#VazaJato: MoroGate prova o próprio veneno

#VazaJato: MoroGate prova o próprio veneno

Por: Florestan Fernandes Júnior/brasil247

“Lava Jato, eu acredito!”. Esta frase, até pouco , podia ser vista em carros, geralmente importados, nos congestionamentos dos grandes centros urbanos do país. O slogan sempre me incomodou. Por que a operação comandada pela do Paraná precisava tanto se autoproclamar imparcial?

A frase servia para reforçar o do juiz Sergio Moro e dos métodos da força-tarefa, que constrangia testemunhas e atropelava prazos e ritos processuais. As primeiras conversas entre Moro e o procurador federal Deltan Dallagnol, divulgadas pelo jornalista norte-americano Glenn Greenwald e sua equipe do Intercept , desnudam a possível farsa judicial que condenou e tirou o ex- da disputa eleitoral no ano passado.

Desde o início do processo, a sentença condenatória já estava no bolso do juiz. Essas novas revelações só reforçam a certeza daqueles que, como eu, desde o início duvidavam da imparcialidade do magistrado. Uma certeza que ficava evidente à medida que o processo avançava rapidamente, inclusive pelas declarações extemporâneas de políticos e jornalistas que, privando da intimidade com Moro, anunciavam categoricamente que seria condenado e preso bem antes da sentença ser proferida. Esses comentários eram feitos abertamente em rodas de “notáveis” formadas em jantares e premiações nas quais Moro era o principal homenageado.

Tudo isso aconteceu num momento em que o processo ainda dependia de análise das provas apresentadas pela defesa do ex-presidente. Chega a ser divertido ver Moro e Dallagnol sendo vítimas agora daquilo que mais fizeram nos últimos três anos: o vazamento de delações premiadas sem provas e até de áudios de conversas privadas da presidenta com o ex-presidente Lula.

Mais do que a destruição de reputações, de pessoas humilhadas pelas prisões preventivas que se alongavam por meses e até anos no intuito de forçar delações que melhor se encaixavam nas peças acusatórias formatadas pela Lava Jato, esse modus operandi levou à destruição da do país. Exemplo disso é a paralisação nos últimos anos de todas as obras tocadas pelas grandes empreiteiras.

Da noite para o dia, milhares de operários e engenheiros da construção civil ficaram desempregados. Nossas empreiteiras perderam também o mercado internacional no qual realizavam grande obras, como a construção de portos e aeroportos. O efeito cascata foi imediato, paralisando toda a cadeia produtiva do setor e atingindo em cheio a produção de ferro, cimento, tijolos, pedras e areia, entre outros.

O enfraquecimento da Petrobras provocou prejuízos ainda não dimensionados, mas que abriu as portas para o leilão e a entrega do nosso pré-sal às poderosas Shell e Chevron. A Lava Jato, sem dú, teve um enorme impacto (negativo) social e econômico para o país. Sedimentou ainda o caminho para a chegada da ao poder, que presenteou Moro com um ministério.

A partir desta semana, dezenas de habeas corpus deverão ser impetrados em favor de possíveis vítimas da Lava Jato. Fatos novos podem surgir caso delatores se sintam confortáveis para revelar o que mantêm em segredo e que pode comprometer ainda mais a operação que abalou o Brasil.

Fonte: Brasil247


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UMA REVISTA PRA CHAMAR DE NOSSA

Era novembro de 2014. Primeiro fim de semana. Plena campanha da Dilma. Fim de tarde na RPPN dele, a Linda Serra dos Topázios. Jaime e eu começamos a conversar sobre a falta que fazia termos acesso a um veículo independente e democrático de informação.

Resolvemos fundar o nosso. Um espaço não comercial, de resistência. Mais um trabalho de militância, voluntário, por suposto. Jaime propôs um jornal; eu, uma revista. O nome eu escolhi (ele queria Bacurau). Dividimos as tarefas. A capa ficou com ele, a linha editorial também.

Correr atrás da grana ficou por minha conta. A paleta de cores, depois de larga prosa, Jaime fechou questão – “nossas cores vão ser o vermelho e o amarelo, porque revista tem que ter cor de luta, cor vibrante” (eu queria verde-floresta). Na paz, acabei enfiando um branco.

Fizemos a primeira edição da Xapuri lá mesmo, na Reserva, em uma noite. Optamos por centrar na pauta socioambiental. Nossa primeira capa foi sobre os povos indígenas isolados do Acre: ‘Isolados, Bravos, Livres: Um Brasil Indígena por Conhecer”. Depois de tudo pronto, Jaime inventou de fazer uma outra boneca, “porque toda revista tem que ter número zero”.

Dessa vez finquei pé, ficamos com a capa indígena. Voltei pra Brasília com a boneca praticamente pronta e com a missão de dar um jeito de imprimir. Nos dias seguintes, o Jaime veio pra Formosa, pra convencer minha irmã Lúcia a revisar a revista, “de grátis”. Com a primeira revista impressa, a próxima tarefa foi montar o Conselho Editorial.

Jaime fez questão de visitar, explicar o projeto e convidar pessoalmente cada conselheiro e cada conselheira (até a doença agravar, nos seus últimos meses de vida, nunca abriu mão dessa tarefa). Daqui rumamos pra Goiânia, para convidar o arqueólogo Altair Sales Barbosa, nosso primeiro conselheiro. “O mais sabido de nóis,” segundo o Jaime.

Trilhamos uma linda jornada. Em 80 meses, Jaime fez questão de decidir, mensalmente, o tema da capa e, quase sempre, escrever ele mesmo. Às vezes, ligava pra falar da ótima ideia que teve, às vezes sumia e, no dia certo, lá vinha o texto pronto, impecável.

Na sexta-feira, 9 de julho, quando preparávamos a Xapuri 81, pela primeira vez em sete anos, ele me pediu para cuidar de tudo. Foi uma conversa triste, ele estava agoniado com os rumos da doença e com a tragédia que o Brasil enfrentava. Não falamos em morte, mas eu sabia que era o fim.

Hoje, cá estamos nós, sem as capas do Jaime, sem as pautas do Jaime, sem o linguajar do Jaime, sem o jaimês da Xapuri, mas na labuta, firmes na resistência. Mês sim, mês sim de novo, como você sonhava, Jaiminho, carcamos porva e, enfim, chegamos à nossa edição número 100. E, depois da Xapuri 100, como era desejo seu, a gente segue esperneando.

Fica tranquilo, camarada, que por aqui tá tudo direitim.

Zezé Weiss

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