Um ser vindo das trevas percorre o Plano Piloto para nos envergonhar diante do mundo, para espalhar o vírus de sua existência maligna
O que não muda é a fantasmagoria que emana do bípede de aparência humana que resolveu fazer de Brasília o palanque de sua necropolítica. Psicanalistas consultados pelo jornal Folha de S. Paulo, dias atrás, apontam sinais de paranoia na composição psíquica do ser espectral. Jornalistas que o conhecem desde os tempos em que era deputado federal lembram-se que era um político de quem os demais escarneciam dado o seu despreparo, a sua obsessão pelo mal e a ausência de projetos.
Todas as tentativas de explicar o surgimento da coisa estão muito aquém da coisa em si. Será ele a representação nítida, porque pública, porque poderosa, porque presidente de um país, do que de pior pode vir ao mundo como se humano fosse?
Na Sexta-Feira da Paixão de um mundo atormentado, como poucas vezes se viu na história da civilização, num país sempre admirado pela sua incomum composição de humanidades distintas – os povos originais, os escravos negros e os europeus, com todas as atrocidades praticadas por esses últimos –, num país que o mundo conhecia pela alegria indomável de seu povo, pela musicalidade de seus artistas extraordinários, e por tantos outros vívidos atributos, na 2020ª Sexta-Feira da Paixão do mundo ocidental e cristão, um ser vindo das trevas percorre o Plano Piloto de Lucio Costa para nos envergonhar diante do mundo, para espalhar o vírus de sua existência maligna.
Teremos que enterrar milhares de mortos, adoecer aos milhares, esticar esse tormento ao limite do insuportável, especialmente para os mais pobres, até que alguma coisa acima de nós, ou dentro de nós, surja para impedir que essa coisa continue a fingir que é humano e continue seu projeto de nos destruir – até que reste só ele, os descendentes tão execráveis quanto ele e os que ainda acreditam que ali há algo minimamente humano? Será?
* Este texto representa as opiniões e ideias do autor.