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“Vendo-te tão triste, indagamos: O que te falta? Chegar ao sol? Nós te levaremos…” Vaccari Livre

“Vendo-te tão triste, indagamos: O que te falta? Chegar ao sol? Nós te levaremos…” Vaccari Livre

João Vaccari, quatro anos e quatro meses depois, dois netos a mais e vários quilos a menos, saiu (enfim!) da cadeia em que se lhe colocaram os neo-colonialistas, pela ação política de alguns de seus juízes ativistas, mantidos pela coleira ideológica que limita o próprio ativismo à cor política exclusivamente. No ponto, diríamos: Dez em obediência imbecilizante (fé, cega fé, faca amolada!), zero de dogmática socializante.

Noves fora, a história registra: Ave Vaccari!

Feito o registro, vamos à pergunta que não cala: O que fizestes para sofrer um exílio não natural por tanto tempo? Qual teu pecado, amigo agnóstico?  Faz quatro anos e quatro meses que nos perguntamos isso e, na medida em que as possíveis respostas nos conduziam a muitos desvarios políticos, foi na paixão que conquistamos a luz, ouvindo um belíssimo tango de Piazzolla: Já sei que já não sou, passei, passou, venho das calçadas que o tempo não guardou

As tais calçadas que o tempo não guardou João, significam na tua Tanguédia de quatro anos e quatro meses, o fruto da necessidade que o coronelismo eletrônico tem de etiquetar, parindo premissas ilusionárias, colando rótulos que sustentem narrativas estabelecidas não pela história, mas pelos interesses políticos da imprensa familiar tupiniquim…

Essa necessidade, João, encontrou em você o adversário ideológico certo (gauche), que estava na função certa (tesoureiro do PT), na hora certa (sempre a mais triste; aquela em que entregamos nosso sistema legal à interesses políticos).

Essa conjuntura vadia toda pariu, além da cadela fascista, a sua cadeia João e, em grande medida, sua condição de Tesoureiro do Partido dos Trabalhadores amadrinhou o rótulo de sofrência que acomodou a narrativa previamente estabelecida – já sei que já não sou, passei, passou, venho das calçadas que o tempo não guardou

A princípio, eu que sempre ouvi Piantão acreditando que Piazzolla se referia ao resgate do que já teria sido (tempo, vida, espaço), mudei meu entendimento…  Deveras, a ascensão política de Macri em Argentina e o cadafalso social do , com a ascensão fascista de um estado de , me convenceram que Piazzolla canta e celebra o amanhã, antes de lamentar o ontem perdido no hoje estabelecido…

Piazzolla falava, sem saber, de nós outros, seus irmãos latinos, seus vizinhos do gigantesco quintal de segundo milênio, ainda mais do que de seu próprio povo.

Ah, o povo argentino, extraordinário! Cultua hábitos que o brasileiro perdeu; Buenos Aires está repleta de cafés, onde a literatura e as discussões políticas temperam o líquido consumido. Nós outros nos dividimos à cata de aventuras, onde passamos de país do futuro à colônia do presente e, essa colmatação, se deu à custa de nossas opções de conforto: Vá ao café e não leia qualquer livro – assista a uma novela…

Lá, eles elegeram Macri (não há perfeição) – mas acordaram, rapidamente!  Por aqui, não sabemos como, nem porquê, mas sabemos que o quanto caminhamos em direção à imbecilização dá a medida do quanto perdemos, perdendo na sarjeta do tempo, o pó da história…  E agora João? A recomposição tardia de tua liberdade recompõe o que, efetivamente?

Recompõe a narrativa que o coronelismo eletrônico colou na tua prisão, para estabelecer o esquadro narrativo da prisão de Lula? E teus netos, com quem você corria atrás do valente que fizera um ninho naquele gramado cinzento, serão compensados pelo tempo de convívio que o estado de direita lhes roubou?  Amigo, só a luta a vida muda – Piantão, Piantão; vendo-te tão triste, indagamos: O que te falta? Chegar ao sol? Nós te levaremos…

João dos Santos Gomes Filho – Advogado, no Brasil 247 

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UMA REVISTA PRA CHAMAR DE NOSSA

Era novembro de 2014. Primeiro fim de semana. Plena campanha da Dilma. Fim de tarde na RPPN dele, a Linda Serra dos Topázios. Jaime e eu começamos a conversar sobre a falta que fazia termos acesso a um veículo independente e democrático de informação.

Resolvemos fundar o nosso. Um espaço não comercial, de resistência. Mais um trabalho de militância, voluntário, por suposto. Jaime propôs um jornal; eu, uma revista. O nome eu escolhi (ele queria Bacurau). Dividimos as tarefas. A capa ficou com ele, a linha editorial também.

Correr atrás da grana ficou por minha conta. A paleta de cores, depois de larga prosa, Jaime fechou questão – “nossas cores vão ser o vermelho e o amarelo, porque revista tem que ter cor de luta, cor vibrante” (eu queria verde-floresta). Na paz, acabei enfiando um branco.

Fizemos a primeira edição da Xapuri lá mesmo, na Reserva, em uma noite. Optamos por centrar na pauta socioambiental. Nossa primeira capa foi sobre os povos indígenas isolados do Acre: ‘Isolados, Bravos, Livres: Um Brasil Indígena por Conhecer”. Depois de tudo pronto, Jaime inventou de fazer uma outra boneca, “porque toda revista tem que ter número zero”.

Dessa vez finquei pé, ficamos com a capa indígena. Voltei pra Brasília com a boneca praticamente pronta e com a missão de dar um jeito de imprimir. Nos dias seguintes, o Jaime veio pra Formosa, pra convencer minha irmã Lúcia a revisar a revista, “de grátis”. Com a primeira revista impressa, a próxima tarefa foi montar o Conselho Editorial.

Jaime fez questão de visitar, explicar o projeto e convidar pessoalmente cada conselheiro e cada conselheira (até a doença agravar, nos seus últimos meses de vida, nunca abriu mão dessa tarefa). Daqui rumamos pra Goiânia, para convidar o arqueólogo Altair Sales Barbosa, nosso primeiro conselheiro. “O mais sabido de nóis,” segundo o Jaime.

Trilhamos uma linda jornada. Em 80 meses, Jaime fez questão de decidir, mensalmente, o tema da capa e, quase sempre, escrever ele mesmo. Às vezes, ligava pra falar da ótima ideia que teve, às vezes sumia e, no dia certo, lá vinha o texto pronto, impecável.

Na sexta-feira, 9 de julho, quando preparávamos a Xapuri 81, pela primeira vez em sete anos, ele me pediu para cuidar de tudo. Foi uma conversa triste, ele estava agoniado com os rumos da doença e com a tragédia que o Brasil enfrentava. Não falamos em morte, mas eu sabia que era o fim.

Hoje, cá estamos nós, sem as capas do Jaime, sem as pautas do Jaime, sem o linguajar do Jaime, sem o jaimês da Xapuri, mas na labuta, firmes na resistência. Mês sim, mês sim de novo, como você sonhava, Jaiminho, carcamos porva e, enfim, chegamos à nossa edição número 100. E, depois da Xapuri 100, como era desejo seu, a gente segue esperneando.

Fica tranquilo, camarada, que por aqui tá tudo direitim.

Zezé Weiss

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