Por Marcos Terena
Sou um dos filhos do Povo Terena, cujo nome original nos chamamos de “úty chané” e apesar dos muitos anos de contato ainda mantemos nossos costumes, nossas tradições culturais e espirituais, e principalmente nosso costume de conversar em nossa própria língua…
Nosso Povo fala a língua Aruak e somos quase quarenta mil pessoas no Estado. Muitos dos nossos antepassados ajudaram a construção da estrada de ferro da Noroeste do Brasil, quando ninguém queria varar o Pantanal de cobras e onças. Foram nossas mulheres que ajudaram a salvar centenas de vidas durante a fatídica Guerra da Triplice Aliança, e a cuidar dos filhos de fazendeiros e políticos da região. Nunca aceitamos qualquer tipo de esmola dada pela sociedade envolvente.
Até que chegaram os Missionários carentes de almas perdidas, falando de um Deus diferente e quando passamos a falar do nosso Ituko-Oviti, eles não aceitavam e assim muitos dos nossos viraram Católicos e Protestantes. Eles nos ensinaram a ler e escrever…
E então chegaram os políticos locais ensinando-nos em quem votar. Depois descobrimos que o voto era secreto e livre.
Com uma nova consciência e graças aos jovens estudantes e formados em Universidades, aprendemos que muitos fazendeiros em volta das Aldeias e que se diziam donos, não tinham documentos confiáveis e a Justiça e o Poder Público reconheceu isso, e então ao lutarmos pela recuperação territorial os que se elegiam com nossos votos, viraram nossos inimigos.
Neixipanó poné Hopuyte Xané. Ako akahavi….
Estamos às vésperas de uma eleição estratégica para nossa região pois em todos os municípios circunvizinhos, temos capacidade de eleger os Prefeitos e os Vereadores, mas alguns irmãos mais conscientes não querem mais somente eleger, mas serem eleitos…
E por que não??? Um Índio Prefeito de Aquidauana e mais cinco Vereadores…. Um Índio Prefeito e outros tantos Vereadores de Dois Irmãos do Buriti, Nioaque, Miranda, Dourados, Bodoquena, Anastãcio e Campo Grande…
Quando o Índio Terena afirmar nosso Espírito de luta como nossos Ancestrais faziam, saberemos afirmar nossa história e nossos valores, e nossa dignidade. Para isso é preciso reunir numa grande assembleia convocadas pelos mais velhos e sábios, os nossos Koexonoty Xane… e então, ninguém vai nos derrotar e com certeza haverá paz, justiça e espirito de ajuda mútua com a sociedade envolvente.
Marcos Terena – Tradição Xumono e Professor da Cátedra Indígena Internacional.