Vida e Povos do Cerrado

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Vida e Povos do Cerrado

Dos biomas brasileiros, o Cerrado com seus 2.036.448 km2 (mais de 20% do território nacional) abriga a savana mais rica do mundo em biodiversidade e uma das maiores diversidades de população humana do Brasil…

Por Zezé Weiss

O Cerrado guarda mais de 30% da biodiversidade brasileira, incluindo cerca de 15 mil espécies de plantas, das quais 11 mil espécies nativas catalogadas, 220 espécies de uso medicinal comprovado e 400 espécies utilizadas na recuperação de solos degradados.

No Cerrado vivem mais de 1,5 mil espécies de animais, dentre as quais 200 espécies de mamíferos conhecidas, 800 espécies de aves, 180 espécies de répteis, 150 espécies de anfíbios e 1,2 mil espécies de peixes. O Cerrado serve de refúgio para 13% das borboletas, 35% das abelhas e 23% dos cupins dos trópicos.

Cerca de 137 espécies de animais do Cerrado encontram-se ameaçadas de extinção. A anta, a capivara, o cachorro-do-mato-vinagre, o gato-maracajá, a jaguatirica, o lobo-guará, a onça-pintada, a suçuarana e o tamanduá-bandeira são alguns dos animais do Cerrado em risco de extinção.

6090049_xgaplusConvivendo com toda essa riqueza estão várias populações humanas, algumas delas presentes no Cerrado desde que o ser humano apareceu por essas terras, outras chegadas recentemente. Algumas produzindo por meio da agroecologia o suficiente para o sustento de suas famílias. Outras causando um estrago danado com o uso de agrotóxicos ou contribuindo com a formação desordenada das cidades.

5000661_xgaplusPor aqui, algumas populações tratando de manter o Cerrado como herdaram de seus primeiros habitantes, os povos indígenas Avá-Canoeiro, Karajá, Krahô, Tapuia, Xacriabá Xavante, Xerente, cultivando com cuidado e tirando dele apenas o necessário, preservando a tradição e a memória de nossos ancestrais indígenas, muitos já extintos. Outros ainda por aqui, porém em sua maioria confinados em Terras Indígenas (TIs) onde caçam, pescam, produzem artesanato de qualidade, mas também enfrentam conflitos agrários e dificuldades imensas de inclusão social.

9090179_xgaplusSão povos que resistem junto às outras populações tradicionais do Cerrado, formadas por pessoas negras ou miscigenadas – quilombolas, geraizeiros/as, vazanteiros/as, sertanejos/as, ribeirinhos/as que, segundo o Instituto Socioambiental (ISA) “aprenderam, ao longo de séculos, a retirar do Cerrado recursos para alimentação, utensílios e artesanato”. São povos que, a cada dia, lutam para não perder mais terras, mais natureza, mais valores culturais, mais vida. Povos que dependem da consciência das gerações presentes e futuras para continuarem preservando a biodiversidade do Cerrado brasileiro.

fontes:socioambiental.org | pequi.org.br | redecerrado.org.br | ispn.org.br

Fotos: Rui Faquini

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Era novembro de 2014. Primeiro fim de semana. Plena campanha da Dilma. Fim de tarde na RPPN dele, a Linda Serra dos Topázios. Jaime e eu começamos a conversar sobre a falta que fazia termos acesso a um veículo independente e democrático de informação. 

Resolvemos fundar o nosso.  Um espaço não comercial, de resistência. Mais um trabalho de militância, voluntário.

Jaime propôs um jornal; eu, uma revista. O nome eu escolhi (ele queria Bacurau). Dividimos as tarefas. A capa ficou com ele, a linha editorial também. Correr atrás da grana ficou por minha conta. A paleta de cores, depois de larga prosa, ele escolheu (eu queria verde-floresta).

Fizemos a primeira edição da Xapuri lá mesmo, na Reserva, em uma noite. Já voltei pra Brasília com a boneca praticamente pronta e com a missão de dar um jeito de imprimir.

Nos dias seguintes, o Jaime veio pra Formosa, pra convencer minha irmã Lúcia a revisar a revista, “de grátis”. A próxima tarefa foi montar o Conselho Editorial.

Jaime fez questão de visitar, explicar o projeto e convidar cada conselheiro/a pessoalmente (até a doença agravar, nos seus últimos meses de vida, nunca abriu mão dessa tarefa). Daqui rumamos pra Goiânia, para convidar o arqueólogo Altair Sales Barbosa, nosso primeiro conselheiro. “O mais sabido de nóis,” segundo o Jaime.

Trilhamos uma linda jornada. Em 80 meses, Jaime fez questão de decidir, mensalmente, o tema da capa e, quase sempre, escrever ele mesmo.

Na sexta-feira, 9 de julho, quando preparávamos a Xapuri 81, pela primeira vez em sete anos, ele me pediu para cuidar de tudo. Foi uma conversa triste, ele estava agoniado com os rumos da doença e com a tragédia que o Brasil enfrentava. Não falamos em morte, mas eu sabia que era o fim.

Outras 19 edições e cá estamos nós, sem as capas do Jaime, sem as pautas do Jaime, sem o linguajar do Jaime, sem o jaimês da Xapuri, mas na labuta, firmes na resistência. Mês sim, mês sim de novo, como você queria, Jaiminho, carcamos porva e,  enfim, chegamos à nossa edição número 100. Fica tranquilo, camarada, que por aqui tá tudo direitim.

Zezé Weiss

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