UM QUERIDO COMPANHEIRO
Athos Pereira [foi] um dos meus melhores amigos, um dos melhores seres humanos que conheci. O maior sábio e pessoa culta que tive a oportunidade de conviver na vida.
José Antônio Dias Toffoli
No início, era conhecido como Goiano. Goiano pra cá, Goiano pra lá. Quando criança e adolescente, encontrava com ele meio bissextamente e não alcançava muito sua importância na vida da minha família e especialmente do meu pai, Odair. Goiano sempre foi um amigo muito estimado pela família toda e esteve presente em vários momentos festivos ou de atividade política; fosse em Porto Velho ou em qualquer outro canto. Percorreu algumas cidades de Rondônia defendendo o presidencialismo no plebiscito de 1993. Esteve na festa de 30 anos do casamento de Lúcia e Odair em 2000. Aos poucos, o Goiano se transformou em Athos. Testemunhar uma conversa entre Athos e Odair era delicioso. Era uma história saborosa seguida de outra mais fantástica (e inverossímil, por vezes). Lembro do Athos falando sobre as grandiosidades do Rio Tocantins, o maior rio do Brasil, já que ele “empurrava aquele tal de Amazonas”. E uma competição infinita sobre quem havia lido mais que o outro. Depois que comecei a morar em Brasília passei a encontrá-lo mais frequentemente. Esses encontros sempre tinham um quê de aula-espetáculo, pelo compromisso político, pelas referências, pela teatralidade na contação, pelo humor, pelo carinho. Sinto orgulho da única escolha possível da minha família quando a vida do Athos esteve em risco durante a ditadura: arrumar dinheiro para que ele pudesse deixar o Brasil. Privilégio define ter sido contemporâneo do Athos.
Chico Cordeiro
Minha lembrança mais antiga do Athos foi em uma manhã após uma vitória da seleção brasileira sobre a Argentina. Empolgado, ele disse que comprou o jornal só pra garantir que o Brasil tinha ganhado mesmo. Eu, ainda criança, fiquei impactado com uma pessoa que era capaz de comprar um jornal só pra comprovar uma vitória. Me marcou o gosto que aparentou ter pela leitura. A apuração da última eleição presidencial, que consagrou nossa volta depois de duros golpes e anos de agonia, foi outro momento emocionante com o Athos. Em um cenário tenso, quando a apuração apontou a virada do PT, me virei para ver a reação do companheiro. Vi um Athos emocionado, de punho cerrado, com os olhos molhados, como um rio caudaloso após uma alegre chuva de paz.
Gabriel Vilas Bôas Calaça
A partida do companheiro Athos Pereira para a eternidade nos entristeceu e sentimos saudades de sua presença. No entanto, ele nos deixou um legado de exemplo de luta pela democracia. Um militante de esquerda que lutou contra a ditadura militar e que, apesar das perseguições sofridas, nunca abandonou a luta. Em Formosa, tivemos a oportunidade de conviver mais de perto, organizando o PT municipal. Foi companheiro de todas as horas, contribuindo de forma intelectual e material para o fortalecimento do PT. Em sua memória, seguiremos organizando o nosso PT, tal como ele sonhava.
Jorge Antonini