Moro produziu provas contra si mesmo?

Moro produziu provas contra si mesmo?

Tijolaço: Moro produziu provas contra si mesmo

Por Fernando Brito, do Tijolaço

Terminou, na tarde do dia 19 de junho, a longa audiência pública de na Comissão de e do Senado. A inquirição foi, como não poderia ser diferente, pobre, porque é paupérrima a composição do Senado da República.

Foram quase duas horas de algo que não poderia ser classificado de “ de uma nota só”, pela simples razão de que foram duas as teclas marteladas durante quase nove horas pelo ex-juiz, agora ministro, diante das revelações do The Intercept.

A primeira, a de que foram obra de um grupo de criminosos, organizado, em conluio com um site “sensacionalista”, com o objetivo de anular e comprometer a “Lava Jato”.

A segunda, de que os diálogos podem ser falsos mas, ainda assim, não trazem nada além de conteúdo de conversas “absolutamente normais” entre juiz e promotor, iguais às que poderiam  ter sido travadas entre juiz e defesa, por exemplo.

A menos que, como chefe da Polícia Federal, Moro tenha evidências de que se tratou de um “hacker” ou de um grupo organizado deles, a afirmação merece pouca credibilidade se desacompanhada das provas que ele, como ninguém mais, pode produzir.

 

É justamente à Polícia Federal e ao Ministério Público quem cabe investigar se há “um grupo de criminosos”  violando as comunicações telefônicas e telemáticas. E as investigações, se não cobertas por um procedimento judicial que lhes cubra com o sigilo, ao que se sabe, deveriam ser públicas.

Quanto ao sensacionalismo, é duro ver quem se alimentou dele durante quase cinco anos venha a criticá-lo.

A segunda parte da afirmação – sobre o tal conluio com o site “sensacionalista” – não tem o mínimo amparo legal: a divulgação de provinda de fonte é, sob a Constituição, é direito legal do jornalista, a quem não cabe responsabilidade pela . A garantia constitucional do sigilo da fonte é expressa e claríssima no constitucional e não se confunde, jamais, com a validade judicial de seu conteúdo.

Examinemos a outra tecla: os diálogos podem, sem outras alternativas: a) serem falsos; b) serem parcialmente verdadeiros, mas suprimidos ou enxertados e c) serem verazes. Quartus non datum, se me permitem o latinismo adaptado. A duas primeiras hipóteses podem ser descartadas com a simples dos textos.

Se, de má-fé, alguém fosse forjar ou deturpar diálogos, qual a razão de não se ter optado pelo uso de expressões que, de forma completamente explícita e chocantes, frisassem a parcialidade de Sérgio Moro ou a má-vontade do Ministério Público. Se é para inventar, fraudar, manipular, é claro que se optaria por algo explícito, não por deslizes éticos, morais e legais.

Bastaria inserir um, “aquele fdp” sobre para tornar as trocas de mensagens chocantes, o que seria o objetivo de uma fraude. Do contrário, é o mesmo que invadir o cofre de um banco e roubar um real. “É um hacker bacana?” , perguntou hoje Reinaldo Azevedo, insuspeito de ser da “quadrilha petista”?

A menos que fosse para obter o laurel de ter burlado o sistema de – e aí poderia ser até um hacker “adolescente com o rosto cheio de espinhas”, para uar a expressão de Moro – isso não faz sentido.

 

Resta, portanto, a alternativa de serem verazes.

E Moro, ao repetidamente dizer que “são coisas normais” está atestando isso, ao alegar que não se lembra dos diálogos.

Do contrário, diria: eu jamais seria capaz de manter uma conversa nestes termos.

Simples assim, porque são diálogos inadmissíveis entre um juiz imparcial e uma das partes. Não há discussão possível quando há aconselhamento, direto ou indireto, de uma das partes, o que está no texto da lei como causa de suspeição e, por isso, de nulidade prossessual.

A impressão que fica é a de que Sérgio Moro, em termos jurídicos, produziu provas contra si mesmo.

É inevitável que surjam trechos mais explícitos e se aparecerem e não são falsos. E, então, o que foi defesa hoje será autoincriminação.

Como escreveu o dramaturgo norte-americano Tennesse Willians, “a única coisa pior do que um mentiroso, é um mentiroso que também é hipócrita.” Porque será, cedo ou tarde, confrontado contra a pior das testemunhas de acusação: ele mesmo.

Fonte: Brasil 247

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UMA REVISTA PRA CHAMAR DE NOSSA

Era novembro de 2014. Primeiro fim de semana. Plena campanha da Dilma. Fim de tarde na RPPN dele, a Linda Serra dos Topázios. Jaime e eu começamos a conversar sobre a falta que fazia termos acesso a um veículo independente e democrático de informação.

Resolvemos fundar o nosso. Um espaço não comercial, de resistência. Mais um trabalho de militância, voluntário, por suposto. Jaime propôs um jornal; eu, uma revista. O nome eu escolhi (ele queria Bacurau). Dividimos as tarefas. A capa ficou com ele, a linha editorial também.

Correr atrás da grana ficou por minha conta. A paleta de cores, depois de larga prosa, Jaime fechou questão – “nossas cores vão ser o vermelho e o amarelo, porque revista tem que ter cor de luta, cor vibrante” (eu queria verde-floresta). Na paz, acabei enfiando um branco.

Fizemos a primeira edição da Xapuri lá mesmo, na Reserva, em uma noite. Optamos por centrar na pauta socioambiental. Nossa primeira capa foi sobre os povos indígenas isolados do Acre: ‘Isolados, Bravos, Livres: Um Brasil Indígena por Conhecer”. Depois de tudo pronto, Jaime inventou de fazer uma outra boneca, “porque toda revista tem que ter número zero”.

Dessa vez finquei pé, ficamos com a capa indígena. Voltei pra Brasília com a boneca praticamente pronta e com a missão de dar um jeito de imprimir. Nos dias seguintes, o Jaime veio pra Formosa, pra convencer minha irmã Lúcia a revisar a revista, “de grátis”. Com a primeira revista impressa, a próxima tarefa foi montar o Conselho Editorial.

Jaime fez questão de visitar, explicar o projeto e convidar pessoalmente cada conselheiro e cada conselheira (até a doença agravar, nos seus últimos meses de vida, nunca abriu mão dessa tarefa). Daqui rumamos pra Goiânia, para convidar o arqueólogo Altair Sales Barbosa, nosso primeiro conselheiro. “O mais sabido de nóis,” segundo o Jaime.

Trilhamos uma linda jornada. Em 80 meses, Jaime fez questão de decidir, mensalmente, o tema da capa e, quase sempre, escrever ele mesmo. Às vezes, ligava pra falar da ótima ideia que teve, às vezes sumia e, no dia certo, lá vinha o texto pronto, impecável.

Na sexta-feira, 9 de julho, quando preparávamos a Xapuri 81, pela primeira vez em sete anos, ele me pediu para cuidar de tudo. Foi uma conversa triste, ele estava agoniado com os rumos da doença e com a tragédia que o Brasil enfrentava. Não falamos em morte, mas eu sabia que era o fim.

Hoje, cá estamos nós, sem as capas do Jaime, sem as pautas do Jaime, sem o linguajar do Jaime, sem o jaimês da Xapuri, mas na labuta, firmes na resistência. Mês sim, mês sim de novo, como você sonhava, Jaiminho, carcamos porva e, enfim, chegamos à nossa edição número 100. E, depois da Xapuri 100, como era desejo seu, a gente segue esperneando.

Fica tranquilo, camarada, que por aqui tá tudo direitim.

Zezé Weiss

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