articulações entre os demais poderes, o Supremo Tribunal Federal, por meio do ministro Luís Roberto Barroso, abriu investigação para apuração dos efeitos lesivos deixados pelo governo Bolsonaro e outros crimes, em suspeita de Genocídio.
A crise humanitária do povo Yanomami revelou o descaso das políticas públicas nos últimos quatro anos. Conforme dados da BBC News, divulgados em fevereiro deste ano o numero de mortes por desnutrição da etnia cresceu em 311% no governo de Bolsonaro.
Conhecimento do Governo
Na manhã desta sexta-feira (12), UOL teve acesso a documentos que comprovam a omissão do governo de Jair Bolsonaro (PL). De modo geral, o documento identifica que havia conhecimento sobre os casos, entretanto negligência na apuração e resolução dos problemas. Nesse sentido, o Ministério da Justiça, sob o comando de Anderson Torres, recebeu e engavetou ofício da Fundação Nacional dos Povos Indígenas, Funai, relatando não só o garimpo ilegal na região, mas suas consequências. Além disso, o documento deixava claro se tratar de uma situação de gravidade, necessitando urgência em agir.
O ofício, datado em 12 de agosto de 2022, enviado pela Funai à Polícia Federal em Roraima (RR) e à Secretaria de Operações Integradas (Seopi) do Ministério da Justiça explicitava em detalhes a situação. No registro, Marcelo Xavier, presidente da Funai no período, apresentou registros fotográficos e cartográficos sobre a situação e declarou urgência na apuração dos fatos.
Já no dia 15 de agosto de 2022, o documento inicia trâmite na Seopi. E imediatamente no dia posterior (16/08), o diretor de operações solicita apurações das informações, alegando “a urgência que o caso requer”. Apesar disso, o caso não teve andamento e ficou sob o engavetamento e negligência do antigo governo.
Período eleitoral
No período mencionado se iniciava processo eleitoral no Brasil. Segundo o senador e ex-vice presidente, Hamilton Mourão (Republicanos-RS) não havia interesse em investir nas operações e demandas apresentadas como mecanismo de regulação do conflito: “Entrou período eleitoral, estava com grande dificuldade de recursos nos ministérios. Uma operação custa dinheiro porque tem que mobilizar aeronave, hora de voo, trazer gente de vários lugares do país. Ela não é barata”.
Defesa
Anderson Torres foi solto pelo STF recentemente, após ter sido preso por suposto envolvimento com os atos antidemocráticos do 8 de janeiro. Sua defesa ainda não se manifestou sobre a matéria e sobre o conhecimento dos documentos e fatos.
Arthur Wentz e Silva: Estagiário da Revista Xapuri Capa: Agência Brasil