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A violência é detestável. Todo tipo de violência

A VIOLÊNCIA É DETESTÁVEL. TODO TIPO DE VIOLÊNCIA!

A VIOLÊNCIA É DETESTÁVEL. TODO TIPO DE VIOLÊNCIA!

A violência é detestável. Todo tipo de violência. É a imposição da forca física sobre o outro, sobre os outros. Costuma substituir o argumento, a persuasão, o convencimento.

Por Emir Sader 

Não por acaso quem apela a ela, quem a utiliza, carece do que propor, carece de capacidade de convencimento. E por isso apela para a força física, para a violência. Na política, nas relações pessoais, nas políticas de governo, a violência é detestável e tem que ser sistemática e vigorosamente combatida.

O século XX foi marcado, na sua primeira metade, por uma guerra prolongada – dividida em duas partes, que levou de roldão os países que se consideravam os mais civilizados do mundo, disputando o controle das regiões periféricas do capitalismo. Na segunda metade, parecia estabilizar-se um tanto os conflitos mundiais, a partir do equilíbrio entre duas superpotências.

Foi no final da guerra fria, quando os EUA se tornaram a única superpotência, que a violência no mundo, a multiplicação de epicentros de guerra se estendeu. E, ao mesmo tempo, a adoção de um modelo econômico – o neoliberal – que abandonou o reconhecimento dos direitos das pessoas e a distribuição de renda, que a crise social se estendeu por todo o mundo, com o aumento da pobreza, da desigualdade e da exclusão social.

Violência 247 sader

Os sistemas políticos, por sua vez, foram perdendo legitimidade, pelo abandono da atenção aos interesses da maioria pobre da população.

A violência urbana se incrementou, associada ao tráfico de drogas e às atitudes exacerbadas de muita gente, na relação com os outros – seja nas relações domésticas, seja nos jogos de futebol ou nos assaltos de rua.

A violência coletiva e a individual tem em comum o uso da força para se impor aos outros. Ela esteve presente na política brasileira durante a ditadura militar, em que as razões do golpe forma rapidamente transformadas no seu contrário – de defesa da democracia ameaçada em destruição da democracia -, com o regime abandonando seu discurso e apelando para a forca bruta.

Com as terríveis consequências que teve para o Brasil de todos os pontos de vista: aumento da desigualdade social, liquidação das organizações políticas e sindicais, intervenção no Congresso, no Judiciário, nas universidades, militarização do Estado, entre outras.

A partir da derrubada da Dilma Rousseff da presidência, o governo instalado não cumpriu com nenhuma das suas promessas – retomada da confiança e do crescimento econômico, fim da corrupção, instalação de um governo de “notáveis”, entre outras,- ficando reduzido a porcentagens de apoio mínimo. A aproximação das eleições foi gerando pânico entre os que participaram da derrubada da ex-presidente e se comprometeram com o governo Temer, que buscou candidatos de fora da política tradicional, até desembocar em nomes tradicionais, sem possibilidades de vitória, e no fortalecimento do candidato de extrema direita.

A possibilidade, cada vez mais real, do Lula ser candidato e, nesse caso, como favorito para voltar a ser presidente, desatou uma onda de reações cada vez mais violentas por parte da extrema direita. Abandonada a esperança que tinham da prisão do ex-presidente, passaram a se valer de agressões físicas.

É uma extrema direita que não tem nada a propor ao país, salvo o uso de mais violência, a extensão do direito de acesso a armas, além de medidas extremamente conservadoras em vários níveis. Sem conseguir apoio – o fracasso da ida do seu candidato, Jair Bolsonaro, a Curitiba, medir forças com Lula, confirma isso -, passaram a níveis mais agressivos, com disparos de tiros contra a Caravana do Lula ao Sul do país.

Esses ataques acenderam o sinal de alarme em vários setores, que se dão conta de como o fascismo foi deitando raízes em setores da classe média e que isso fez surgir grupos armadas de extrema direita, que colocam em risco qualquer tipo de convivência entre forças políticas diferenciadas.

Essa violência substitui os argumentos, o debate democrático, a contraposição de proposta distintas para o pais. Tem que ser combatida sistematicamente, para evitar que sua propagação leve a que a crise social existente se desdobre em enfrentamentos armados generalizados, com atentados e outras formas de ação violenta, que poderiam levar o país por um caminho sem retorno de desagregação social.

04/04/2018

Violencia caravana de lula rs sader
Fotos: Ataques contra a Caravana d Lula no Sul do Brasil/Brasil 247

Fonte: Brasil 247

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UMA REVISTA PRA CHAMAR DE NOSSA

Era novembro de 2014. Primeiro fim de semana. Plena campanha da Dilma. Fim de tarde na RPPN dele, a Linda Serra dos Topázios. Jaime e eu começamos a conversar sobre a falta que fazia termos acesso a um veículo independente e democrático de informação.

Resolvemos fundar o nosso. Um espaço não comercial, de resistência. Mais um trabalho de militância, voluntário, por suposto. Jaime propôs um jornal; eu, uma revista. O nome eu escolhi (ele queria Bacurau). Dividimos as tarefas. A capa ficou com ele, a linha editorial também.

Correr atrás da grana ficou por minha conta. A paleta de cores, depois de larga prosa, Jaime fechou questão – “nossas cores vão ser o vermelho e o amarelo, porque revista tem que ter cor de luta, cor vibrante” (eu queria verde-floresta). Na paz, acabei enfiando um branco.

Fizemos a primeira edição da Xapuri lá mesmo, na Reserva, em uma noite. Optamos por centrar na pauta socioambiental. Nossa primeira capa foi sobre os povos indígenas isolados do Acre: ‘Isolados, Bravos, Livres: Um Brasil Indígena por Conhecer”. Depois de tudo pronto, Jaime inventou de fazer uma outra boneca, “porque toda revista tem que ter número zero”.

Dessa vez finquei pé, ficamos com a capa indígena. Voltei pra Brasília com a boneca praticamente pronta e com a missão de dar um jeito de imprimir. Nos dias seguintes, o Jaime veio pra Formosa, pra convencer minha irmã Lúcia a revisar a revista, “de grátis”. Com a primeira revista impressa, a próxima tarefa foi montar o Conselho Editorial.

Jaime fez questão de visitar, explicar o projeto e convidar pessoalmente cada conselheiro e cada conselheira (até a doença agravar, nos seus últimos meses de vida, nunca abriu mão dessa tarefa). Daqui rumamos pra Goiânia, para convidar o arqueólogo Altair Sales Barbosa, nosso primeiro conselheiro. “O mais sabido de nóis,” segundo o Jaime.

Trilhamos uma linda jornada. Em 80 meses, Jaime fez questão de decidir, mensalmente, o tema da capa e, quase sempre, escrever ele mesmo. Às vezes, ligava pra falar da ótima ideia que teve, às vezes sumia e, no dia certo, lá vinha o texto pronto, impecável.

Na sexta-feira, 9 de julho, quando preparávamos a Xapuri 81, pela primeira vez em sete anos, ele me pediu para cuidar de tudo. Foi uma conversa triste, ele estava agoniado com os rumos da doença e com a tragédia que o Brasil enfrentava. Não falamos em morte, mas eu sabia que era o fim.

Hoje, cá estamos nós, sem as capas do Jaime, sem as pautas do Jaime, sem o linguajar do Jaime, sem o jaimês da Xapuri, mas na labuta, firmes na resistência. Mês sim, mês sim de novo, como você sonhava, Jaiminho, carcamos porva e, enfim, chegamos à nossa edição número 100. E, depois da Xapuri 100, como era desejo seu, a gente segue esperneando.

Fica tranquilo, camarada, que por aqui tá tudo direitim.

Zezé Weiss

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