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Uma minoria branca racista domina o planeta

Uma minoria branca racista domina o planetal

Por Emir Sader

 

Uma minoria branca se apropriou do poder no mundo, através do colonialismo e do imperialismo, e domina a esmagadora maioria da humanidade, que não é branca. Basta somar a população da China e da Índia, dois países mais populosos do mundo, para se ter cerca de dois bilhões e meio de pessoas, todas de outras etnias.

Foi o surgimento do colonialismo que fez a Europa assumir o domínio econômico, político e militar do mundo. A Inglaterra invadiu a China – na guerra do ópio, entre 1839 e 1860 – que não tinha força militar para se defender, para introduzir o uso do ópio, para poder reequilibrar a balança comercial com a China, vendendo ópio produzido na China. Essa guerra interrompeu o ciclo de desenvolvimento da China, mais importante economia do mundo até então.

Naquele momento se deu o auge do colonialismo das potências europeias, que dividiram o mundo entre si. Nascia o eurocentrismo, a visão do mundo segundo a qual a Europa é o centro do mundo, seus valores os valores universais, com os outros povos considerados bárbaros.

O Ocidente instaura o Oriente, que agrupa da China ao Paquistão, do Oriente Médio ao Japão, isto é, o que não é Ocidente.  A partir daquele momento, os brancos passaram a dominar o mundo, valendo-se da escravidão. A África foi uma vítima privilegiada do colonialismo europeu.

Teve suas riquezas dilapidadas e sua população transformada em escravos para produzir para o consumo da população branca europeia. O Brasil se tornou o modelo de economia escravista.

Três séculos depois, quando a escravidão terminava, o Brasil foi o país das Américas que mais demorou para acabar com ela. Como não passamos de colônia a república, mas a monarquia, a escravidão continuou. Em 1850 a Lei de Terras legalizou a propriedade dos que se tinham apropriado delas, inclusive através da grilagem. Quando os escravos, já no final do século, se tornaram livres, já não havia mais terras para eles. Os negros foram perpetuados como pobres, no campo ou nas cidades.

Assumiram as funções menos qualificadas, sofrendo, da forma mais aguda, a desigualdade social no Brasil. Foram relegados a brasileiros de segunda classe. Excluídos sociais em todos os planos, ficaram identificados como os de menor nível educacional, de formação profissional, de poder econômico, sem possibilidade de ascensão social. Discriminados, desqualificados, se tornaram o modelo mesmo dos excluídos socialmente.

São 54% da população brasileira, mas são uma porcentagem muito maior entre os desempregados, os de trabalho precário, os presidiários, as vítimas privilegiadas da violência policial. O maior escândalo do Brasil é o genocídio de jovens negros, mortos diariamente pela polícia, de forma anônima, sem nome, sem famílias, sem rosto, como se fosse delegada à polícia a tarefa de eliminá-los, de excluí-los, prendê-los.

Em qualquer lugar para que se olhe na sociedade e no Estado brasileiros, são brancos que ocupam – com exceções para confirmar a regra – que ocupam os cargos de poder, de projeção, de formação da opinião pública, de poder econômico e político. No mundo também é assim. A Europa continua a se considerar o centro do mundo, a se definir como o continente civilizado, cercado de continentes bárbaros.

No entanto, não haverá democracia no mundo, nem no Brasil, enquanto houver racismo, enquanto os negros continuarem sendo cidadãos de segunda classe, marginalizados, discriminados, excluídos. Um país que tem uma maioria de negros, mas é governado por brancos, não é uma democracia.

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UMA REVISTA PRA CHAMAR DE NOSSA

Era novembro de 2014. Primeiro fim de semana. Plena campanha da Dilma. Fim de tarde na RPPN dele, a Linda Serra dos Topázios. Jaime e eu começamos a conversar sobre a falta que fazia termos acesso a um veículo independente e democrático de informação.

Resolvemos fundar o nosso. Um espaço não comercial, de resistência. Mais um trabalho de militância, voluntário, por suposto. Jaime propôs um jornal; eu, uma revista. O nome eu escolhi (ele queria Bacurau). Dividimos as tarefas. A capa ficou com ele, a linha editorial também.

Correr atrás da grana ficou por minha conta. A paleta de cores, depois de larga prosa, Jaime fechou questão – “nossas cores vão ser o vermelho e o amarelo, porque revista tem que ter cor de luta, cor vibrante” (eu queria verde-floresta). Na paz, acabei enfiando um branco.

Fizemos a primeira edição da Xapuri lá mesmo, na Reserva, em uma noite. Optamos por centrar na pauta socioambiental. Nossa primeira capa foi sobre os povos indígenas isolados do Acre: ‘Isolados, Bravos, Livres: Um Brasil Indígena por Conhecer”. Depois de tudo pronto, Jaime inventou de fazer uma outra boneca, “porque toda revista tem que ter número zero”.

Dessa vez finquei pé, ficamos com a capa indígena. Voltei pra Brasília com a boneca praticamente pronta e com a missão de dar um jeito de imprimir. Nos dias seguintes, o Jaime veio pra Formosa, pra convencer minha irmã Lúcia a revisar a revista, “de grátis”. Com a primeira revista impressa, a próxima tarefa foi montar o Conselho Editorial.

Jaime fez questão de visitar, explicar o projeto e convidar pessoalmente cada conselheiro e cada conselheira (até a doença agravar, nos seus últimos meses de vida, nunca abriu mão dessa tarefa). Daqui rumamos pra Goiânia, para convidar o arqueólogo Altair Sales Barbosa, nosso primeiro conselheiro. “O mais sabido de nóis,” segundo o Jaime.

Trilhamos uma linda jornada. Em 80 meses, Jaime fez questão de decidir, mensalmente, o tema da capa e, quase sempre, escrever ele mesmo. Às vezes, ligava pra falar da ótima ideia que teve, às vezes sumia e, no dia certo, lá vinha o texto pronto, impecável.

Na sexta-feira, 9 de julho, quando preparávamos a Xapuri 81, pela primeira vez em sete anos, ele me pediu para cuidar de tudo. Foi uma conversa triste, ele estava agoniado com os rumos da doença e com a tragédia que o Brasil enfrentava. Não falamos em morte, mas eu sabia que era o fim.

Hoje, cá estamos nós, sem as capas do Jaime, sem as pautas do Jaime, sem o linguajar do Jaime, sem o jaimês da Xapuri, mas na labuta, firmes na resistência. Mês sim, mês sim de novo, como você sonhava, Jaiminho, carcamos porva e, enfim, chegamos à nossa edição número 100. E, depois da Xapuri 100, como era desejo seu, a gente segue esperneando.

Fica tranquilo, camarada, que por aqui tá tudo direitim.

Zezé Weiss

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