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Turismo e cultura são aliados do bem comum

Turismo e são aliados do bem comum

Repasse de parte da receita do Sesc e Senac à Embratur é amparo mútuo e não deve nos transformar em inimigos

Por Marcelo Freixo/Revista Focus

Eu tenho profundo respeito pelo trabalho do Sesc e Senac. Por isso, jamais apoiaria qualquer proposta que afetasse as ações das entidades. O debate em torno da proposta de destinar 5% da arrecadação das instituições à Embratur, que será votada pelo Senado, não é sobre a relevância dos serviços prestados. É sobre orçamento, transparência e utilização de recursos públicos.

Em 2019, o governo Jair Bolsonaro (PL) modificou o status jurídico da Embratur, que deixou de ser autarquia federal e passou a ser uma empresa de serviço social autônomo. Com a iniciativa, a Embratur foi retirada do Orçamento da União e ficou sem uma fonte permanente de financiamento. Isso significa que, a partir do ano que vem, o não terá dinheiro para investir na atração de turistas estrangeiros. A Embratur vai ter que parar.

Para resolver o problema, solicitamos à Fundação Getulio Vargas (FGV) estudo de possíveis fontes de financiamento para a agência sobreviver. O resultado foi a sugestão de destinar 5% do que arrecadam Sesc e Senac para financiar ações de promoção do turismo internacional.

Segundo o portal da transparência do Sesc e Senac, as entidades arrecadam juntas R$ 9 bilhões ao ano. Em média, todos os anos sobram do orçamento R$ 2 bilhões. Os superávits acumulados fizeram com que as duas instituições tenham na conta R$ 15 bilhões. Sabe quanto será destinada ao turismo, de acordo com a proposta? R$ 447 milhões. É menos de 3% das sobras acumuladas no orçamento. Além disso, as entidades embolsam através de rendimentos com aluguel de imóveis e aplicações no mercado financeiro R$ 2 bilhões ao ano.

O que será destinado ao turismo é muito menor do que sobra todos os anos do orçamento. Não é verdade que unidades serão fechadas e ações do Sesc e Senac serão paralisadas. Esse debate precisa ser feito com a verdade, baseado nos números. Afinal, estamos tratando de dinheiro público, fruto de imposto compulsório recolhido pela Receita Federal.

A escolha das entidades para contribuir se deve ao fato de o setor de comércio e serviços ser o mais beneficiado pela vinda de visitantes estrangeiros. No primeiro trimestre deste ano, recebemos 2,3 milhões de visitantes de outros países. Eles gastaram em nosso país R$ 8,6 bilhões, gerando emprego e renda.

A promoção internacional do turismo é estratégica para o Brasil. Segundo a FGV, a cada R$ 1 investido em promoção, R$ 20 entram na economia do país. É dinheiro que favorece o comércio com o crescimento do consumo, a cultura com o aumento do público e o Sesc e o Senac, que vão arrecadar mais com a movimentação econômica.

O debate não é sobre o dinheiro que está chegando na cultura. É sobre o que não chega porque está aplicado no mercado imobiliário e financeiro. Não sou o primeiro a questionar o uso desses recursos. O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso (PSDB) fez o mesmo na criação da ApexBrasil, e o ministro Fernando Haddad (Fazenda), quando à frente da pasta da , também, ao destinar parte do dinheiro para o ensino profissionalizante gratuito. Divergências não devem nos transformar em inimigos.

Fonte: Revista Focus      Capa: Diário do Turismo/Reprodução


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UMA REVISTA PRA CHAMAR DE NOSSA

Era novembro de 2014. Primeiro fim de semana. Plena campanha da Dilma. Fim de tarde na RPPN dele, a Linda Serra dos Topázios. Jaime e eu começamos a conversar sobre a falta que fazia termos acesso a um veículo independente e democrático de informação.

Resolvemos fundar o nosso. Um espaço não comercial, de resistência. Mais um trabalho de militância, voluntário, por suposto. Jaime propôs um jornal; eu, uma revista. O nome eu escolhi (ele queria Bacurau). Dividimos as tarefas. A capa ficou com ele, a linha editorial também.

Correr atrás da grana ficou por minha conta. A paleta de cores, depois de larga prosa, Jaime fechou questão – “nossas cores vão ser o vermelho e o amarelo, porque revista tem que ter cor de luta, cor vibrante” (eu queria verde-floresta). Na paz, acabei enfiando um branco.

Fizemos a primeira edição da Xapuri lá mesmo, na Reserva, em uma noite. Optamos por centrar na pauta socioambiental. Nossa primeira capa foi sobre os povos indígenas isolados do Acre: ‘Isolados, Bravos, Livres: Um Brasil Indígena por Conhecer”. Depois de tudo pronto, Jaime inventou de fazer uma outra boneca, “porque toda revista tem que ter número zero”.

Dessa vez finquei pé, ficamos com a capa indígena. Voltei pra Brasília com a boneca praticamente pronta e com a missão de dar um jeito de imprimir. Nos dias seguintes, o Jaime veio pra Formosa, pra convencer minha irmã Lúcia a revisar a revista, “de grátis”. Com a primeira revista impressa, a próxima tarefa foi montar o Conselho Editorial.

Jaime fez questão de visitar, explicar o projeto e convidar pessoalmente cada conselheiro e cada conselheira (até a doença agravar, nos seus últimos meses de vida, nunca abriu mão dessa tarefa). Daqui rumamos pra Goiânia, para convidar o arqueólogo Altair Sales Barbosa, nosso primeiro conselheiro. “O mais sabido de nóis,” segundo o Jaime.

Trilhamos uma linda jornada. Em 80 meses, Jaime fez questão de decidir, mensalmente, o tema da capa e, quase sempre, escrever ele mesmo. Às vezes, ligava pra falar da ótima ideia que teve, às vezes sumia e, no dia certo, lá vinha o texto pronto, impecável.

Na sexta-feira, 9 de julho, quando preparávamos a Xapuri 81, pela primeira vez em sete anos, ele me pediu para cuidar de tudo. Foi uma conversa triste, ele estava agoniado com os rumos da doença e com a tragédia que o Brasil enfrentava. Não falamos em morte, mas eu sabia que era o fim.

Hoje, cá estamos nós, sem as capas do Jaime, sem as pautas do Jaime, sem o linguajar do Jaime, sem o jaimês da Xapuri, mas na labuta, firmes na resistência. Mês sim, mês sim de novo, como você sonhava, Jaiminho, carcamos porva e, enfim, chegamos à nossa edição número 100. E, depois da Xapuri 100, como era desejo seu, a gente segue esperneando.

Fica tranquilo, camarada, que por aqui tá tudo direitim.

Zezé Weiss

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