Um dia para não esquecer
Marcos Jorge Dias
O dia amanheceu chuvoso. Chuvinha fina, do tipo que molha os bobos que não acreditam no poder das águas que caem do céu.
Depois de percorrer 187 km na BR 317, que separam a capital, Rio Branco, da princesinha do Acre, Xapuri, finalmente chegamos ao entroncamento com a “estrada da borracha”. Da rodovia principal até a sede do município – famoso por ser o berço do ambientalista Chico Mendes, assassinado em 22 de dezembro de 1988 – foram mais 12 km de uma estrada secundária, ladeada por árvores-da-borracha.
Passar naquele túnel natural, formado por seringueiras (Hevea brasiliensis, conhecida pelos nomes de seringueira e árvore-da-borracha), foi como cruzar um portal do tempo e chegar à fictícia cidade de Macondo, do livro Cem Anos de Solidão, escrito pelo colombiano Gabriel José García Márquez.
O motivo de nossa viagem/aventura foi de organizar a Logística para um grupo teatral que virá de Brasília, encenar uma peça cujo tema é “Vozes da floresta”, e que fala da organização sindical e da luta dos seringueiros.
A apresentação será no período de 15 a 22 de dezembro, quando é realizada a “Semana Chico Mendes”, evento organizado pelos amigos e instituições do movimento social, como forma de manter viva a memória e os ideais do líder seringueiro.
A sede do Sindicato dos Trabalhadores Rurais, que Chico ajudou a criar e do qual era presidente quando foi morto, estava lá, atemporal. Tive receio de entrar e encontrar o falecido despachando com os seus companheiros de luta.
Resolvemos o que tínhamos ido fazer e retornamos a Rio Branco após o almoço. A chuva fina havia cessado e um sol tímido de fim de tarde nos acompanhou ao longo da estrada, como que tentando manter acessas as nossas lembranças daquela cidade perdida no tempo.
Marcos Jorge Dias – Jornalista e escritor acreano. Foto de capa: MapBio. Foto interna: Mídia Ninja.